Uma brasileira na "Terra da Liberdade"

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“Dessa vez não permitiram minha entrada. Tomaram meu celular, me obrigaram a dar a senha, invadiram minha privacidade. Me deixaram trancada por 16 horas até o próximo voo. “I’m so sad, I’m so sad”, repetia uma nigeriana. Realidade neurótica, pessoas de olhares opacos, doentes de si”

Por Maju Passos, em seu perfil no Facebook | Imagem: Badgalriri

Já fui aos Estados Unidos diversas vezes, mas dessa vez não permitiram a minha entrada no país. Alegaram que eu estava mentindo, disseram que meu perfil (mulher, solteira, sem filhos, dançarina, negra e brasileira) não me dava credibilidade, que para eles eu estava tentando ingressar no país para ganhar dinheiro ilegalmente. Eu estava indo participar pela segunda vez de um programa de residência artística entre brasileiros e americanos proposto por Leda Muhana, projeto incrível que estimula o intercâmbio entre artistas através da montagem de um espetáculo e aulas envolvendo a comunidade de Cape Cod – MA.

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Foram em vão todas as minhas tentativas de fazer eles entenderem que o dinheiro não é a única moeda de troca. Que os valores envolvidos nesse projeto são outros. Depois de quase cinco horas de sob pressão para eu admitir uma verdade que não era a minha, tive meu visto cancelado, tomaram meu celular, me obrigaram a dar a senha, invadiram a minha privacidade (mensagens, redes sociais, fotos, e-mails, contatos) disseram que eu tinha o direito de responder as perguntas e ficar calada e mesmo sem provas me fizeram assinar um documento onde eu, além de concordar com eles, não teria direito de recorrer o que foi afirmado, mas que poderia solicitar outro visto chegando no Brasil.

 

Me deixaram só com a roupa que vestia, sem qualquer pertence, trancada por mais 16 horas até o próximo voo para o Rio de Janeiro. Eu dividi essa sala fria que tinha um banheiro sujo, um sofá e algumas cadeiras com uma indiana e uma nigeriana que chorava e repetia sem parar I’m so sad, I’m so sad… Por horas esse mantra foi a trilha do meu silêncio em pensamentos que não achavam soluções para tamanha sensação de impotência. Chegou a hora do meu voo, fui levada por dois políciais que ficaram na porta do avião até a decolagem.

Como pode quem está em posse de algum poder se fortalecer em frente à vulnerabilidade? Uma realidade neurótica, pessoas de olhares opacos, doentes de si. Mas agora já estou em casa, me sentindo acolhida, segura e com a certeza de que não teria melhor lugar para estar que onde estou. Gostaria de saber o destino da nigeriana que chorou perto de mim, me pediu ajuda e eu nada pude fazer. Sinto pela experiência que teria, pelas pessoas que iria reencontrar e fortalecer os laços. Leda Iannitelli, David Iannitelli que bom que esse país tem vocês, continuem sendo amor e semeando arte. Façam um espetáculo lindo!, Em Cardinale, Naomi Turner,Nanas Way, Jc Stahl me representem, de alguma forma estarei com vocês, dancem, dancem, dancem!

E Bresil, tô de volta!

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Um comentario para "Uma brasileira na "Terra da Liberdade""

  1. roberto disse:

    Quando você sugere “ódio aos imigrantes”, não posso concordar, portanto, não me disponho a responder. Aqui, com relação aos imigrantes, não há ódio, exceto, em certas “” cabecinhas. e artigos tendenciosos.

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