Resenha Semanal
29 de novembro a 6 de dezembro 2019. O massacre dos jovens de Paraisópolis imprime urgência na necessidade de barrar o gradual avanço do arbítrio. A lei do Excludente de Ilicitude não passou no Congresso, mas o Pacote Anticrime, desidratado, foi aprovado.
Publicado 06/12/2019 às 16:20 - Atualizado 06/12/2019 às 19:55
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A semana foi marcada pela sombra do massacre de Paraisópolis, onde a PM causou a morte de 9 jovens.
No contexto do punitivismo, do excludente de ilicitude e da guerra social, a ação caiu com um estrondo: a necropolítica não é um termo abstrato, é uma prática de Estado do agora. A sensação geral é a do proverbial sapo na panela – a água vai fervendo devagar e o animal não percebe o perigo e morre cozido. O arbítrio vai avançando pouco a pouco, e a cultura da morte nos escalões inferiores das forças de segurança vai achando aval na hierarquia. É tudo muito real.
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Fui a manifestação de protesto de coletivos negros e caiu a ficha da urgência do perigo que corremos. Não dá mais para achar que não vai chegar na esquerda de classe média. Essa licença para matar já existe informalmente, já é estrutural nas “rigorosas investigações” que levam a nada.
ENIGMA VISUAL
Deslize os quadrados para formar o rosto daquele responsável pelo massacre de Paraisópolis
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É incrível como tem um procedimento padrão para esse tipo de situação: a imprensa logo compra e divulga a versão da polícia, passando pano para o governador, a quem não pressionam. Muita gente se apressa e defende a atuação da Polícia, culpando as vítimas ou aqueles que a criticam. Como o escroto cantor Roger. Ele afirmou que a PM foi agredida primeiro e assim reagiu com justeza. E só depois quando tem imagens incontornáveis é que se tenta diminuir os danos e abafar a seriedade e alcance da coisa.
Foi nas redes que republicaram manchete da Folha de 2018, quando o governador Doria afirmou que “A partir de janeiro, polícia vai atirar para matar“, em sintonia com seu eleitorado de direita que busca cultivar.
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Logo depois do crime, Doria disse que nada de errado tinha acontecido e que não iria mudar sua politica de segurança, que inclui uma campanha pesada de violência contra a comunidade de Paraisópolis: a PM opera sua vingança contra a favela depois que um policial foi morto na região, faz um mês.
As imagens feitas por moradores são pesadas, especialmente aquela do PM que agride, rindo, jovens que passam correndo a seu lado.
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Doria foi forçado a admitir o crime – dias depois. Em 2017, o comandante da Rota (Rondas Ostensivas Tobias Aguiar), Ricardo Augusto Nascimento de Mello Araújo defendeu abordagens diferentes em áreas ricas, como o bairro dos Jardins, e nas periferias. Assim foi em Paraisópolis.
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Repercutiu o crescimento econômico acima do esperado, algo em torno de 1%. Foi o suficiente para celebrações da imprensa, que usa muito o termo “sinais de retomada”. Mas o Financial Times detectou erros nos cálculos do governo, que admitiu o equívoco e terá de rever os números…
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A imprensa no passado recente fez barulhento auê com os PIBs de Dilma, muito mais altos… A crise era descrita como descalabro, e vale lembrar que ela caiu pelo “conjunto da obra”.
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Falando em impeachment, o zumzum a respeito do impedimento de Bolsonaro não cessa: empresas, políticos aliados, jornalões… cada hora é um falando do impeachment. Mas pesquisas mostram que o eleitorado fiel de Bolsonaro perfaz uns 30%, o suficiente para vencer todos os rivais.
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O embaraço do presidente foi colossal quando o presidente americano Donald Trump escreveu que vai impor tarifas ao aço brasileiro, acusando o Brasil de especular com o valor de real e assim merecer punição. O governo ficou atônito e sem palavras. Kkk
As nomeações atrozes e ofensivas continuam, no jogo de cadeiras musicais que são os cargos no governo Bolsonaro.
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Dante Mantovani é o novo presidente da FUNARTE, para quem “o rock de Elvis Presley e dos Beatles fariam parte de um plano para vencer os Estados Unidos e o capitalismo burguês a partir da destruição da moral da juventude e das famílias”. Afirmou que “o rock ativa a droga, que ativa o sexo, que ativa a indústria do aborto. E a indústria do aborto alimenta uma coisa mais pesada, que é o satanismo”.
Michel Temer não quis comentar.
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Já Rafael Nogueira, o escolhido para comandar a Biblioteca Nacional, é seguidor de Olavo de Carvalho:“Livros didáticos estão cheios de músicas de Caetano Veloso, Gabriel O Pensador, Legião Urbana. Depois não sabem por que está todo mundo analfabeto”. Ainda mais: “Cadê nossa literatura? Quem é o herdeiro de Machado de Assis? Cadê a nossa filosofia? Espero que o legado de Olavo de Carvalho resolva”. Espera sentado…
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Sérgio Nascimento de Camargo, nomeado para a Fundação Palmares, entidade responsável por promover a cultura de matriz africana ataca o movimento negro e não acredita que o racismo estrutural seja um problema. Dias depois, a Justiça suspendeu a nomeação, pois as declarações de Camargo ofenderam justamente o público que deve ser protegido pelo órgão que ele presidiria.
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Repercutiu muito a abertura de investigações para apurar suspeitas de pagamentos ilícitos ao procurador Januário Paludo, que atua na Lava Jato desde o início. Dario Messer, o mega-doleiro, confirmou os pagamentos.
É uma bomba a propina chegar tão alto na Lava Jato. Faltam, é claro, as manchetes espetaculosas, o julgamento pelo noticiário e os vazamentos que choveram em cima dos desafetos da operação de Sérgio Moro.
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O cabaré canhestro do colapso do ex-partido do presidente, o PSL, continua em seu circo de horrores públicos.
A deputada Joice Hasselmann denunciou, em depoimento na CIP das Fake News, um esquema de ataques digitais coordenados a partir do governo: o “Gabinete do Ódio”. Afirmou que Eduardo Bolsonaro usa dinheiro público (R$491 mil) para pagar o Gabinete. Revelou que essa rede possue 1,87 milhões de robôs.
Mas, no fim, os dados apresentados por Hasselmann configuram apenas “meias-revelações”. Nada que realmente derrubasse o governo ou mesmo prejudicasse os filhos. A oposição foi criticada por sua atuação apagada.
Foi o barraco entre Joice e Carla Zambelli que coloriu o noticiário: muita baixaria e despeito.
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A baixaria acometeu também a ALESP, a Assembléia Estadual de São Paulo. O deputado Arthur “Mamãe Falei” do MBL ofendeu sindicalistas e servidores municipais, causando uma briga de socos no plenário Ele deveria ser severamente punido por quebra de decoro, mas ele e o MBL já capitalizaram o fato e fizeram uma camiseta com uma imagem do deputado de punhos em riste. Legenda: “Ficou ofendidinho?”
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O Congresso passou o novo orçamento do Fundo Eleitoral, que retira R$ 1,7 bilhão em recursos da Educação e Saúde para financiar campanhas políticas…
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O ministro da Educação Weintraub não se pronunciou… Mas as despesas militares estão blindadas e não foram tocadas.
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Passou o pacote Anticrime de Sérgio Moro. Passou desidratado e sem alguns de seus piores elementos, por exemplo o excludente de ilicitude. Mas a oposição acabou votando nessa versão atenuada do pacote, que é nocivo mesmo assim. Os parlamentares se defenderam das críticas da militância dizendo que ou era essa versão ou era a pior de todas, que conseguiram barrar.
O noticiário deu que Moro foi derrotado mas que ninguém ganhou.
Foi aprovada a Previdência especial dos militares, extensiva a PMs e bombeiros militares, com várias vantagens e benefícios negados à sociedade em geral.
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Fez um ano do caso Queiroz…
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Luiz Molição, o hacker acusado de acessar os celulares de procuradores da Lava Jato, assinou delação premiada e inocentou Glenn de ter encomendado ou pago pela informação publicada na Vaza Jato, ao contrário do que afirmavam os esgotos de direita: cadê o “tic-tac” agora…?.
A Colômbia acende com greves gerais, o Chile não apaga – com as mulheres! – e a França se mobiliza contra reformas na sua Previdência.
UFA!
Todos os resultados dos enigmas:
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