Para salvar a Cinemateca Brasileira

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130914-CinematecaManifestação defende, neste sábado, entidade fundada por Paulo Emílio e Antonio Cândido para estimular cinema brasileiro — mas ameaçada por descaso do ministério da Cultura

Por Gabriela Leite

A história do cinema brasileiro, abrigada dentro das paredes de tijolo à vista e em meio aos jardins da Cinemateca Brasileira (que fica em São Paulo), corre riscos. É o que temem pessoas ligadas à área, que estão organizando uma manifestação no sábado, em frente ao local. Desde janeiro de 2013, o maior acervo de filmes da América Latina perdeu seu antigo diretor, Carlos Magalhães, além de 60 funcionários, e sofreu o fechamento de sua biblioteca e uma de suas duas salas de exibição.

O enredo desta história é complexo, com diversos personagens e trama confusa. Envolve, principalmente, três entidades: o Ministério da Cultura (MinC), a Secretaria do Audiovisual (SAv) e a Sociedade de Amigos da Cinemateca (SAC). Esta última existe desde 1962, e  articula esforços para a difusão da cultura cinematográfica e o auxílio financeiro da instituição. Em 2008, ela passou a ser uma Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP), e passou a administrar os recursos da Cinemateca. Isso permitiu que houvesse uma desburocratização na realização de projetos. A captação de recursos aumentou significativamente.

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O que aconteceu em seguida é um drama complicado. Um novo secretário do Audiovisual do ministério da Cultura foi nomeado: Leopoldo Nunes, que entregou um relatório da Controladoria Geral da União (CGU) que continha denúncias de irregularidade na prestação de contas da SAC. Entre elas, a contratação de trabalhadores terceirizados, o pagamento de uma taxa de administração à Sociedade e a falta de explicações sobre o gasto de R$ 24 mil reais em passagens de avião, além da compra de alguns acervos sem a comprovação de seu real valor.

Como resposta ao relatório — que, na verdade, não indicia ninguém e mostra mais uma falta de controle por parte da SAV — o ministério optou pela demissão em massa e fechamento da biblioteca e da sala. A crítica é que destruíu-se algo que estava consolidado pela SAC e que tinha favorecido a Cinemateca, sem propôr-se nada no lugar, pelo menos por enquanto. A manifestação do dia 14 exige que a ministra Marta Suplicy dê continuidade aos programas que estavam em andamento. No abaixo-assinado, diversas figuras do cinema brasileiro manifestam seu apoio à Cinemateca.

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Apesar de ficar em um local fora do circuito de cinema de São Paulo, e não ser conhecida por toda população da maneira que deveria, a Cinemateca Brasileira é muito importante para a cultura audiovisual do país. Idealizada por Paulo Emílio Salles Gomes, após trabalhar na Cinemateca Francesa, ela foi criada por ele e seus amigos Francisco de Almeida Salles, Alex Viany, Antonio Candido, Thomaz Farkas, Gustavo Dahl e Rudá de Andrade, primeiro com o nome de  “Clube de Cinema”. Eles buscavam preservar o cinema nacional, além de ter como missão a difusão do audiovisual à sociedade brasileira. A instituição reúne um acervo de 30 mil títulos (o mais antigo é de 1895) e é referência em restauração de películas, entre outras técnicas de conservação do material.

O local onde se encontra atualmente foi doado pela prefeitura, e era o antigo prédio do Matadouro Municipal de São Paulo — que por si só ja vale a visita. Para divulgar notícias sobre sua situação, foi criada uma página no Facebook — e nós indicamos, principalmente, este texto de Cecília Lara, antiga funcionária. O ato acontecerá neste sábado, às 16h, no Largo Senador Raúl Cardoso (veja o mapa) — endereço da Cinemateca.

 

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