Toni Negri debate crise e novos movimentos no Rio

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Conferência quarta-feira (9/11), às 18h, na Casa Rui Barbosa. Em “Outras Palavras”, série de textos do autor sobre o tema

Há anos, o sociólogo e militante italiano Antonio Negri examina as transformações vividas pelo capitalismo desde a década de 1970 — e a necessidade de renovar, também, os programas para superação deste sistema. Há meses, Negri procura compreender os novos movimentos de contestação que se espalharam do mundo árabe para a Europa, Estados Unidos e outras partes do mundo. Nesta quarta-feira, às 18, quem vive no Rio de Janeiro terá oportunidade de debater estes temas com o próprio autor. Ele participará do seminário Crise e Revoluções Possíveis, que se desenvolverá das 10h às 20h, na Casa Rui Barbosa (programação ao final deste post).

Quem não estiver no Rio, ou não puder ir ao seminário, encontrará em Outras Palavras um breve guia para acompanhar as visões originais de Negri sobre as novas revoltas. Num texto escrito para o The Guardian, já em 25 de fevereiro — poucos dias, portanto, após a deposição do ditador do Egito, Hosni Mubarak, ele chma atenção para dois aspectos então pouco notados. Primeiro, a forma de organização horizontal dos jovens que acamparam na Praça Tahrir, guardava muita relação com a cultura das grandes mobilizações de Seattle (1999, contra a Organização Mundial do Comércio), Gênova (2001, contra uma reunião do G-8) ou do Fórum Social Mundial.

Além disso, Negri (no artigo, em parceria com Michael Hart) procurava identificar os novos sujeitos sociais que moviam a revolta árabe. E mostrava que, entre os jovens mais ativos, estavam precisamente os conectados ao mundo por redes de trabalho e produção. Sua angústia nascia do fato de enxergarem o potencial de contatos e trocas na rede; mas estarem limitados a uma vida real empobrecida e medíocre.

Já em 8 de junho, Negri escreve sobre os indignados espanhóis, que eclodira três semanas antes. Ainda que em breves pinceladas, ele preocupa-se em traçar um retrato do movimento e seus quatro componentes sociais. Além disso, procura extrair, das multiplicidade de reivindicações apresentadas em assembleias participativas e caóticas, algumas preocupações programáticas constantes.

Constata que elas contêm, ao menos embrionariamente, respostas concretas à exclusão promovida pelo capitalismo em sua “nova” fase. Reivindicar-se renda e ou trabalho para todos. Enfatiza-se o direito à moradia: o setor imobiliário deve se reorganizar, de modo que a garantia de um teto decente para todos sobreponha-se ao interesse dos proprietários em valorizar seus imóveis. Defende-se um novo sistema de tributos, que seja efetivamente capaz de redistribuir riqueza. Exige-se profundas reformas nos sistemas eleitoral e judiciário. Desenvolve-se a ideia dos “bens comuns”: numa época em que o capitalismo preocupa-se principalmente em mercantilizar serviços como Educação, Saúde, ou a produção cultural, a resposta deve ser reivindicá-los como algo que pertence a toda humanidade.

Finalmente, em 18 de outubro, Negri e Michael Hart analisam o Occupy Wall Street, num texto breve, intitulado Por que precisamos de uma nova democracia. Aqui, eles chamam atenção para algo surpreendente. A crítica à ausência de democracia se estende do Egito de Mubarak e da Tunísia de Ben Ali à Espanha do Partido Socialista, e aos Estados Unidos de Barack Obama. Ou seja, as antigas democracias ocidentais estão se tornando tão incapazes de representar as opções e desejos da multidão quanto as tiranias do Oriente Médio. Não se trata, portando, de condenar a democracia — mas de mostrar que ela está sendo esvaziada e precisa ser reinventada. 

A programação completa do seminário desta quarta-feira está transcrita a seguir. A Casa de Rui Barbosa fica à Rua São Clemente, 134 (mapa), próximo à estação Botafogo do Metrô, no Rio de Janeiro. A entrada é franca.

:: 10h – Mesa 1

Poder constituinte e direito comum

Mediação: Tatiana Roque – UFRJ e Universidade Nômade

Adriano Pilatti (PUC-Rio e Universidade Nômade)

Mauricio Rocha (PUC-Rio e Universidade Nômade)

Francisco Guimaraens (PUC-Rio e Universidade Nômade)

:: 14h – Mesa 2

Coletivo

Bruno Cava (Uerj e Universidade Nômade): “O Comum Organiza o Direito”

Hugo Albuquerque (PUC-SP): “Os paradoxos do Desenvolvimentismo nos governos Lula e Dilma”

Pedro B. Mendes (UFRJ e Universidade Nômade): “ A anomalia brasileira”

Eduardo Baker (Uerj): “Direitos Humanos e Altermodernidade”

Alexandre Mendes: (Uerj e Universidade Nômade): “Políticas da cidade/ Políticas do Comum”

:: 17h Lançamento do livro “A crise da economia global” –  organizado por Andrea Fumagalli e Sandro Mezzadra, com posfácio de Antonio Negri (Editora Civilização Brasileira)

:: 18h Conferência de Antonio Negri

“Crise e revoluções possíveis”

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