Cine debate em SP: Ela Volta na Quinta

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“Outras Palavras” exibe, antes da estreia comercial, filme premiado de André Novais. Obra destaca-se por estética ultra-realista e por raro mergulho no quotidiano das periferias brasileiras

Por Gabriela Leite

Cine debate do filme “Ela Volta na Quinta”, de André Novais

Convidados: André Novais (diretor), Thiago Macêdo (produtor), Douglas Belchior (UNEafro Brasil) e Silvio de Almeida (Instituto Luiz Gama)

24/2, quarta-feira – sessão do filme às 19h, seguida de debate

Rua Conselheiro Ramalho, 945 – auditório

Entrada gratuita, sujeita a lotação da sala

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A série de cine debates que Outras Palavras promove desde o ano passado será retomada nesta quarta-feira (24/2), com uma obra incomum. Ela Volta na Quinta, de André Novais será exibido em primeira mão e debatido pelo diretor, pelo produtor e por dois ativistas intensamente ligados às periferias das metrópoles brasileiras — Douglas Belchior e Sílvio de Almeida. O evento é possível graças à parceria entre o site e a Vitrine Filmes, distribuidora de importantes longas-metragens do cinema nacional como O Som ao Redor (de Kleber Mendonça Filho), Hoje Eu Quero Voltar Sozinho (de Daniel Ribeiro) e Branco Sai, Preto Fica (de Adirley Queirós) — este também exibido em Outras Palavras, no começo de 2015.

Ganhador de diversos prêmios como de Melhor Filme no X Panorama Coisa de Cinema – Salvador e Melhor Filme na VII Semana dos Realizadores – Rio de Janeiro, Ela Volta na Quinta será lançado no circuito comercial no final da semana. Traz semelhanças com Branco Sai, Preto Fica. O diretor vem de fora do eixo Rio-São Paulo — André Novais é mineiro, sócio da produtora Filmes de Plástico. O filme retrata uma família de negros, cujos pais estão em uma crise no relacionamento. Já do ponto de vista da narrativa, são diferentes: enquanto o filme de Adirley é fantasioso, Ela Volta na Quinta é muito realista. Em suas sequências, mais longas do que estamos acostumados a assistir no cinema, fatos muito cotidianos: irmãos assistindo a vídeos engraçados no YouTube; o pai, em seu serviço, fazendo uma entrega de geladeira…

Há outra característica muito interessante no filme: os personagens são encenados por “eles mesmos”, não-atores. Dona Maria e seu Norberto — que têm os mesmos nomes no filme — são os pais do diretor, Renato é seu irmão, e André também estrela personagem que poderia ser ele próprio. Os diálogos chegam a ser tão reais que causam estranhamento por estarem na tela grande. A partir dessa informação, muitas perguntas aparecem: essa é a vida real da família do diretor? Seus pais passaram mesmo por uma crise conjulgal? A relação da família é parecida com a retratada na tela? O filme é um documentário ou ficção?

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Ela Volta na Quinta também chama atenção por mostrar algo muito pouco visto nas telas do cinema brasileiro: a vida de pessoas pobres, da periferia, para além da violência. O filme retrata fatos corriqueiros de uma família de Contagem, em Minas Gerais, de maneira muito real e pouco romantizada. Ao assistir a essas pessoas, nos deparamos com um fato escandaloso: quantas outras vezes entramos em contato, no audiovisual, com o dia-a-dia de pessoas não-ricas, não-brancas? Mesmo tocante, o filme não levanta bandeiras. Pelo contrário: é silencioso e poético.

Na próxima quarta-feira, esses aspectos serão debatidos ao vivo com diretor André Novais, o produtor do filme, Thiago Macêdo. Se juntarão ao debate dois grandes nomes que ajudam a compreender a questão do racismo e da falta de representatividade dos negros na cultura brasileira: Douglas Belchior e Silvio de Almeida. Douglas é professor e ativista social, militante do Movimento Negro, Movimento de Cursinhos Comunitários. Silvio, advogado, professor e presidente do Instituto Luiz Gama.

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