A Espanha prepara o grande protesto

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Manifestações prévias à jornada de quinta-feira espalham-se pelo país. Sindicatos e “indignados” do 15-M aparam divergências para lutar juntos contra pacote do governo

Por Pep Valenzuela, correspondente em Barcelona

(Texto atualizado em 18/7. às 11h20)

A Espanha, que surpreendeu o mundo em 2011, com as gigantescas manifestações de indignadospode converter-se outra vez em pólo de criação política. Faltando um dia para uma jornada de protestos convocada pelos sindicatos, para reagir ao ataque maciço do governo contra os direitos sociais, multiplicam-se os sinais de que a ação será, além de imensa, inovadora.

No início da semana, centrais sindicais e indignados sinalizaram, de parte a parte, que vão somar forças em todo o país na quinta-feira, relevando diferenças. Em Madri, uma assembleia extraordinária do 15-M decidiu participar sem ressalvas das marchas de trabalhadores, apesar de o movimento se opor à estrutura hierarquizada dos sindicatos. “As medidas tão bestiais do governo estão revelando que não vale a pena rebelar-se para pouco”, afirmou ao jornal Público uma integrante do Grupo de Moradia do 15-M, que se identificou como Violeta. Da parte dos sindicatos, também parece haver busca de unidade. Segundo a mesma reportagem, fontes das duas maiores centrais (Comisiones Obreras-CCOO e Unión General de Trabajadores-UGT), revelaram que estas entidades não procurarão estabelecer, nos protestos previstos para oitenta cidades, o ambiente de protagonismo que em geral marca seus atos. “O objetivo é somar tudo o que se move: sindicatos menores, movimentos sociais, associações de bairro e inclusive o M-15”, teria dito um dirigente.

A articulação entre os dois setores pode ser decisiva. Os sindicatos reúnem o mundo do trabalho — pouco ativo nas duas últimas décadas mas enraizado e organizado. O protesto dos indignados nas praças, que apareceu há pouco maios de um ano, tem sido chave para fazer nascer e se alargar uma nova consciência e uma nova cultura de fazer política: de alianças sociais, de métodos de organização, trabalho e ação inovadoras. O lema de amanhã, toma as ruas tem condições de mobilizar muito mais gente. Praças e ruas podem ficar pequenas, para tanta raiva e desejo de justiça.

Neste clima, repetiram-se as ontem (17/7) as manifestações-relâmpago preparatórias que estão pipocando pelo país desde o fim-de-semana. No centro de Madri (foto), houve diversas interrupções de trânsito, promovidas por funcionários de ministérios (os servidores públicos são os mais atingidos pelas medidas). Dezenas de policiais fizeram o mesmo em outra parte da capital, incentivados pelo sindicato da categoria.

Já os mineiros, que foram acolhidos em Madri por dezenas de milhares de pessoas, na semana passada, após uma marcha de centenas de quilômetros, manifestaram-se em Ponferrada, região de León, norte do país. Fizeram-no diante da sede do Partido Popular (PP), de centro-direita e no governo. Esta forma de protesto, pouco comum em outras partes do mundo, está se popularizando na Espanha, nos últimos dias. É como se os manifestantes dissessem aos dirigentes dos partidos: “vocês sequestraram a democracia; podemos resgatá-la”.

Também nesta terça, dados sociais divulgados pelo Instituto Nacional de Estatísticas revelaram mais um lado dramático da crise. Conhecida nas duas últimas décadas por ter atraído milhões de imigrantes (principalmente da América Latina e norte da África), a Espanha começa a assistir a seu retorno. Nada menos de 229 mil estrangeiros deixaram o país, nos seis primeiros meses do ano, assustados pela falta de ocupação. Pior: 40,6 mil espanhóis fizeram o mesmo, num novo sinal de que um dos grandes fluxos populacionais das últimas décadas (o que levava gente das periferias para a Europa) pode se inverter.

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3 comentários para "A Espanha prepara o grande protesto"

  1. Para entender o está acontecendo no mundo.

  2. marcelo arruda disse:

    o centro é a periferia!

  3. Bailux Regis disse:

    ~ a periferia 'e o centro~

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