Os barões do busão andam de Ferrari

Mineiro tem 3 mil ônibus e 24 empresas. Dono da Gol controla metade da frota de Brasília. Filho de “rainha” do ABC contenta-se com carros de luxo

Por Marcos Aurélio Ruy e Van Martins, no UJS

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Mineiro tem 3 mil ônibus e 24 empresas. Dono da Gol controla metade da frota de Brasília. Filho de “rainha” do ABC contenta-se com carros de luxo

Por Marcos Aurélio Ruy e Van Martins, no UJS

Nos debates e mobilizações que buscam solucionar o problema do transporte público, a grande mídia e uma pequena parcela da sociedade têm escondido a responsabilidade dos empresários, ou melhor, da máfia dos transportes públicos. De nada adiantará os subsídios governamentais, que pesam no bolso da população junto com as altas tarifas, se a caixa preta dos custos e lucros não for aberta, permitindo um debate transparente com toda a sociedade.

Ricos empresários para pobres usuários

No dia 13 de maio, foi encontrada uma Ferrari destruída no Cebolão (junção da Marginal do Tietê com a do Pinheiros), na capital paulista. O motorista mandou retirar as placas e outras peças do veículo e abandonou o local.  Mas descobriu-se que o carro, que custa cerca de R$ 2 milhões, pertencia a José Romano Neto, filho de Maria Setti Braga, dona de um império de transporte em São Bernardo, no ABC Paulista. O carro foi encontrado totalmente destruído por estar em altíssima velocidade.

Já o mineiro Joaquim Constantino de Oliveira é o maior empresário do setor de transportes do mundo. Ele tem 6.000 ônibus e 24 empresas em cinco cidades e fatura R$ 800 milhões por ano. Outro empresário de Belo Horizonte, José Ruas Vaz, é dono de 3.400 ônibus e fatura R$ 600 milhões ao ano. Em São Paulo, Joaquim Constantino já domina 13% do mercado, numa cidade onde circulam 15.025 veículos. Constantino faz parte do chamado “grupo mineiro”, que veio tomar conta do transporte de São Paulo. Como empresário bastante agressivo, começou a comprar diversas concorrentes até transformar-se no maior dono de frota de ônibus do mundo.

Uma ação na Justiça do Distrito Federal questiona a manobra da família Constantino, dona da Gol Linhas Aéreas, para controlar quase a metade do transporte público de Brasília – um negócio que está pela primeira vez em licitação e que deve render R$ 8 bilhões em dez anos. Embora uma lei distrital proíba que um mesmo grupo econômico explore mais de 25% da frota de ônibus da cidade, as empresas administradas pelos herdeiros do patriarca Nenê Constantino já asseguraram 24% e estão no páreo para abocanhar mais 16%.

O Ministério Público do Distrito Federal recomendou que fosse revogada a decisão que habilitou a Viação Piracicabana a participar de licitação para atuar no sistema de transporte do DF. A empresa não havia enviado relatório minucioso de providências tomadas sobre supostas ilegalidades. A recomendação foi ignorada e a Piracicabana ganhou a licitação.

Jacob Barata e Jacob Barata Jr

Em Belo Horizonte, a força dos tubarões do transporte é tamanha que a maioria das empresas está nas mãos de apenas seis empresários. Nas décadas de 1960 e de1970, eles receberam as linhas de graça da prefeitura e ainda ganharam o direito de explorá-las sem pagar impostos. Na década de 1980, o governo de Minas Gerais deixou por conta dos empresários do transporte a decisão do valor das tarifas cobradas nos ônibus da capital mineira, com a possibilidade de reclamar na prefeitura caso tivessem prejuízos.

Já o empresário Jacob Barata quer ampliar os negócios da família, que é dona de 25% da frota de ônibus do Rio de Janeiro, Barata vai tentar a sorte na privatização de trens e barcas do estado. O transporte urbano no Rio é negócio de lucro certo superior a R$ 1 bilhão por ano. Porque cerca de 80% da população da capital fluminense depende dos ônibus para se locomover.

Na região metropolitana de São Paulo, todas as linhas de ônibus são operadas por 16 consórcios privados, que respondem à São Paulo Transporte (SPTrans) através de concessões do poder público, que se estendem por 15 anos.

Essas empresas limitam informações a respeito de seus faturamentos, o que denota a utilização do esquema denominado “caixa preta”.  Muitas não têm sequer um site; outras, quando têm uma página na internet ou nas redes sociais, não informam nem mesmo quais os nomes de seus presidentes ou diretores. Essa ocultação inviabiliza uma consulta pública sobre quem são os empresários que dominam o transporte coletivo na cidade.

Joaquim Constantino é o maior empresário do setor no mundo

Joaquim Constantino é o maior empresário do setor no mundo

Por isso, revogar os aumentos das tarifas de transporte em todo o país torna-se fundamental para a discussão de novas políticas, com a conseqüente valorização do transporte coletivo para melhorar a vida nas cidades. É o caminho para dar mais transparência ao setor e coletivizar, por meio de conselhos de que participe a sociedade civil organizada, as decisões sobre o setor.

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14 comentários para "Os barões do busão andam de Ferrari"

  1. caroline disse:

    vc está certíssima Bruna Pimentel.

  2. Coitados dos Barões(tubarões) do transporte urbano. Eles têm que bancar uma porrada de vereadores, deputados, prefeitos, governadores, fiscais, …o que sobra é tão pouco…

  3. MARCOS NASCIMENTO disse:

    o Companheiro da Argentina Pedro Cuello está com toda a razão! Infelizmente até mesmo em alguns países ricos do Mundo como a Inglaterra existe também uma máfia de transporte principalmente nos dias atuais pois em Londres por exemplo não existe mais a figura da empresa pública de transporte coletivo pois lá atrás a mesma (London Transport) foi 100% privatizada pelo governo da falecida primeira ministra Margareth Thatcher. Inclusive prá quem não sabe foi nesse modelo que em 1993 o “general”Paulo Maluf quando prefeito eleito pela primeira vez com o voto direto resolveu PRIVATIZAR a CMTC que na época tinha 3679 ônibus (infelizmente, a maioria sucateados é verdade!), porém a CMTC servia para comparar os parâmetros tarifários e de custos com o que as empresas particulares apresentavam naquela época, uma vez que já eram 54 empresas diferentes (16 eram do Ruas conforme link da matéria acima), várias eram do Constantino de Oliveira (que desde 2003 não participa mais do transporte paulistano pois “perdeu”a licitação durante o governo da Martaxa Suplício por ocasião da implantação do Interligado. Apenas uma correção, hoje SP (a cidade) está dividida em 8 àreas, cada uma com uma cor diferente e isso é muito bom pois ajuda o usuário a se locomover pela cidade toda, porém dentro destas áreas em TODAS existem empresas sozinhas + empresas consorciadas + cooperativas.
    Prá vocês saberem quando é empresa ou consórcio é fácil é só observarem que a dianteira e a traseira dos ônibus tem pintura de uma só cor.
    No caso das cooperativas é o mesmo modelo de pintura, só que observando que a parte frontal e traseira usam a cor BRANCA.
    Resumindo: Os ônibus que tiverem a inscrição PREFEITURA DE SÃO PAULO, são os gerenciados pela SPTrans e se eles tiverem metade da cor em BRANCA significa que são das cooperativas, a nova máfia dos transportes de Sampa e que só usam esses malditos micros que vivem lotados o dia inteiro!
    Algumas coooperativas são boas e compreendendo a necessidade já estão investindo em ÔNIBUS, mas a maioria delas ainda tem micros ou micrões e o pior gente é que o Fernando Haddad prefeito já declarou na imprensa (e vocês podem pesquisar isso!) que VAI AUMENTAR o número de cooperativas para mais 4 delas (possivelmente mais uns três mil microônibus) Logo, o transporte vai piorar em Sampa, pois quando entra dois micros sai um ônibus. São Paulo está na contra mão dos países latinoamericanos que estão fazendo o contrário como no Chile e na Colômbia que estão trocando dois microônibus por um ônibus bem melhor para o trânsito.
    Outra correção na excelente matéria do autor. Faltou falar sobre o transporte METROPOLITANO que está presente em 5 regiões diferentes do Estado de SP e é um LIXO! ´Prá começar também tem o mesmo monopólio e ainda por cima por ORDEM DO Governador Alckmin que era vice de Covas em 1995 ou seja há 20 loooongos anos atrás quando os tucanos fizeram ninho em SP, TODOS OS ÔNIBUS METROPOLITANOS TEM QUE SER AZUL como se fossem do próprio Governo! Além disso prá quem não sabe AZUL é uma das cores da bandeira do PSDB !!! Propaganda política barata disfarçada de pintura fardada !!! Cadê o Ministério Público, Federal etc… ??? Enquanto isso a cada vez\ que eu vou à São Paulo eu me ferro quando pego os ônibus metropolitanos pela dificuldade de existir só essa cor em todos os cantos, já com relação ao sistema urbano da cidade, pelo menos eu consigo andar com mais tranquilidade pois em cada região tem uma cor diferente pois são 8 áreas diferentes por consórcio e cooperativa. Já o METROPOLITANO é uma bosta nos dois sentidos: os ônibus PSDB são um lixo!!!

  4. Pedro Cuello disse:

    Desconocia la “MAFIA” que maneja el tranporte en Brasil con el visto bueno del PT. E identica la situación en Argentina. La unica solución es un gobierno REALMENTE progresiata que termine con los subsidios y cooperativice TODOS los tranportes. Como se ve los gobiernos “POPULISTAS” son el freno a los movimientos populares

  5. Dinio disse:

    É bom colocar esta matéria também nas redes, principalmente para que os ignorantes entendam como são organizados os transportes coletivos, isto em todo o pais. Para que vejam que é paliativo R$ 0,20 de redução, mesmo que represente duas cervejas no fim do mes, não resolve a questão primordial, que é a promiscuidade da relação entre as concessões
    do transporte público e as prefeituras e câmaras de vereadores de todo o pais. Esta redução quem está pagando é o próprio contribuinte, através do subsídio. Do bolso dos “BARÕES” é que não vai sair, não sejam ingênuos.
    É preciso lei municipal, que obrigue a publicação da planilha de custos das empresas de transporte público, bem como sua contabilidade. Mas claro estas leis são feitas pelos Vereadores, que por sua vez -muitos são financiados por quem…me digam? É preciso entender que existe toda uma cadeia beneficiada com o “sistema” do transporte coletivo; não são só os “barões” donos das empresas de ônibus; tem os “barões” dos combustíveis, “barões” dos pneus, “barões” das autopeças, “barões” bancários, “barões” dos seguros, “barões” das fabricantes dos ônibus, e a lista é segue, e claro, toda esta “baronada” tem condições sim de ter sua “ferrarizinha” pra brincar nos finais de semana, quanto tem menos ônibus nas ruas transitando. Daí a importância do Financiamento Público de campanhas políticas, que na verdade,por tabela já o é, só que sem o devido retorno justo, para quem financia, perceberam!!!

  6. A máfia dos tubarões dos busões…

  7. Antonio Martins disse:

    Obrigado pelo alerta! Corrigidos.
    Abração
    Antonio Martins, editor

  8. Bruna Pimentel disse:

    José Ruas Vaz não é dono, apenas, de um império em BH. O Grupo Ruas detém 53% da frota paulistana. E isso em 2008. – http://www.terra.com.br/istoedinheiro-temp/edicoes/634/imprime157108.htm

  9. João disse:

    muito bom!

  10. Lilian disse:

    Muitos erros ortográficos e de concordância. Cadê o editor? Fora isso, ótimo texto e essencial para se iniciar um debate acerca do assunto

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