Economia é coisa de periferia

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Foto: Ig

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Como moedas solidárias, paralelas ao real, podem provocar aprendizagem, experimentação e desenvolvimento de lógicas não-capitalistas

Por Paulo Motoryn, da Revista Vaidapé

O empreendedorismo não é exclusividade do mundo dos negócios ou da juventude que lota as faculdades de administração por todo o Brasil. Economia não é apenas conversa de intelectual ou que se ouve no mercado financeiro. Mais do que esses espaços tradicionais e fechados, a periferia de São Paulo pode ser um grande laboratório para o aprofundamento em questões essenciais à discussão do desenvolvimento econômico brasileiro.

Foi o que se debateu em oficina oficina promovida no Sesc Belenzinho, durante o Estéticas das Periferias, nesta quinta-feira, 29. No Jardim Maria Sampaio, comunidade de cerca de 20 a 30 mil pessoas na zona sul da capital paulista, o Banco Comunitário União Sampaio traz dois conceitos chave para qualquer discussão que busque superar o modelo econômico vigente: autofinanciamento e sustentabilidade.

Com o trabalho baseado dentro da União Popular de Mulheres, entidade com forte inserção na região desde a década de 60 e que desenvolve trabalhos vinculados à educação popular, o Banco inventou sua moeda própria, o Sampaio, com aceitação no mercado local para incentivar os moradores a consumirem na sua própria região. Entre 20 ou 30 estabelecimentos aceitam o Sampaio, que é lastreado pelo Real. “A moeda solidária ainda é muito simbólica. Mas só de um cara debater e se questionar se vai aceitar a moeda ou não, se vale a pena investir nessa economia ou não, já é muito rico para a comunidade”, avaliou Rafael Mesquita, do União Sampaio.

Uma outra moeda social, o Solano, também figura nas relações econômicas da comunidade. Inicialmente apenas uma linha de crédito para iniciativas culturais, o Solano ganhou força e passou a ser uma articulação entre diversos coletivos culturais próximos à região. Assim surgiu a Agência Popular Solano Trindade, também vinculada à União Popular de Mulheres, e que administra a moeda – sem lastro com o Real.

“Temos o interesse de entrar na cadeia produtiva cultural inteira e não apenas financiar uma ou outra alternativa isolada, e sem um acompanhamento, para que faça parte de um processo econômico mais saudável”, explicou Rafael, que também ali representava a Agência.

Com clareza em relação às dificuldades de se enfrentar um sistema econômico estabelecido e com obstáculos na emissão de moedas e demais custos, Rafael argumenta que as iniciativas são também uma maneira de pautar as políticas públicas.

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