Menina-mulher-objeto

Fotos erotizadas de modelo de 10 anos para revista de moda expõem relações entre sexualidade e juventude que pautam adultos de hoje. Foto: Reprodução

Fotos erotizadas de modelo de 10 anos para revista de moda expõem relações entre sexualidade e juventude que pautam adultos de hoje. Foto: Reprodução

 

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A sexualidade antecipada da modelo de 10 anos em ensaio para revista de moda é postiça e natural, sem dúvida precoce, como uma fruta colhida cedo demais

Por Carta Na Escola, Carta Capital

Por Indicação de Pedro Pereira

Andar pela casa com os sapatos de salto alto da mãe, colocar seus brincos e pulseiras, batom e perfume… Que menina nunca fez isso? Que menina não quis vestir os signos da mulher adulta e imitá-la? É assim que crescemos, nos espelhando nos outros; buscando, por meio dos gestos copiados, um modelo a seguir, uma orientação para ser. A mola mestra da vida está em seguir exemplos. Fazemos isso com pais e mães, mas também com artistas, professores, enfim, com aqueles que chamam a nossa atenção e provocam o nosso interesse.

Mesmo já adultos, são os outros que nos inspiram e que imitamos: nos vestimos como se vestem os profissionais da nossa área, por exemplo. Agimos e falamos como eles, frequentamos os mesmos lugares e adotamos para nós os fins e valores que eles têm.

Portanto, brincar de ser adulto, sob essa ótica, não só é algo corriqueiro para as crianças como também esperado. Não nos causa estranhamento desde que, nesse terreno, não adentre nenhum toque de sexualidade, como no caso das fotos da menina de 10 anos, Thylane Blondeau, para o mundo da moda. Ensaio de modelo e de que mais?

A mim, particularmente, as fotos incomodaram por terem um toque bizarro. A sexualidade antecipada de Thylane é uma fantasia que ela enverga como se fosse sua mais original realidade. Uma sexualidade, ao mesmo tempo, postiça e natural.  Sem dúvidas, precoce. Fruta verde colhida cedo demais.

Fiquei me perguntando, ao olhar as fotos, o que tudo aquilo significaria para a própria Thylane. E se ela entenderia os olhares que certamente a contemplariam. Compreenderia o desejo sexual? Saberia decodificar e lidar com a pedofilia? Saberia o significado de ser criança-mulher-objeto? Puro produto de consumo?

E a anorexia? Saberia que é uma doença e não um padrão estético? Nas fotos, seus bracinhos compridos parecem modelados por ela. Seu corpo todo controlado pelos critérios do mundo da moda: a escassez.

Penso que não só o corpo, mas toda sua vida deve ser parametrada pelas necessidades e ritmos da carreira escolhida (não -certamente por ela): horários de dormir e acordar, alimentos que consumir, férias, tempo para a escola, brincadeiras, companhias, interesses, objetivos, sentido da vida, enfim.

Temo que Thylane construa sua identidade a partir de uma circunstância de trabalho. E de uma circunstância que a condiciona a ser corpo em serventia, principalmente para os interesses anônimos do consumo. Seria uma identidade recolhida da sua condição prematura de mercadoria: sem vontade própria nem destino pessoal. Uma identidade a serviço do desejo (do outro), dos interesses (do outro), da admiração (do outro), da cobiça (do outro)…

As “Thylanes” da moda são meras imagens vestidas de erotismo e vendidas como tal.  Mas, se o mercado da moda chega a tanto, é porque recebe da sociedade seu consentimento. Nessas pequenas modelos se apresentam as duas consignações mais presentes em nossa sociedade: sexualidade e juventude. A elas, de um modo ou de outro, todos nos curvamos e por elas somos atingidos.

Juventude estendida

A sexualidade tem sido a exigência capital para quase todas as situações. Ela substitui o amor, a honra, a inteligência, a honestidade, o interesse pelo bem comum… E é requisito para a conquista de empregos, namoros e casamentos, autoestima, posição social etc. No dia a dia, são essas convocações da sexualidade que nos fazem frequentar academias, fazer dietas, nos equilibrar em saltos desconfortáveis e danosos, escolher o estilo das roupas. O insuportável é não ser (sexualmente) desejável.

A juventude tem sido o que rege a busca desenfreada pelas plásticas.  Aos 30 anos já são muitos os que recorrem a ela, não para corrigir imperfeições, mas para esconder os primeiros sinais da idade. O estilo do vestuário é todo determinado pelo gosto juvenil e os tamanhos pautados por essa faixa etária.

A juventude, porém, tem de ser cada vez mais extensa. Ela não é vista como um estiramento para a longevidade, mas em direção à infância. E quanto mais jovem aparentarmos ser, mais desejáveis seremos. Ser desejável é ser jovem, quase uma criança – assim é que sexualidade e juventude se conciliam.

Vestindo a criança com a moda adulta, podemos ter a ilusão de que é a vida adulta que impõe padrões à infância e a obscurece. Mas, se olharmos de perto, e com calma, compreenderemos que é da infância que a vida adulta tem retirado os padrões de seu comportamento e aparência.

Não é apenas a criança que se torna, através da sexualização precoce, adulta mais rapidamente. São os adultos que sonham em não crescer. E, inadvertidamente, acabam por construir

 

 

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9 comentários para "Menina-mulher-objeto"

  1. Neci Maria M. Santos disse:

    Acho q cabe a mãe ensinar e capacitar os filhos dentro de cada estagio q o ser humano passa. Infancia é infancia com todos os folguedos e traquinagem. Adulterar essas fases é robotizar a criança q deixara a naturalidade de ser infantil pra se tornar uma adulta precoce com todas as
    dificuldades de um adulto psicologicamente preparado. Não saberá tratar com as diversidades da vida q são inumeras. Arrasada cairá em depressão ou em crises de raiva gerando transtornos mentais (TOC, narcisismo, etc).
    Mães não apliquem em seus filhos os seus desejos frustados!!

  2. Cristina disse:

    Concordo com suas palavras, e mais, as utilizo para falar do dinheiro fácil que você citou, o caminho a ser traçado para ser uma cientista, medica, ou professora é um caminho árduo e muitas vezes não compensatório financeiramente. Vivemos na cultura do imediatismo, onde a imagem do hoje e o que podemos ganhar com ela é mais importante do que uma realização de uma profissão de longo prazo. Nossas jovens e nossas crianças são escravizadas por essa mídia, e os falsos valores se perpetuam.

  3. nyddy disse:

    Ana e Marcelo, faço minhas as palavras de vcs. E acrescentaria o meu ponto de vista em relação ao comentário: “qual é o mal?”. O mal está justamente em pensar que tudo é normal, justificar os abusos qdo os abusadores foram estigados…Cortar ou antecipar qualquer fase da infância não seria um mal? Ou é normal? Vou morrer com minha opinião “anormal”.

  4. nyddy disse:

    Criança é criança em qualquer lugar do mundo. Merece atenção e respeito independene de país.

  5. Marcelo Augusto disse:

    Perfeito Ana… Eu diria mais… Pra mim esse ensaio foi feito pra um público adulto que incita à pedofilia, instigando o instinto animal por novinhas.

  6. ana disse:

    O mal de fazer uma produção mais adulta não é nenhum, como refere o artigo, as próprias crianças o fazem sozinhas.
    Mas sozinhas, as crianças não colocam o corpo e o rosto desse modo, muito comum na moda, que representa uma certa provocação e sobretudo submissão, conotadas com a sexualidade. As crianças gostam de experimentar saltos, mas durante pouco tempo, já que são desconfortáveis e anti-naturais e dificultam o andar.
    Esta criança está refém da imagem que queriam extrair dela. O que deve ter penado para lhe ser colocada toda a caracterização, roupas e maquilhagem…
    O mal desta produção é que se está a sexualizar não apenas esta criança mas a infância em geral e a dar asas aos potenciais pedófilos reprimidos.

  7. arkdoken disse:

    Egle, a reportagem é sobre uma criança americana ou francesa, pra quê falar mal do Brasil?!

  8. Flávia disse:

    Deus, é uma miuda qual é o mal de fazer uma produção mais adulta?
    So quem é perverso é que vê isso, é uma miuda linda que se quer ser modelo que continue a lutar por isso, pareçem raibosos quem escreve contra quem desfila e desfilou omg.

  9. egle e siquera disse:

    A quem interessa tdo isso?
    O Brasil tem, e mantém turismo sexual. As crianças s induzidas a um consumismo desenfreado, e a um culto a aparência,ao corpo, ao umbigo , ao invés de culto ao conhecimento, ao saber, ao cérebro.
    Reclamamos da forma como somos vistos lá fora: brasileiros tachados de ladrões, e mulheres de vagabundas. Mas como agem qdo entram em outros países? Muitos e inclusive os ricos, aproveitam oportunidades p levar vantagem, roubar etc
    Já as mulheres seguem em grande numero em busca de dinheiro fácil.
    Aí qdo pessoas v fzer turismo mesmo, ou cursos, tratam como vimos em noticias de forma desabonadora, numa generalização ultrajante.
    Essa menina poderia ser uma cientista, mas desse jeito n sera.
    Repito,a quem interessa a manutenção desse estado de coisas?
    Abrs,
    Egle

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