Onde outra educação já acontece

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Como funciona o site “Porvir” — que procura transformar o ensino apontando alternativas reais, ao invés de apenas lamentar a crise

Por Bruna Bernacchio

Um simples texto é capaz de transformar quem o lê? É a aposta do Porvir – nome que significa “bem-estar futuro para todas as pessoas”. No ar desde o último abril, e já com milhares de acessos diários e 60 mil seguidores no facebook, o site é um verdadeiro mapeamento das novidades e mudanças da educação, no Brasil e no Mundo. A iniciativa de comunicação e mobilização social é a primeira parte do programa do Instituto Inspirare, que tem como intuito provocar inovações educacionais.

Escola sem séries, disciplinas ou paredes; escola que ensina tudo através de jogos; universidade dos pés descalços; aprendizagem no quintal; alunos participando da gestão administrativa de sua escola; cursos online gratuitos; aulas de culinária para crianças com Sindrome de Down; crianças que pautam arquitetos para construção de praças; plataformas, redes e organizações que engajam jovens para política, cidadania e negócios sociais — esse é o teor do Porvir.

Tudo produzido, metaforicamente, de forma inovadora. São seis jovens, que trabalham todos juntos em uma sala intimista, dividindo uma casa arborizada e colorida da Vila Madalena com mais duas redações jornalísticas, as do Vila Mundo e Aprendiz. São extremamente dedicados e cheios de energia, mas não conseguiriam fazer tudo o que fazem se não fossem os Antenas: cerca de 80 colaboradores, entre organizações e indivíduos próximos à área, que enviam dicas, nomes, links, contatos etc. É a inteligência coletiva, da onde surge a rede, que traz progressão ágil, rápida e constante. Publicado o material final, tudo vira Creative Commons, para outros veículos e pessoas replicarem.

Além de produzir conteúdo, com o objetivo de pautar o debate, a mídia, a sociedade, realizam uma espécie de assessoria de imprensa. Por um lado, fazem o chamado “Garimpo”, selecionando toda novidade que aparece nos cadernos, tanto de educação, como de tecnologia, política ou economia, de 70 grandes veículos de comunicação do mundo todo. Por outro lado, liberam fontes e informações para quem quiser, além de produzirem pautas e matérias em conjunto com outros jornalistas. Ainda é algo incomum na grande imprensa, que todavia faz muitos jornalistas desconfiarem; mas que a redação do Porvir acredita e quer continuar incentivando, conta a editora do site, Mariana Fonseca: “É uma proposta de exercitar a colaboração”.

Também com o objetivo de aproximar os jornalistas e interessados, o Porvir organiza periodicamente encontros para falar de educação. Uma série de diálogos, “O Futuro se Aprende”, coloca em contato imprensa e interlocutores estratégicos (gestores sociais, públicos, movimentos sociais, professores e sociedade em civil proximidade com o tema), em um formato muito mais de conversa, do que na formal entrevista coletiva. Até agora, já realizaram três encontros: o primeiro, inaugural, contou com a presença do atual Ministro da Educação, Aluisio Mercadante; o segundo, tratou de desenvolvimento infantil, com Ricardo Paes de Barros, secretário de Assuntos Estratégicos da Presidência da República; no mais recente, sobre tecnologia na educação, diversas pessoas contaram suas ideias e experiências.

No site, não há editorias — mas quatro categorias, que servem para facilitar a navegação. “Por criar” traz matérias sobre ferramentas e tecnologias sociais. Em “Por pensar”, estão as ideias, os pensadores e os temas mais polêmicos; em “Por fazer”, os projetos, as experiências que já acontecem. E “Por pessoas”, que traça perfis de gente que inovam em sua própria forma de viver na educação.

Os problemas, a crise em si da educação, fica fora desse escopo. “As pessoas já entenderam que têm uma dificuldade, uma desconexão [na educação]. Os problemas são claros. O que a gente faz, pra ser diferente, é buscar soluções”, explica Mariana. Claro que há muito o que ser feito. E outras organizações e movimentos estão focadas nessas polêmicas — como o Movimento Todos Pela Educação, por exemplo. Mas o Porvir mantém sua perspectiva: “enxergar quem está fazendo certo, e ajudar quem está fazendo certo”.

E é nessa direção que Mariana aposta suas fichas pessoais sobre o sistema educacional brasileiro. Ela pergunta: “você já viu o infográfico, que compara o processo de evolução da escola, ao lado do ambiente de trabalho? Pra mim é uma dica: o sistema vai ter que mudar. Mas não sei se vai padronizar para todo mundo uma novidade, ou se vão surgir várias escolas diferentes, pra cada um escolher. Eu, particularmente, acho que quanto mais variedade e pluralidade de projetos e escolas, melhor. Um pouco mais de liberdade pra todo mundo.”

E é pra isso que realmente as mudanças parecem caminhar. A equipe do Porvir fez um primeiro apanhado de tudo o que conheceram no ano de 2012, mas nada é certo e concreto. A visão abrangente pode, porém, identificar algumas características e elementos semelhantes a boa parte dos novos projetos, ideias e organizações: o olhar mais amplo, transcendente, das disciplinas e do processo de aprendizagem, de juntar, misturar, trocar; a tecnologia como ferramenta, como meio chegar em algum lugar, e não mais como fim; a inovação não na estrutura por si só, mas na utilização dessa estrutura; um processo empático, coletivo, colaborativo; baseado em projetos, com um viés mais cidadão, para resolver problemas e transformar a sociedade; uma educação integral, no sentido de envolver comunidades, bairros, envolver todo mundo no processo. O aprender a aprender.

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7 comentários para "Onde outra educação já acontece"

  1. Elivanete Macêdo disse:

    Negra Livre,Emanoel Tadeu,Dani Ferreira,Alex da Bahia,Clícia Zuíla,Anderson Silva e cia: CONFIRAM!

  2. Dimitri Lima disse:

    Seria ótimo se essas ideias entrassem na pauta de nosso ministro da educação .. Será que ele pensa nisso ?

  3. Larissa Alves disse:

    Sobre o Porvir!

  4. Larissa Alves disse:

    Sobre o Porvir!

  5. …Maravilha! Reluto com Educação e Ensino… Vício político e daí pra grande mídia "um, dois". No entanto, ouço as badaladas vindo ao encontro da quebra de paradigmas. Movimentos como esse, suaves e certeiros, envolvem os processos trazendo reflexão e prazer. Comungo e multiplico. Paz e Luz!

  6. Excelente iniciativa, que se adotadas por nossas escolas, teriam melhores resultados, visto que primam pela liberdade. Diferente das censuras impressas pelo nosso atual sistema de educação.

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