As duas faces da resistência ao golpe

O urgente é afirmar a ilegitimidade de Temer e enfrentar seu programa de horrores. Mas o essencial é encarar o imenso trabalho de reconstruir projeto de esquerda

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O urgente é afirmar a ilegitimidade de Temer e enfrentar seu programa de horrores. Mas o essencial é encarar o imenso trabalho de reconstruir um projeto de esquerda

Lá dentro, havia terminado, poucos antes, o espetáculo deprimente oferecido pelos homens brancos, cínicos e toscos. Diante do Congresso Nacional, Guilherme Boulos empulhou o microfone e se dirigiu às milhares de pessoas que – tanto em Brasília, quanto em dezenas de cidades – acreditaram que poderiam, com seus corpos, frear o golpe urdido pela TV Globo, pelos maiores empresários e pela mídia.

Não foi possível, por enquanto. Mas Boulos acredita que ainda estão rolando os dados. “O Brasil todo sabe: o que acabamos de assistir foi uma farsa golpista, conduzida por um sindicato de ladrões”, frisou ele. E tirou as consequências: “Os golpistas não têm condições de governar este país. Nós não reconhecemos sua legitimidade. Este recado tem que ecoar país afora. Perdemos a batalha do carpete, mas vamos ganhar a batalha do asfalto. Não tem um minuto de trégua. Vai ter ocupação. Vai ter luta. Tomaremos este país, incendiaremos as ruas até derrotar os golpistas.”

É possível que o coordenador do MTST tenha razão. Agora, só uma surpresa muito improvável impedirá que Temer vista a faixa presidencial em cerca de quinze dias. Mas governar é outra história. Como dissera horas antes o jornalista e professor Igor Fuser, num debate organizado pelo jornal Brasil de Fato, o vice-presidente que conspirou contra sua companheira de chapa assumirá o palácio do Planalto em situação de fragilidade incomum. Entre a população, sequer os mais conservadores, que foram à Avenida Paulista ontem, o apoiam, como mostra o próprio Datafolha. No grupo, 54% querem também o impeachment de Temer, e 68% creem que um eventual governo liderado por ele será regular, ruim ou péssimo, (no Anhangabaú, onde se reuniram, em São Paulo, os que lutam contra o golpe, os números são, é claro, muito mais altos: 79% e 88%).

A mídia, é claro, dará uma mãozinha ao vice. Ainda que muito impopular, ele tem um trabalho a fazer em pouco tempo. Nos últimos dias, apareceu com clareza a agenda de concessões ao poder econômico, ataques aos direitos sociais e normatização moral conservadora que pretende cumprir, nos 32 meses que faltam para o final do mandato. Por isso, haverá certamente, nas TVs e jornais, muito foguetório quando Temer anunciar medidas demagógicas – como a redução do número de ministérios –, quando atribuir a seus antecessores a responsabilidade pela crise e também quando a Lava jato deflagrar, eventualmente, novas operações.

Mas haverá muitas pedras no caminho. O Orçamento do Estado é limitado, ainda mais para os defensores da ortodoxia econômica. Fazer grandes concessões ao capital implicará cortar direitos e programas sociais. As maiorias – inclusive os que se deixam hoje seduzir pelo impeachment – aceitarão? Um presidente não referendado por eleições, e a quem as pesquisas de intenção de voto atribuem 1% das preferências do eleitorado, terá força para impor medidas antipopulares? Mais: a oposição a Dilma é uma rinha de egos. A pouco tempo das eleições presidenciais, para governadores e o Congresso, haverá unidade entre ministros e parlamentares?

É nesta brecha que Boulos acredita. A Frente Brasil Popular (formada basicamente por centrais sindicais e partidos de esquerda) e a Frente Povo sem Medo (bem mais à esquerda, articulada em torno do MTST) lançaram, já no domingo, um apelo conjunto que esboça uma tática e uma agenda de lutas. Haverá ainda pressão sobre o Senado (que deverá se pronunciar sobre o impeachment por volta de 10 de maio). Para organizá-la, prepara-se um 1º de Maio expressivo, convertido em Assembleia Nacional da Classe Trabalhadora. Preveem-se em “paralisações, atos, ocupações, já nas próximas semanas”.

Caso Temer ao final assuma, propõe-se “não reconhecer tal governo ilegítimo”, “combater cada uma das medidas que dele vier a adotar” e lutar por “uma profunda reforma do sistema político atual, verdadeira forma de combater efetivamente a corrupção”. A aposta é clara e ousada: reverter o golpe de ontem com mobilização popular e astúcia. Tirar proveito da impopularidade evidente de Temer e do desprestígio crescente do Congresso, onde 299 de 513 deputados foram condenados ou acusados de atos de corrupção.

* * *

Suponha agora que o golpe tivesse sido derrotado, domingo à noite. Que, pressionados pela mobilização popular, 25 dos 367 homens brancos, cínicos e toscos deixassem de usurpar o voto de 54 milhões de eleitores e de escolher Michel Temer para a Presidência. Que Dilma despertasse ontem segura dos dois anos e meio restantes de mandato. Estaríamos bem? Prossiga um pouco, nas especulações. Relembre que, por treze anos, Lula e Dilma tiveram como parceira central de sua governabilidade, a mesma escória que ontem terminou por derrotá-los. O anonimato a escondia em gabinetes sempre frequentados por lobistas, em comissões de trabalho cujas pautas a velha mídia nunca revela, num plenário onde se aprovam sem qualquer debate público, leis, medidas provisórias e emendas à Constituição. Convocada, a escória deixou os corredores e expôs aos holofotes sua boçalidade orgulhosa.

O choque que as imagens provocaram está reavivando um questionamento distinto do de Boulos, e talvez complementar a este. A que beco nos conduziu o projeto de esquerda que evitou chocar-se com a institucionalidade conservadora; que recorreu à mobilização popular só em casos de emergência; que não ousou falar em reformas estruturais; que se acomodou, em seus momentos mais infelizes, a medidas que devastavam sua própria base – como o “ajuste fiscal” implementado por Dilma?

Este questionamento não é, em si, inédito – mas algumas reflexões recentes sugerem que está se refinando e difundindo. Não se trata de repetir a antiga crítica de partidos e correntes mais à esquerda, segundo as quais o PT “endireitou”, ou “adaptou-se à ordem burguesa” (uma versão recente deste argumento pode ser encontrada numa postagem recente do historiador Henrique Carneiro). Também não é apenas uma observação sobre como certa esquerda governista aceitou os limites da institucionalidade e respeitou tanto seus métodos e costumes que acabou reproduzindo-os ela mesma (vide a promiscuidade com as empreiteiras, ou o desvio de recursos da Petrobras para financiar campanhas eleitorais).

O que há, além disso, em alguns textos muito recentes, são duas novidades. Primeiro, seus autores não se limitam a criticar o PT e seus aliados – parecem dispostos a assumir responsabilidades na construção de novos projetos e práticas. Evita-se o simplismo das disputas autofágicas. “O jogo de acusações é divisionista e pueril. Do mais realista ao mais idealista, do mais institucional ao mais anárquico, apesar das intenções, o fato é que ninguém conseguiu chegar lá. E a tarefa agora é (pro)positiva, aprender com os erros (já que por ora estamos vivos), ter frieza e criar incessantemente”, afirma o advogado Hugo Albuquerque, ligado à sensibilidade negriana. Além disso, não se fazem observações apenas conceituais. Propõe-se ir além das formas convencionais de ação política (sem, contudo, negá-las); compreender a dimensão possivelmente transformadora da cultura e das ações cotidianas; dialogar com grupos às vezes estigmatizados, como os evangélicos.

Ao comentar a votação de domingo, na Câmara, o cientista político Henrique Costa consegue, por exemplo, ver bem mais que um show grotesco. “Poderíamos aprender algo com essa bizarrice e reconhecer que não conhecemos o Brasil, ao invés de continuar achando que esse horror caiu do céu”, adverte ele. Em seguida, indaga, provocativamente: “Como fazer proposta de mudança sem saber do que tratamos, os desafios que a realidade impõe?” E emenda: “O discurso do ‘analfabetismo político’ é, pois, nada mais que elitismo mal disfarçado. É estar comodamente acima da barbárie pedindo ‘mais amor’, enquanto lá embaixo tem milícia, seita evangélica, chacina e linchamento”.

Presidente recém-eleita da Associação dos Docentes da UFRJ (Aduferj), a matemática Tatiana Roque também se debruça sobre espetáculo dos deputados. Ela indaga-se: “Minha família, meus filhos, meu deus, minha pátria. Como isso ganhou tais proporções”? Responde com uma hipótese sofisticada. Para Tatiana, o crescimento do discurso conservador tem a ver tanto com as virtudes quanto com os limites do projeto lulista. “Um mínimo de diminuição da desigualdade, em um país construído sobre o privilégio, com relações sociais calcadas na desigualdade e na exploração, já faz muita coisa explodir. (…) O inconsciente que explodiu o macho-adulto-branco-sempre-no-comando é sim produto das políticas de redução da desigualdade, de inclusão, da radical transformação na universidade. Foi pouco? Foi, mas precisava de pouco pra explodir.”

Tatiana observa, a seguir: transformações libertárias do cotidiano são sempre bem-vindas, mas não bastam. Diz ela: “Organizar essas forças é um passo adiante. E aqui o PT falhou feio, assim como toda a esquerda. Os arcaísmos funcionam tão bem, hoje em dia, porque não há perspectiva de transformação na ordem das relações de forças, no plano de uma nova institucionalidade”. Por fim, a professora provoca novamente. Se “a inclusão da vida no fazer político aparece nas lutas das mulheres, nas causas LGBT e trans, na força dos movimentos de negras e negros”, “então como criar espaços de pertencimento transversais para que tais lutas possam ser mais do que reconhecimento e identidade? Elas não podem ser somente iniciativas por fora do sistema político. Se não encontrarmos um jeito de incluir a subjetividade na política, de criar esses espaços de conexão e de subjetivação coletiva, correremos o risco de entregar para a igreja e para a família todo esse plano pulsante dos afetos, da espiritualidade e dos modos de vida”.

Num comentário ao que Tatiana escreveu, o artista visual e fotógrafo Amílcar Packer mostra que é possível encontrar sentido político transformador em muitas práticas relacionadas ao que sua interlocutora chama de “novos modos de existência, novos corpos e novas sexualidades”. Diz Amílcar: “Há muito a fazer e os processos são mais lentos e complexos do que talvez alguns chegaram/chegamos a pensar. O trabalho das neopentecostais, por exemplo, vem sendo feito há décadas e de maneira molecularizada e presencial (…) Se tem skinhead na Paulista em frente à Fiesp, no dia seguinte pode haver capoeira na esquina com a Augusta, Democracia Corintiana e Periferias contra o golpe” (…) É pouco? Talvez só nisso discorde [de Tatiana], porque é nos detalhes e no “pequeno” que se produz a diferença e que se pode contribuir para a criação desses espaços transversais, pois são espaços do dia-a-dia”.

* * *

Na luta contra o golpe, a surpresa mais inesperada foi o surgimento de um campo comum, reunindo setores de esquerda que se encontravam, havia muitos anos, divididos. Os protestos, que vão se multiplicando e adquirindo enorme capilaridade, reúnem uma galáxia de sensibilidades políticas, movimentos sociais, ativistas anônimos. Mas a quebra de barreiras culturais vai além. Nas últimas semanas, não foi raro ver, por exemplo, militantes sindicais promovendo ações de que estavam afastados há muito. Ocupam espaços públicos, acampam em tendas (em São Paulo, na Praça do Patriarca), organizam cozinhas coletivas. Ativistas de origens distintas, que se encontram nas manifestações, continuam a dialogar em enormes grupos que se formam nas redes sociais, no Whatsapp ou Telegram.

Um novo período vai se abrir, em breve, caso avance o golpe iniciado domingo na Câmara dos Deputados. Não se deve desprezar os riscos de retrocesso, em muitos terrenos. Mas a combinação das tendências apontadas acima parece promissora. Oxalá seja possível organizar, com perspicácia, uma resistência capaz de reduzir o espaço dos golpistas, desmascarar sua hipocrisia, acirrar suas divisões internas, levá-los a impasses – e ao fim inviabilizá-los. Oxalá sejamos, ao mesmo tempo, capazes de organizar o debate coletivo necessário para construir um novo projeto de pós-capitalismo.

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15 comentários para "As duas faces da resistência ao golpe"

  1. Genovan de Morais disse:

    Parabenizo o Antonio Martins pelas reflexões e também o sr. Sérgio Brasil, nos seus dois comentários. Este, principalmente por cobrar um resgate(?!) urgente e necessário da radicalidade perdida no pensamento e ação da esquerda, aqui e alhures. Do texto do Antonio questiono apenas o trecho que transcrevo que diz:”Propõe-se ir além das formas convencionais de ação política (sem, contudo, negá-las); compreender a dimensão possivelmente transformadora da cultura e das ações cotidianas; dialogar com grupos às vezes estigmatizados, como os evangélicos”. Especialmente, esta última frase. Ora, não consigo ver tal estigmatização dos evangélicos a que ele se refere. O espetáculo de domingo mostra claramente que não há qualquer estigma. Pelo contrário, há uma força inquestionável e um projeto de poder evangélico que busca se realizar à galope. Vale lembrar, que o projeto conciliador do PT nesses 13 anos, não apenas beneficiou-se dele, na montagem de suas esdrúxulas coalizões, como deu grande contribuição a sua expansão.

  2. C.Paoliello disse:

    Greenwald denuncia a grande farsa por trás do golpe:
    http://www.vermelho.org.br/noticia/279740-1

  3. C.Paoliello disse:

    PGR diz que há mais 6 investigações contra CUnha em andamento, mas para o STF ele é um santo a ser canonizado pelo Vaticano:
    http://www.jb.com.br/pais/noticias/2016/04/22/janot-diz-que-cunha-e-alvo-de-mais-seis-investigacoes-na-pgr/

  4. Sergio S. Brasil disse:

    Não tenho nenhum interesse em polemizar (até porque aos 73 anos não tenho mais interesse em polemizar ), especialmente as observadas pelo Lourival. Não faço uso de argumentos marxistas que, pela direita, faz ver das bobagens produzidas pela seita do PT. Defendo sempre, inclusive nas aulas que ministrava na UFRJ, que a esquerda deve se renovar de maneira radical (no sentido mais legítimo expresso por Marx). Ou seja: é preciso superar o modelo esquerdizante da esquerda que vê sempre no divergente posições de direita. Estudo o marxismo há 47 anos (fiz meu doutorado e pós-doutorado em ontologia marxista) e milito no PCB. Chamo atenção mais uma vez para o exercício da dialética, inclusive aplicada ao discurso marxista. Alguns marxistas ainda não superaram o stalinismo e isto é uma posição que transforma a reflexão fundada no pensamento de Marx
    também esquerdizante que prejudica e desfoca o próprio marxismo como discurso investigativo científico. Pessoalmente já estou farto das narrativas que não conseguem avançar e se cristalizam no que Walter Benjamin, chamava de “o mesmo sempre o mesmo”. É imperativo que sejamos sérios em nossas reflexões e que elas sejam subsidiadas de bom material teórico e de fatos produzidos e manifestos nos processos dinâmicos da História. O que está em causa não é Dilma, ou Lula, e sim a própria questão democrática. Minha crítica assume que na democracia burguesa o espaço para uma esquerda radical e que assegure a essencialidade da luta de classes (aliás David Harvey e Moishe Postone têm trabalhado sobre isso). O envolvimento dos oprimidos num projeto de Democracia Social, na forma refletida por Karel Kosik seria um caminho inovador na busca de uma utopia (no estilo preconizado por Bloch) para a esquerda. Agregado a isto poderíamos refletir sobre a construção de um poder popular (Gtramsci nos ensinou muito sobre isto). O que preconizo é que a esquerda abandone o esquerdismo simplório do outro como meu inimigo e se supere na busca de reconstrução de um discurso e narrativas de ação vinculados às demandas do oprimido. Portanto, ficar numa pequenez de pessoas e fatos pequenos como se fossem eles as grandes questões de sobrevivência da democracia e do salvacionismo delirante petista é, certamente, assumir a posição do sapo que ao olhar para o charco em que vivia pensava que este era o próprio universo.

  5. C.Paoliello disse:

    Um das publicações ícones da direita acha que “ruim com Dilma, pior sem ela”:
    http://www.vermelho.org.br/noticia/279704-1

  6. Lourival Almeida de Aguiar disse:

    Antônio Martins,
    Parabens por seu artigo “As duas faces da resistência ao golpe”; que conjuga e estimula a conjugação dos quatro verbos principais que podem levar a transformações radicais na sociedade: informar, capacitar, comprometer, mobilizar (praticados sequencialmente ou não, cartesianamente ou holisticamente).
    Também instigante, provocou os comentários do Sérgio S. Brasil e do Carlos Delgado, que tem como base comum o cacoete irônico teórico de usar (mal?) o marxismo como instrumento de análise para combater, pela direita, colocações mais à esquerda, acerca da estrutura/conjuntura sócio/política do momento.
    Como não somos os “donos da verdade”, mormente agora nessa situação delicada, singular e efêmera de “dualidade de poder” (no conceito trotskysta), onde o governo não consegue governar e a oposição não o consegue derrubar, precisamos considerar com momentosa atenção as idéias, propostas, críticas, etc., mesmo as que preliminarmente não nos parecem corretas ou significantes, fundamental para, numa construção coletiva, encontrarmos as saídas que individualmente não identificamos…
    Parabéns também por “se expor” e não “ficar em cima do muro” para não “ferir suscetibilidades” dos leitores. OS GOLPISTAS NÃO PASSARÃO!

  7. C.Paoliello disse:

    PS – A direita acha que a menção à crise econômica mundial é um biombo que Dilma usa para acobertar seus erros. Será que eles não leem sua própria mídia de referência como o Wall Street Journal, The Financial Times, The Economista? Todos não param de falar na crise econômica mundial e acham que vai piorar. Como é que pessoas que leem “Outras Palavras” podem desconhecer isso? E livros, também não leem, como o de Thomas Piketty ou o do norte-americano James Rickards (“A grande queda”) que prevê um agravamento da crise já cronificada em quase todos os países do mundo? O Brasil é uma ilha econômica? E os artigos e palestras do Nobel Joseph Stiglitz, também não acompanham?
    http://www.esquerda.net/artigo/recessao-global-sinais-de-recaida/42395

  8. C.Paoliello disse:

    Todos os frequentadores desse qualificadíssimo blog, os militantes de Esquerda, os petistas, os dilmistas, os lulistas, todos concordam que houve muita incompetência política e uma sucessão de erros e um republicanismo masoquista, e de tudo isso (e de muito mais) a direita se aproveitou ardilosamente como sempre faz. Mas é hora de ficar apontando erros que já fazem parte do passado e não podem mais ser mudados? Neste momento em que a Democracia está gravemente ameaçada em nosso país precisamos unir forças e denunciar os golpistas de forma permanente, penso eu.

  9. Carlos Delgado disse:

    Não sou marxista. O dogma da “luta de classes” me dá urticária. Para mim, esse valor sagrado (como superioridade cognoscitiva) que se dá à dialética é apenas um fanatismo religioso como outro qualquer (afinal, como dizia certo professor francês, “o materialismo é apenas o idealismo que crê que só há realidade na matéria”).
    Mas, apesar disso tudo, concordo epistemologicamente com o Sérgio.
    Não é preciso ser marxista para perceber que essa análise do Antonio não se sustenta em termos de relações causais. Não é preciso ser marxista para perceber que ela não tem nada de objetivo.
    É tudo meramente especulativo e opinativo, buscando agarrar-se nas ondas e modas do pensamento por meio das suas etiquetas enunciativas fashion.
    É uma análise que mobiliza ídolos discursivos desse éter dos gurus, mas não desce ao chão da objetividade. Ela invoca especulações supervenientes, mas, no fim das contas, não junta lé com cré.
    O problema das fórmulas da nossa professora de matemática da UFRJ não é um problema de pedigree político, como supõe o Sergio. É simplesmente um problema de superficialidade palavrosa e esnobe.
    A Câmara que aprovou a continuidade do impeachment não é resultado da crise produzida pela implosão do “macho-adulto-branco-sempre-no-comando”, como quer a professora de matemática.
    Ela é resultado do simples abandono da luta pela hegemonia cultural por parte do progressismo.
    Ao reduzir a política e a cidadania ao consumo, o que se permitiu foi o afloramento dos atavismos da velha predação individualista conservadora. Essa Câmara não é mais que o resultado do abandono da luta pelos valores do coletivo, da transformação, da participação e da solidariedade por parte do programa ideológico do lulismo, que conspirou sistematicamente contra os fundamentos do trabalho da organização social de base.
    Não se trata nem de falar de “classe para si”. Trata-se de reconhecer o abandono da luta que constrói os fundamentos da legitimidade de uma ordem que não seja essa da predação individualista, da teologia da prosperidade, da seletividade “compensatória” do privilégio (como a panaceia das políticas de cotas).
    O impeachment passou porque o PT apenas colheu o que plantou, e, de repente, se viu diante dos velhos oportunistas aos quais havia se aliado até o dia anterior.
    Essa é a mais simplória das relações causais, mas não deveria ser desprezada tão sumariamente em nome de pretensas (e fajutas) “sofisticações”.

  10. Luiz Fernando disse:

    vou ser polêmico agora, se o Congresso foi ilegítimo então porque o povo nas ruas deveria estar na legalidade? Enquadrados dentro de uma esfera do Direito sem incomodar os bandidos. As revoluções na História nos tem mostrado que elas podem ser pacíficas ou violentas, a Revolução Francesa foi violenta, a desobediência civil de Gandhi foi pacífica assim como Luther King. Não tem que decepar ninguém, mas como diz o filósofo Zizek, o que agora precisa é de ESPÍRITO DE LUTA, de forma disciplinada e principalmente contínua, o que é muito difícil de ser feito, mas com viés transformador.

  11. marcio ramos disse:

    Vem aqui só pra panfletar?

  12. Sergio S. Brasil disse:

    Perdôem-me o uso de um pouco mais de espaço. Para fugir da panfletagem solicito que os gênios esquerdistas ofereçam à sociedade um plano geral e detalhado para superar a crise econômica a que estamos submersos. Coisa séria, por favor!!!

  13. Sergio S. Brasil disse:

    O texto de Antonio é, infelizmente passional e, no fundo, pueril. É interessante observar como boa parte da chamada inteligência brasileira perde seu suporte analítico ao desconhecer o uso e a pertinência do método dialético. A dialética se constrói não na dicotomia ou na contraposição, porém na contradição, vale dizer educadamente: no dizer contra o dito. Marx soube fazer uso de sua proposta ao afirmar que o capital em sua afirmação também traz em sua contrafirmação a exploração do trabalho, desde que iniciemos nossa reflexão a partir da apropriação ontológica do valor de troca. O quadro de análise oferecido pela crise política e econômica implica em se questionar até que ponto a luta de classes está sendo deslocada do centro da investigação. Parece-me que sim. A institucionalização da democracia burguesa tem como efeito deslocador a centralidade principal: a democracia burguesa tem como operação orgânica o deslocamento dos conflitos entre opressor e oprimido. Esta pasteurização da luta de classes converge o analista político juvenil a imaginar que as crises são frutos de disputas políticas de mera contraposição, ou duais. Na dualidade – até mesmo a proposta por Descartes – os lados extremos se colocam ad hoc como antagônicos per se. Vale dizer: o dual se transforma facilmente no maniqueísmo adolescente. É nisto que peca o artigo do Antonio. Escreve-se sobre circunstâncias maniqueístas e a elas se confere a condição solucionadora das verdades. A questão é que por falta de dialética, o “papo” fica restrito ao que gosto e ao que não gosto. Um segundo ponto: O MTST assume atitudes panfletárias no momento que não trata a essencialidade de suas demandas como luta de classes. Faz-se estardalhaço, ocupa-se desastrosamente espaços públicos e, desalojados por determinação judicial, saem falando de um futuro que não vai acontecer porque a questão de fundo não foi superada. Além disso, é publico o financiamento do MTST por grupos pseudoesquerdistas. A saída é o MTST ? Qual outro movimento de base oprimida que constrói sua critica e reflexão com base na luta de classes. Criam-se “frentes” assépticas como a Frente Brasil Popular que, no fundo, representa uma camarilha de petistas frustrados a se anunciarem redentores da esquerda pró lulista. Não é isto que estamos esperando de seriedade. Vem a declaração da presidente da ADUFRJ que ganha uma eleição defendendo políticas de direita no contexto universitário. É ela referência revolucionária? Então o que está em déficit é uma reflexão séria e profunda sobre as contradições (viva a dialética!!!) da esquerda, uma esquerda que deixou deliberadamente seu conteúdo revolucionário no mais pleno sentido categorial marxista. Uma esquerda que esqueceu de refletir sobre as suas raízes, sobre as bobagens que produziu como soluções sociais. De uma esquerda que se bastou com bolsa família e Minha Casa Minha Vida, farelos de concessão socialdemocrata. Ficar blasfemando sobre a vitória da direita (aliás facilmente deduzida!!) é comportamento de antropóide ancestral. Pensaqr este gigante Brasil e conhecer cada uma de suas contradições sociais. Ficar panfletando em Outras Palavras é passatempo superado. A visão do opressor é sempre a mais fácil. A história só se transformará quando, pela indicação de Walter Benjamin, for escrita a contrapelo.

  14. marcio ramos disse:

    Perder para a direita medíocre nem pensar,

  15. Franklin Oliveira disse:

    Muito bem Antônio. Apreciei sua sensibilidade. É de boa parte dessas considerações que estamos imbuidos.

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