Milton Santos nos mapas: por uma outra localização

(Não) deu no Google Maps!

Reflexões a partir do “rebatizado” de importante avenida de Salvador (BA), ignorado pelo Google Maps. Afinal, quem dita as atualizações? Qual é o “pulo do gato” das ferramentas livres na corrida infoespacial? O que diria o geógrafo homenageado sobre mapas públicos?

Recentemente diferentes veículos de jornalismo e comunicação institucional celebraram a mudança de nome da Avenida Adhemar de Barros para Avenida Milton Santos em Salvador, Bahia. A campanha de homenagem ao geógrafo, internacionalmente reconhecido como fundador da “Geografia Crítica”, foi uma iniciativa oficializada pela Câmara Municipal de Salvador.

No entanto, no mais famoso mapa do mundo, a lei local não é atualizada conforme as notícias anunciam: o Google Maps ainda mantém a nomeação anterior. Por outro lado, na plataforma de mapas online OpenStreetMap, a via de mão dupla está nomeada como “Milton Santos”.

Mas afinal, quem dita essa atualização dos mapas conforme a lei?

Quando se trata legalmente de mapas online, existem dois tipos de colaboração de usuários ao sistema de informações geográficas. Na modalidade de licença opensource, os voluntários podem editar o mapa livremente no sistema do OpenStreetMap. Na modalidade copyright, os funcionários podem editar o mapa conforme sugestões de usuários ao sistema do Google Maps.

Quando fui informado da existência de uma placa afixada da Avenida Milton Santos, ela não existia no mapa, então fiz questão de colaborar com essa informação via Google Maps e OpenStreetMap. Conforme as figuras 1 e 2:

Modo editor do OpenStreetMap permite que usuário modifique nomes e insira objetos no mapa
Modo usuário do Google Maps é a opção para sugerir edições aos funcionários que moderam o mapa

Além de pesquisar sobre Geoweb, também sou cidadão e pesquisador inclinado ao método científico que inspirou Milton Santos: a dialética. Mapear a realidade do espaço enquanto ela é transformada é o que possibilita o OpenStreetMap “passar na frente” do Google Maps na “corrida infoespacial” em condições mais adversas, desde a mudança de nome de uma via pública até a necessidade de mapear uma cidade em um terremoto.

Mapear é um exercício dialético – e essa homenagem ao geógrafo brasileiro, em especial, serve como um exercício de reflexão sobre a memória e o poder local para a regulação de plataformas de usos e regulações globais.

O que será que Milton diria dos mapas online se estivesse vivo? Seria ele um entusiasta entre contraespecialistas brasileiros e um defensor dos mapas públicos do Brasil? A resposta ecoa das páginas e se materializa nas possibilidades das práticas por uma outra localização para uma outra globalização.

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