Por que a Folha esconde Kassab?
Denúncia de profissionais da redação revela: jornal optou por omitir nome do prefeito, em manchete sobre corrupção dos auditores de SP
Por Renato Rovai, em seu blog
Publicado 11/11/2013 às 19:35
Denúncia de profissionais da redação revela: jornal optou por omitir nome do prefeito, em manchete sobre corrupção dos auditores de SP
Por Renato Rovai, em seu blog
Há um constrangimento entre repórteres e editores no grupo Folha-Uol com relação à cobertura que está sendo realizada por essas redações no caso do esquema da quadrilha formada por auditores da Prefeitura de São Paulo que pode ter desviado mais de 500 milhões de reais dos cofres públicos.
Desde ontem este blogue conversou com quatro jornalistas dessas redações e todos, com um ou outro detalhe diferente, confirmam a tese que me foi levantada por um deles. De que este é um “caso do Otávio Frias”. E de que ele teria dado a seguinte ordem: “não importa o que aconteceu antes, importa saber a corrupção nesta gestão”.
Três deles confirmam que há gente trabalhando para que a cabeça de ao menos de um petista seja cortada do governo antes do final do ano. Um disse que acha que há equívocos na cobertura, mas que considera isso parte “da teoria da conspiração”.
O fato é que hoje o jornal Folha de S. Paulo traz como manchete de hoje a seguinte frase: “Prefeito sabia de tudo, diz fiscal preso, em gravação”. Quem é o prefeito de São Paulo? Haddad, claro. Kassab é ex-prefeito. E Kassab tem nome. E o nome dele poderia muito bem substituir a palavra prefeito. Ou se a folha fosse ao menos um pouco correta, a de ex-prefeito.
Quem apenas passou pelas bancas e viu a manchete, passará o dia com a certeza do envolvimento de Fernando Haddad no esquema de desvio do Imposto Sobre Serviços na Prefeitura de São Paulo.
Na versão online da notícia, a Folha mantém o tom. E até o terceiro parágrafo do texto o leitor não é sequer informado sobre quem é o “prefeito”.
Já o G1, das organizações Globo, deu o seguinte título: “Kassab sabia de tudo, diz acusado de chefiar fraude em telefonema gravado”.
O trecho transcrito da gravação do telefonema de Ronilson Bezerra Rodrigues , que seria um dos chefes da quadrilha, é o seguinte:
“É um absurdo. Paula, tinha que chamar o secretário e o prefeito também, você não acha? Chama o secretário e o prefeito que eu trabalhei. Eles tinham ciência de tudo.”
A Paula citada é Paula Sayuri Nagamati, que teve seu depoimento do dia 31 de outubro à promotoria revelado. Ela teria dito neste dia que só sabia que Ronilson teria dado dinheiro ao secretário Donato. Ou seja, não se recordava deste telefonema de Ronilson, onde ele provavelmente se referia a Mauro Ricardo, de quem ela foi chefe de gabinete. E ao ex-prefeito Kassab.
Paula, ao que tudo indica, também fazia parte do esquema. E foi à promotoria para tentar salvar Ronilson e seus parceiros. Por isso batucou o nome de Antonio Donato no depoimento. Na tática diversionista da quadrilha, era preciso achar alguém do PT para tirá-los do foco.
A relação de Paula e Ronilson é bastante comentada na sede da prefeitura de SP. Este telefonema revelado ontem não seria o único grampeado de conversas entre eles. Existiram outros que revelariam um nível bem mais alto de intimidade.
Mas quando Paula foi exonerada ontem, qual foi a cobertura do UOL? Tentou transformá-la em vítima e depois forçou uma manchete absurda para mostrar que o secretário de governo da Prefeitura perdera a confiança do prefeito.
O UOL manchetou que Haddad afirmara que a situação de Donato era delicada. E anunciava que isso seria uma mudança de posição. Ou seja, o ex-presidente do PT estaria na marca do pênalti. O que corroboraria a tese de que tudo não passaria de mais uma lambança petista. E de que Serra, Kassab e Mauro Ricardo Dias, que agora trabalha com ACM Neto, em Salvador, e que diretamente ou indiretamente comandou a pasta da Finanças de São Paulo nos últimos 8 anos, eram inocentes.
Não é só o KASSAB. Mas a outra face da moeda. Como seria publicar os nomes das construtoras. Perderia aqueles anuncios gigantescos de lançamentos de prédios. A corrupção é como uma moeda. Tem duas faces. Nestes escândalos só se fala com prioridade de uma das faces. Só uma é punida e execrada. Parece que as legislações são instituídas em burocracia obsoleta com o intuito de abrir as portas para o enriquecimento ilícito de alguns. A “venda” de facilidades é o nome do jogo.
A mídia tradicionalista mais uma vez praticando o crime da corrupção seletiva. Corrupção é um delito horrendo, mas esses caras só querem mostrar a corrupção de um lado ou pegar a do outro e jogar para este.