Sob Bolsonaro, Petrobras está mais vulnerável a crises

Venda de refinarias e aumento das importações de diesel e gasolina fez Brasil refém do dólar. Na última grande queda no preço do petróleo, estatal brasileira registrou perda de R$ 91 bi – número 15 vezes maior que corrupção alegada pela Lava Jato

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Por Rede Brasil Atual

O economista Cloviomar Cararine, da subseção do Dieese na Federação Única dos Petroleiros (FUP), afirma que a atual política de preços tornou a Petrobras mais vulnerável a turbulências do mercado externo. Ele também critica a decisão de manter a empresa concentrada na exploração de petróleo bruto, reduzindo a sua capacidade de refino.

A perda de R$ 91 bilhões em valor de mercado em um único dia comprovam que as políticas adotadas desde o governo Temer, e agravadas com Jair Bolsonaro, fragilizaram a empresa – acarretando perdas inclusive para os seus acionistas.

Os mercados explodiram nesta segunda-feira (9) após a Arábia Saudita cortar os preços oficiais de venda de petróleo e sinalizar para o aumento da produção. O preço do petróleo nos Estados Unidos fechou em queda de 24,59%.

“É um setor que deve ser olhado como estratégico, como uma questão de soberania dos países. Quem toma as decisões não são empresas, mas os países, como no caso da Rússia ou da Arábia Saudita. O Brasil abriu mão disso. Desde 2016, abriu mão do Estado tomar as decisões nesse setor”, afirma Cararine à Rádio Brasil Atual.

Consumidor

O técnico do Dieese diz que é preciso aguardar se os preços internacionais do petróleo se manterão nesses níveis após a queda. Ainda assim, ele diz que a redução pode não se refletir em economia para os motoristas.

Isso porque, diferentemente do adotado durante o governo Temer, não há reajuste diário dos preços dos combustíveis, mas no mínimo a cada 15 dias. Ele diz ainda que as reduções podem se perder ao longo da cadeia, entre distribuidores, até chegar nos postos de gasolina. A falta de estabilidade dos preços prejudica a fiscalização dos preços.
Refino e dólar

Hoje a produção total do Brasil alcança, em média, 3,5 milhões de barris de petróleo por dia, mais da metade oriundos dos poços do pré-sal. A capacidade do parque de refino brasileiro é de cerca de 2,4 milhões de barris, que poderiam ser transformados em gasolina, diesel e outros derivados.

Contudo, a atual orientação da empresa é reduzir essa capacidade, inclusive já tendo anunciado a venda de oito refinarias – quatro delas em estágio avançado.

A intenção é manter o refino apenas para atender parte do mercado consumidor do Sudeste, o que faz com que a empresa seja obrigada a importar combustíveis para suprir o restante da demanda.

Com a subida do do dólar, que acumula alta de 18% em 2020, o preço dos importados também sobem, o que pode neutralizar a queda do preço internacional do petróleo.

“Temos capacidade de refinar muito petróleo e até exportar derivados. A política atual é não utilizar todo o nosso parque de refino. A decisão é refinar 1,7 milhões daqueles 2,4 mi. Acabamos tendo que importar derivados. A gente está passando por uma situação que não precisaria. Poderíamos passar suavemente, se não fossem essas políticas adotadas”, explicou Cararine.

Ativos mais atrativos

A alta do dólar torna mais atrativa a venda de ativos da Petrobras, e mais fácil a sua aquisição por empresas estrangeiras, o que pode impulsionar ainda mais a política “deliberada” do atual governo, de privatizar “a qualquer preço”.

O risco, segundo Cararine, é tornar o Brasil ainda mais suscetível aos choques externos. Com a queda do óleo bruto, as petroleiras internacionais devem frear a exploração e investir mais no refino. A Petrobras deveria acompanhar tal movimento, em vez de facilitar a vida das competidoras.

Papel da estatal

O técnico do Dieese destaca que, na maioria dos países, o setor energético é “estratégico” para o desenvolvimento e, por isso, mantido sob controle estatal. Na mão do estado, mas voltada para atender os interesses dos acionistas, a Petrobras deixa de servir como indutora do crescimento, adotando políticas de combate à crise econômica, que poderiam favorecer, inclusive, a criação de empregos.

“São decorrentes de investimentos de longuíssimo tempo da população brasileira. Não dá para abrir mão disso. Perder essa empresa, vende-la para o mercado, é coisa de maluco. Preocupa ver pouca reação da população, que não percebe que as empresas estatais são centrais, tem sua importância e custaram muito para a gente. Não podemos agora abrir mão dessas empresas a preço baixo, e numa conjuntura que poderia ser evitada”, afirmou o economista.

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