Breton, Rivera e a revolução que não teme a arte

Nova parceira de Outras Palavras, Sobinfluencia publica celebre manifesto que denuncia o controle ideológico na arte — e defende o compromisso antifascista. Quem apoia nosso jornalismo concorre a um exemplar e tem 25% de desconto

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Os anos 1930 foram uma época conflituosa. A crise econômica iniciada com o crash de 1929 perdurou por toda a década. Por um lado, foram nesses anos em que se consolidou a ascensão do fascismo ao redor do mundo, culminando na eclosão da Segunda Guerra Mundial. Por outro, ainda se vivia a forte influência da Revolução Russa de 1917, e trabalhadores urbanos e rurais de muitos países, bem como muitos intelectuais, se sentiam atraídos pelo ideário comunista.

A arte não ficou alheia a esses conflitos. Os principais artistas dos anos 30, especialmente os ligados às vanguardas em voga na época, faziam questão de intervir nas questões que mobilizavam a política internacional. O líder dos surrealistas europeus, André Breton, e o mais reconhecido dos muralistas mexicanos, Diego Rivera, são alguns dos que mais se engajaram na “politização da arte” contra o fascismo, como diria Walter Benjamin. 

Seu manifesto conjunto intitulado Por Uma Arte Revolucionária Independente é um marco desse movimento, mas cujas edições brasileiras já se esgotaram há muito tempo. Coube ao pessoal da sobinfluencia edições, mais nova parceira do Outras Palavras, fazer uma nova tradução do manifesto e reeditá-lo em uma publicação belíssima. Publicamos, abaixo, os quatro primeiros pontos da obra. Boa leitura!

I

Pode-se pretender, sem exagero, que nunca a civilização humana esteve tão ameaçada de perigos quanto hoje. Os vândalos, com o auxílio de seus meios bárbaros, isto é, deveras precários, destruíram a civilização antiga em um canto limitado da Europa. Atualmente, é a civilização mundial inteira, na unidade de seu destino histórico, que cambaleia sob a ameaça de forças reacionárias armadas por toda a tecnologia moderna. Não temos em vista somente a guerra que se aproxima. Mesmo agora, em tempos de paz, a situação da ciência e da arte se tornou absolutamente intolerável.

Outras Palavras e sobinfluencia edições sortearão um exemplar do livro Manifesto por uma arte revolucionária independente, de André Breton e Diego Rivera, entre os apoiadores do nosso jornalismo. Também será disponibilizado um desconto de 25% no site da editora. O formulário para participar do sorteio será enviado por e-mail. As inscrições estarão abertas até o dia 15/06, às 15h.

II

Naquilo que ela conserva de individual em sua gênese, naquilo que movimenta qualidades subjetivas para extrair um fato que ocasiona um enriquecimento objetivo, uma descoberta filosófica, sociológica, científica ou artística aparece como o fruto de um acaso precioso, quer dizer, como uma manifestação mais ou menos espontânea da necessidade. Não se pode negligenciar tal contribuição, tanto do ponto de vista do conhecimento geral (que tende a àquilo que se de prosseguimento à interpretação do mundo), quanto do ponto de vista revolucionário (que, para alcançar a transformação do mundo, exige que se faça uma ideia exata das leis que regem seu movimento). De modo particular, não seria possível se desinteressar das condições mentais nas quais esta contribuição continua a se produzir e, para isso, zelar para que se garanta o respeito às leis específicas às quais se sujeita a criação intelectual.

III

Ora, o mundo atual nos obriga a constatar a violação cada vez mais geral destas leis; violação à qual corresponde necessariamente um aviltamento crescentemente manifesto, não somente da obra de arte, mas ainda da personalidade “artística”. O fascismo hitlerista, após eliminar da Alemanha todos os artistas que expressaram em algum nível o amor à liberdade, fosse ele puramente formal, submeteu aqueles que podiam ainda consentir em manejar uma pena ou um pincel a se tornarem lacaios do regime, celebrando-o por meio de encomendas, nos limites exteriores do pior convencionalismo. Exceto quanto à propaganda, o mesmo ocorreu na U.R.S.S. durante o período de furiosa reação que agora atingiu seu apogeu.5

IV

Não é preciso dizer que nós não nos solidarizamos nem por um instante, independente de seu sucesso atual, com a palavra de ordem “Nem fascismo nem comunismo!”, que responde à natureza do filisteu conservador e assustado, que se agarra aos vestígios do passado “democrático”. A verdadeira arte, isto é, aquela que não se contenta com variações sobre modelos prontos mas se esforça em dar uma expressão às necessidades interiores do homem e da humanidade atual, não pode senão ser revolucionária, isto é, deve aspirar a uma reconstrução completa e radical da sociedade, mesmo que fosse para libertar a criação intelectual das cadeias que a entravam e permitir a toda humanidade se elevar a alturas que somente gênios isolados atingiram no passado. Ao mesmo tempo, reconhecemos que somente a revolução social pode abrir o caminho para uma nova cultura. Se, no entanto, rejeitamos qualquer solidariedade à casta atualmente dirigente da U.R.S.S, é precisamente porque em nosso entendimento ela não representa o comunismo, mas é o seu inimigo mais pérfido e mais perigoso.

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