Bolsonaro sofre os primeiros revéses

Nas palavras, o capitão e seus assessores continuam cheios de empáfia. Na vida real, tudo é mais difícil — como mostram alguns fatos ocorridos esta semana

Por Antonio Martins | Vídeo: Gabriela Leite

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Um comentario para "Bolsonaro sofre os primeiros revéses"

  1. Carlos Roberto Magalhães Numeriano disse:

    Bolsonazi, um Cavalo de Troia
    (por Roberto Numeriano)
    A poucos dias da data fatídica, há muita gente se perguntando como chegamos até aqui, na iminência de um candidato fascista ser eleito presidente da República. Bizarro, despreparado e com evidentes tiques psicopáticos, Bolsonazi é a quimera que o ódio de classe e o preconceito social cevaram por anos a fio, alicerçados na mídia das oligarquias reacionárias, no Judiciário autocrático e ineficaz das pedantes castas togadas, nos templos neopentecostais das igrejas de Mamon e no conservadorismo ancestral de grande parcela da classe média.
    O mero fato de uma agenda fascista estar no segundo turno das eleições já demonstra a gravidade social, política e ideológica da situação. Mas não há nenhum mistério inefável nesse fenômeno de milhões de brasileiros cortejarem o abismo sob a ilusão de que lá embaixo, depois da queda, haverá o leite e o mel da terra da promissão.
    Em todos os eventos de ascensão de líderes fascistas ao poder sempre há como variáveis explicativas a desilusão, o ressentimento e a revolta das massas desempregadas e/ou de baixo salário, uma camada média vociferando por ordem, pátria e Deus, e os ricos de sempre, calculando como e quanto poderão ganhar durante e depois da era de terror político e social. Sim… Acaso a loucura reacionária de um país em transe eleja o profeta do ódio, a besta do apocalipse brasileiro, nem por isso sua presença será duradoura: o fascismo é por natureza politicamente entrópico.
    A questão a discernir é o tempo de duração de um eventual governo fascista, dado que qualquer análise se insere na equação do golpe de Estado de 2016 e os interesses de seus agentes no aparelho de Estado. De fato, o fenômeno do fascismo que saiu dos armários não é algo incidental na quadra política que, tendo como marco temporal as jornadas de junho de 2013, radicalizou-se no conflito político-ideológico em 2016 (com o impeachment fraudulento da ex-presidente Dilma Rousseff), e desaguou, após a cassação igualmente fraudulenta da candidatura de Lula, no parto de uma candidatura teratológica de um tipo demagogo, histriônico e incapaz, claramente similar, in persona, a Mussolini e Hitler.
    É esta essência monstruosa que nos faz levantar a hipótese de uma gestão caótica e breve, se o fascismo vencer a disputa com as armas da guerra suja no whattsap, sua trincheira virtual para os ataques a partir de uma gigantesca usina de notícias falsas, as famosas “fakenews”, operada aberta e descadaramente pelos seus grupos, apesar de constituir crime.
    Defendemos a hipótese porque observamos ser Bolsonazi uma espécie de “cavalo de Troia” político. Entra na eleição pela porta aberta da democracia como um presente providencial aos brasileiros. Esta democracia e os eleitores inocentes úteis do fascista serão as primeiras vítimas mortais do presente de grego que a Rede Globo, o Judiciário autocrático e a grande parcela da classe média conservadora cevaram diuturnamente, até o ovo da serpente chocar.
    Em breve, o país vai testemunhar que os interesses econômicos e sociais defendidos pelo fascismo são os das castas ancestrais, cabendo ao trabalhador assalariado suportar a acumulação de riquezas dessas castas, e ao pensamento crítico a porrada e a perseguição político-ideológica de sempre. No meio disso tudo, o saque do país será ainda mais acelerado pelo Congresso mais reacionário já eleito na história, aprovando os crimes de lesa-pátria a partir de gordas propinas.
    Mas há outra variável importante na hipótese. Bolsonazi claramente encarna em si, no seu ser político neurótico e reacionário, os elementos de sua autodestruição. Ele é seu próprio inimigo, porque seu discurso e prática se fundamentam na violência da força, na negação do consenso social, na afirmação de uma thanatos política como mítica fórmula purificadora contra os “maus políticos”, os “pervertidos sexuais”, os “comunistas”, os “nordestinos sub-raça”, os “negros, pardos e índios inferiores”.
    Na perspectiva de sua “eleição” (que Deus nos livre de semelhante eterno opróbio), seus soldados, uma vez desembarcados numa Troia desolada e pasma, deverão imediatamente operar na perspectiva da mentalidade autofágica do fascismo por dentro do aparelho de Estado. É aqui, então, que deverá ocorrer uma inflexão militar do golpe de Estado civil na trina aliança (pequeno supremo e autocracia judiciária, corporações midiáticas e parlamento corrupto).
    Tal inflexão é muito provável porque a vertente militar que compõe o seu grupo político boçal (militares fascistões que tresandam ao sinistro mofo dos Doi-Codi dos porões de quartéis), não vai permitir uma crise institucional aguda que arraste o país para uma convulsão social, mas tampouco poderá se sustentar no aparelho estatal sabendo todos que a causa desse desastre é justamente aquele que os guindou ao poder. Poderemos ter, então, a nossa “noite das facas longas” hitleriana, diferente apenas no fato de que haverá ou haveria um magnicídio pelo afastamento “legal” (o pequeno supremo está aí, “pau pra toda obra” desde 2016) do demagogo teratológico.
    A possibilidade do magnicídio é forte também em função do fator humano. Quem olha para o general Mourão e escuta suas sandices racistas e sua xenofobia percebe que o candidato a vice-presidente vai conspirar para derrubar o capitão boquirroto, mal adentre o Palácio do Jaburu. Será um belo espetáculo acompanhar a guerra aberta e de bastidores, até que um dos dois seja anulado na disputa pelo poder de fato no aparelho do Executivo. E afirmo desde já que não seria ou não será o general o derrotado nessa batalha suja.
    Por fim, há um aspecto “positivo”, em termos político-ideológicos e sociais, na hipótese do vergonhoso desastre se dar. A agenda reacionária da casa-grande terá saído à luz cristalina da luta de classes, expondo a todos a essência do seu ódio, preconceito e egoísmo social, seu moralismo de fancaria, sua natureza predatória do trabalho e seu liberalismo araque burguês. Será a prova final de que nunca fomos um povo cordial, muito menos socialmente solidário e politicamente civilizado. Alguma purgação de nossas taras e mazelas sociais, cruenta ou não, deverá ocorrer do caos que advir por dentro das instituições, entre as instituições e no corpo social.
    Haverá ou haveria, portanto, uma pedagogia política e ideológica na educação de uma parcela das massas assalariadas pelo contraste entre o que prega a agenda fascista e o que ela é, na prática. O fascismo brasileiro já é, como programa social e político, a radicalização do neoliberalismo que o golpe de Estado conseguiu imprimir até se esgotar o caixa e o tempo político de Temer, que conta os dias para desaparecer nas trevas de onde saiu.
    Roberto Numeriano é jornalista, romancista, pós-doutor em Ciência Política e produtor cultural.

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