Ao louvar alta do dólar e fim da “festa danada” das domésticas, Paulo Guedes expressa como nossa elite é nostálgica da escravidão. Trabalhadores, sempre podados da “audácia” de sonhar, são fadados a desculpar-se ou agradecer pela migalhas
Cicatrizes, de Miroslav Terzic, entrelaça dimensão social e íntima: uma costureira que há 18 saiu da maternidade sem o filho e os roubos de bebês na guerra da Bósnia. Entre sussurros e silêncios, lacunas deliberadas — até na composição do filme
Mestre Moa, símbolo da cultura afro-brasileira e estatística das 1.001 noites coturnas; Tatuagem, artista e faz-tudo, salvou quatro crianças de prédio em chamas; Cadu, boêmio e bocudo, e os chamados urgentes que poucos atendem…
Um filhote de leão roubado, o tênue equilíbrio de forças na periferia, um drone que capta cenas de violência. Os miseráveis, de Ladj Ly, é pulsante recriação do clássico, em uma França estilhaçada em conflitos sociais, étnicos e religiosos
Começa nova edição da mostra, uma “fábrica de independência”. Em 2020, produções da velha e nova geração. Entre elas, Sertânia: lúcido delírio barroco sobre o massacre de Canudos; ou Fakir, que reflete sobre corpo feminino e pulsão de morte
Dos golpes de Estado incentivados pelas corporações às populações que se deslocam pelo mundo em busca de uma vida melhor. Por meio de sete documentários, economista explica drama de camponeses atingidos pelo fundamentalismo do mercado
Filme de Sam Mendes dialoga com pacifismo, mostrando missão perigosa de dois soldados britânicos. Para imersão na 1º Guerra, estonteante plano contínuo e tempo condensado. Mas eis paradoxo: proeza técnica rouba-lhe força narrativa
Em A melhor juventude, de Marco Tullio Giordana, o melhor da tradição do neorrealismo. Pelas lentes de dois irmãos e uma jovem, quatro décadas de história: o declínio de sindicatos, a Máfia, a ascensão de Berlusconi e as Copas do Mundo…
Instinto ou pulsão? A palavra trieb, usada pelo pai da psicanálise, gera polêmica. Mas em tempos em que lógica biologizante desacredita psicanálise, reprodução não basta; é preciso ética e política — e Walter Benjamin pode apontar caminhos