Sem saúde, com lobby

Criação de estrutura mínima de proteção à saúde foi barrada nos EUA por caríssimo lobby médico que ligava reforma ao comunismo

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Uma interessante reportagem da BBC conta por que os Estados Unidos se tornaram a única potência a não criar um esquema abrangente de seguro de saúde, como existe na Alemanha ou na França, tampouco um sistema público, como existe no Reino Unido. Não foi por falta de proposta: desde 1915, políticos progressistas tentavam emplacar esquemas de seguro para algumas categorias de trabalhadores.

Com o fim da Segunda Guerra, o presidente Harry Truman chegou a enviar ao Congresso uma proposta que tornaria o seguro obrigatório para quem estava no mercado formal de trabalho e suas famílias, algo que eles calculava que poderia beneficiar 110 milhões de pessoas.

Mas o lobby dos médicos não deixou o plano prosperar em 1946 e também da segunda vez em que foi apresentado, quando havia maioria democrata no Congresso, em 1949.

Nesse ano, a Associação Médica Americana contratou uma empresa de relações públicas que disseminou a ideia de que o segura nacional de saúde era uma ideia defendida por Lênin como “chave para o arco do Estado socialista”. 

“A verdade é que Lênin nunca disse isso, o que não significa que essa citação tenha sido amplamente usada”, explica Jonathan Oberlander, professor de medicina social da Universidade da Carolina do Norte, na matéria. “Portanto, grande parte da campanha – que foi a campanha de lobby mais cara da época – se concentrou na ideia de transformar o debate sobre saúde em socialismo“.

Como resultado, a coalizão conservadora, formada entre republicanos e democratas do Sul do país, barrou este e outros projetos. Até hoje, qualquer tentativa de racionalizar a oferta de serviços de saúde, descrito por Oberlander como um “não sistema” e uma “manta de retalhos” é associada por republicanos e uma parcela da população a ideias radicais de esquerda.

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