Por que debater o futuro do Trabalho agora?

Começa hoje esforço de Outras Palavras para examinar um tema que é central para encarar a crise brasileira – mas que a velha mídia sempre subestima. Uma série de diálogos e uma nova área no site concentrarão informações, análises e debates

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Uma das grandes tragédias do colonialismo é minar, nas sociedades colonizadas, a consciência de sua submissão. Há quarenta anos, a produção de riquezas regride no Brasil. A indústria, que foi a mais complexa e potente fora do centro do capitalismo, está em ruínas. No setor de serviços, definham as atividades refinadas – Ciência, Cultura, Comunicações, Tecnologia – e sobrevivem apenas as mais rudimentares: há sociólogxs, biólogxs e engenheirxs trabalhando como garis ou motoristas de aplicativos. Até no chamado “setor primário”, predomina o mais primitivo: agricultura de commodities, extração predatória de minérios. E no entanto, esta tragédia é um não-tema, tanto nas instituições quanto na mídia. A regressão é tida quase como um fenômeno natural — que é possível lamentar, mas sobre o qual não podemos intervir. Que políticas poderiam revertê-la? Como o país precisaria organizar-se para praticá-las? Tente encontrar, nas instituições, um debate a respeito. Espere, de preferência, sentado.

Embora com meios modestos, Outras Palavras lança hoje um esforço para examinar este assunto complexo. Nove diálogos online (às 2as., 4as. e 6as, às 19h) buscarão tratá-lo em seus múltiplos aspectos. Um espaço novo, em nosso site, reunirá as falas e proporá, como material para aprofundamento, livros, textos e vídeos . Nosso trabalho conta com algo que está vivo, apesar de tantos retrocessos: a inteligência e os saberes de dezenas de pensadores e ativistas que continuam empenhados em construir um país respirável.

A iniciativa reflete uma das marcas editoriais de Outras Palavras: a busca de saídas. Estamos convencidos de que, se a ultradireita avança no Brasil, é também – e talvez principalmente – devido à falta de um horizonte alternativo. A velha ordem liberal desaba, em todo o mundo. Diante desta queda, é preciso encontrar, urgente, novos caminhos civilizatórios. Do contrário, continuarão fermentando, nos escombros de um mundo que se vai, o ressentimento, o saudosismo regressivo, o ódio e a davastação.

Em sintonia com este ponto de vista, as nove mesas estão divididas em três blocos. O primeiro, que começa hoje, fará os diagnósticos. Qual o mapa atual do nosso mundo do trabalho? Por que ele degradou-se tanto? O que há por trás das promessas ilusórias de “Reforma” Trabalhista”? O segundo, a partir de sexta-feira que vem (18/9) buscará caminhos concretos para reverter a regressão. Que estatégias permitirão uma reindustrilização inteligente? Como resgatar a inventividade e a capacidade criativa de nossa formação cultural num setor de serviços refinado e contemporâneo? De que forma a Agroecologia pode superar o Agronegócio, hoje sinônimo de atraso, destruição e desigualdade? Por fim, a paritr de 25/9, três diálogos examinarão um feixe de respostas pós-capitalistas mais globais. Renda Básica. Revolução dos Comuns. Garantia de Emprego Digno. Virada Socioambiental (“Green New Deal”, para os anglófonos). Caminhos para proteger os direitos num mundo pós-CLT.

Os diálogos serão transmitidos ao vivo, pelo Youtube [acesse aqui], Twitter e Facebook. Mas tanto eles quanto uma série de indicações de livros, textos e vídeos sobre cada tema estarão disponíveis na nova área de nosso site. Ao final, um livro eletrônico resgatará as contribuições. Todo o esforço é possível, também, graças ao apoio de um parceiro essencial: a Fundação Rosa Luxemburgo.

Esperamos que seja o primeiro, de uma série de estudos temáticos aprofundados sobre a crise civilizatória, suas repercussões no Brasil e as brechas abertas. Convidamos você a acompanhar o percurso e a contribuir com suas críticas e proposições. Bom proveito!

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