Testar é bom, mas não o suficiente

OMS anunciou esforço para disponibilizar 120 milhões de testes para países pobres. Nesse estágio da pandemia, porém, isolar infectados e localizar contatos é fundamental para que controle seja bem-sucedido

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A OMS anunciou ontem que vai disponibilizar cerca de 120 milhões de testes rápidos para países de baixa renda. Não se trata dos testes rápidos que identificam anticorpos, como estamos acostumados a ver, mas sim novos exames fabricados pela Abbott e pela SD Biosensor conhecidos como ‘testes rápidos de antígenos’.

Eles receberam recentemente aprovação para uso emergencial e detectam o vírus em cerca de 15 minutos – em comparação com horas ou dias necessários para processar um teste PCR.

Seu custo também é mais baixo, de cerca de US$ 5 a unidade. A ideia é que fique mais fácil e barato identificar infectados em ambientes rurais ou pobres, onde em geral não há acesso a fácil a laboratórios.

Mas 120 milhões ainda são um número muito inferior ao necessário, segundo o organismo. Nos Estados Unidos, Donald Trump anunicou que vai mandar cem milhões desse tipo de teste para todo o país. Por lá, os governadores vão decidir como usá-los, mas a Casa Branca sugere sua implantação para ajudar na reabertura das escolas.

Mas apenas testar não é suficiente, nem garantia de um bom enfrentamento ao vírus. No começo da pandemia (quando os estes eram escassos e os países competiam para conseguir comprá-los), o lema de que as nações deveriam “testar, testar, testar” foi repetido à exaustão, mas acabou se esvaziando um pouco de seu significado.

Para localizar e dimensionar surtos, testes são importantes. Para conter o espalhamento do vírus, porém, eles pouco servem se a identificação dos infectados não estiver atrelada ao seu isolamento, bem como à localização de seus contatos. Na Wired, a repórter Christie Aschwanden trata disso com a provocadora manchete ‘Testes não vão nos salvar’ da covid-19. 

Isso porque a premissa de que pessoas com diagnóstico positivo vão entrar em autoisolamento não é necessariamente verdadeira. Mesmo que fosse possível testar toda a população periodicamente para identificar novos casos, muitas pessoas não têm condições materiais (financeiras, mesmo), de enfrentar duas semanas em casa. Outras simplesmente não levam a sério a ameaça da covid-19. 

E, se parte da população nem acredita que essa pandemia seja real, “como  fazer com que eles se testem todos os dias?” questiona Michael Osterholm, epidemiologista e diretor do Centro de Pesquisa e Política de Doenças Infecciosas da Universidade de Minnesota.

No Reino Unido, pode vir a ser estabelecida uma multa de até R$ 71 mil quem não respeitar isolamento. O motivo? Um estudo encomendado pelo governo constatou que apenas 18% das pessoas com sintomas de covid-19 se isolaram.

Um exemplo documentado dos danos que isso gera veio da Universidade de Illinois, nos EUA, que colocou em prática um grande plano de volta às aulas presenciais baseado na testagem periódica de todos os seus 40 mil alunos. Só que vários dos que recebiam diagnóstico positivo não fizeram quarentena e continuaram indo a festas, por exemplo. Houve um grande surto.

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