Lélia Gonzalez e o “pretuguês” na psicanálise

Em ensaio notável, antropóloga examina palavras – “mulata”, “mucama”, “mãe-preta” – que expõem racismo e sexismo brasileiros. Ela provoca: certos traços de nossa formação não cabem nem em Freud e Lacan, nem em intelectuais como Caio Prado

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Por Alessandra Affortunati Martins, na Revista Cult

É comum que aos riscos assumidos pelos avanços de um novo pensamento sigam-se algumas incertezas. As dúvidas emergem como se tivéssemos dado passos equivocados, um tanto inconsistentes. Parece que flertamos com lugares que colocam em perigo tudo o que existe. Nada mais falso. Se o pensamento seguiu até aquele ponto, aprimorá-lo significa avançar ainda mais, não retroceder às suas velhas bases. O que parece nos conduzir a um limbo ruminante é só o começo de novos laços intelectuais e afetivos que respondem de modo mais fino às nossas questões.

Quando ainda estava afogada na hesitação em torno de alguns pilares da psicanálise que pareciam frágeis aos meus olhos, encontrei Racismo e sexismo na cultura brasileira, da filósofa, antropóloga e militante brasileira Lélia Gonzalez. Com esse ensaio — no qual é preciso reparar bem em cada detalhe, para que o devido peso seja dado às coisas ditas — a autora promove um rasgo na psicanálise e, de quebra, introduz um amplo glossário na fenda aberta. Reparem bem, insisto: a olhos pouco atentos, o gesto de arrastar palavras novas ao léxico psicanalítico pode parecer singelo, ou até corriqueiro, mas não é.

Com as noções de mulata, doméstica e mãe-preta, a autora retoma o campo da linguagem tratado pela psicanálise de Freud e Lacan. Os vocábulos trazidos por ela não são anódinos para a estrutura teórica psicanalítica como um todo. Provocam um abalo cujas consequências terão que ser tratadas por todos aqueles que não são afeitos a cerrar as pálpebras diante de dificuldades.

Mulata, doméstica e mãe-preta, vejam, são termos que portam cores e linhas. Seus dois componentes de formalismo puramente estético – cor e linha – trazem consigo uma gama repleta de brutalidade histórica, à qual a psicanálise, que trata dores e sofrimentos, preferiu manter-se alheia por um longo período de tempo.

Lélia Gonzalez não foi uma desbravadora isolada. Atrás de seu gesto, deram-lhe respaldo outros, que indicam a mesma direção: os de Frantz Fanon, os de colegas do Movimento Negro Unificado (MNU) e os de muitos outros sujeitos que travaram uma luta pelo espaço de negros e negras esmagados pela lógica branca-europeia que fincou fundações segregatórias nas terras do nosso país.

Ressaltando, a partir dos referenciais da psicanálise, que os caminhos tortuosos da língua levam a lugares reveladores, Gonzalez elenca cenas cotidianas da cultura brasileira, flagrando o racismo e o sexismo naquilo que poderia parecer quase inofensivo. Palavras ditas, lembram Freud e Lacan, sempre carregam mais e menos do que se pretendia dizer. À lógica linguística manifesta subjaz o inconsciente que a aduba e, por isso, a “análise encontra seus bens nas latas de lixo da lógica”. Ela prossegue com esse raciocínio, dizendo as seguintes palavras:

Ora, na medida em que nós negros estamos na lata de lixo da sociedade brasileira, pois assim o determina a lógica da dominação, caberia uma indagação via psicanálise. E justamente a partir da alternativa proposta por Miller, ou seja: por que o negro é isso que a lógica da dominação tenta (e consegue muitas vezes, nós o sabemos) domesticar? E o risco que assumimos aqui é o do ato de falar com todas as implicações. Exatamente porque temos sido falados, infantilizados (infans, é aquele que não tem fala própria, é a criança que se fala na terceira pessoa, porque falada pelos adultos), que neste trabalho assumimos nossa própria fala. Ou seja, o lixo vai falar, e numa boa.

A intelectual e militante  retoma a revolução copernicana feita por Freud segundo a qual “o sujeito não é mais senhor em sua própria casa”, mostrando como a consciência conecta-se à alienação ecoica, ao esquecimento e ao saber ideológico. No campo da memória, inscrições de uma história muda clamam pela expressão da verdade que se organiza enquanto ficção. Para se manter firme em suas ilusões, a consciência exclui elementos mnêmicos atrelados às angústias e aos desejos. Lélia Gonzalez nota uma coincidência entre a consciência, que rejeita ou sufoca conteúdos “inconvenientes”, e o discurso dominante de uma determinada cultura. Todavia, ainda que abafada, a memória é dotada de estratagemas que lhe permitem aflorar pelos poros dessa força repressora.

Sobre a mulher negra, a autora mostra a antítese discursiva em torno da construção imaginária de sua figura. Deusa no carnaval, empregada doméstica no cotidiano. Em sua análise das diferentes formações discursivas de teor racista e misógino, ela explicita como essa violência simbólica emerge de maneira ostensiva ou aparentemente sutil em diferentes cenas comuns e palpáveis da vida brasileira.

Digna de nota é a versão menos evidente da violência, que tem suas peculiaridades. Ela atenua a raiva e a revolta daquele que está sendo atacado. Sob seu efeito, corre-se o risco de absorver a opressão e a discriminação como verdades óbvias e desinteressadas, algo quase banal. Tal artimanha de uma linguagem “sutilmente violenta” se encontra em linhas de obras consagradas de autores célebres, como o vergonhoso trecho identificado por Lélia Gonzalez em Formação do Brasil Contemporâneo (1976) de Caio Prado Junior. Ali lemos:

Realmente a escravidão, nas duas funções que exercerá na sociedade colonial, fator trabalho e fator sexual, não determinará senão relações elementares a muito simples. […] A outra função do escravo, ou antes da mulher escrava, instrumento de satisfação das necessidades sexuais de seus senhores e dominadores, não tem um efeito menos elementar. Não ultrapassará também o nível primário e puramente animal do contato sexual, não se aproximando senão muito remotamente da esfera propriamente humana do amor, em que o ato sexual se envolve de todo um complexo de emoções e sentimentos tão amplos que chegam até a fazer passar para o segundo plano aquele ato que afinal lhe deu origem.

“Depois que a gente lê um barato assim nem dá vontade de dizer nada porque é um prato feito”, diz Gonzalez. De fato, trata-se de mais um triste flagrante dos “deslizes inesperados” da intelligentsia brasileira. Eles se aproximam das manifestações racistas mais corriqueiras, também capturadas pelo radar da autora. Pelas linhas do Dr. Caio Prado Junior, fica-se com a impressão, ironiza Lélia, “de que branco não trepa, mas comete ato sexual”, expressão de um “tesão de necessidade”. O excerto é uma amostra da “neurose cultural brasileira”, que oculta conflitos e compõe soluções de compromisso sintomáticas.

O nó sintomático forma-se sempre em torno da recusa de encarar os reais motivos de angústias e desejos. Ao afirmar e negar o que disse em uma única manobra – negar o desejo pela mulher escrava negra e afirmá-lo enquanto uma necessidade de um “instrumento de satisfação sexual” –, Caio Prado Junior revela ao leitor atento a parte opaca de si-mesmo. Ignora e expõe sua brutalidade em palavras que rejeitam o estatuto de sujeito humano à mulher negra, seu homem, seus irmãos e seus filhos. Tais sujeitos tornam-se objetos em suas mãos, até mesmo objetos de saber. Insistir na prioridade da luta de classes, renegando-se a incorporar as categorias de raça e gênero convém a privilégios até mesmo de certos doutos senhores da esquerda.

O ensaio de Lélia Gonzalez é extremamente potente, pois, além de reunir e explicitar múltiplas camadas do sintoma brasileiro, está formalmente construído de maneira jocosa, retirando das sisudas convenções acadêmicas a pompa e o ar sapiente que acabam por consagrar poder a construções teóricas alinhadas a tais sintomas, como as que vimos em Caio Prado Junior.

Deixando outras camadas de Racismo e sexismo na cultura brasileira para análises posteriores, gostaria de chamar a atenção, aqui, para estes aspectos formais das construções teóricas que buscam velar os sintomas brasileiros identificados por ela – racismo e sexismo – e dos quais os intelectuais e suas elaborações teóricas não estão livres. Dito de maneira mais precisa: processos de articulação e tessitura das teorias nem sempre se diferenciam da solução de compromisso sintomática observada em manifestações racistas e sexistas e na estruturação discriminatória da sociedade brasileira. Vale dizer que, embora assumam características peculiares no Brasil, tais sintomas também não são exclusividade nacional, fazendo parte de um modelo imperialista colonizador global.

Se assim é, o aspecto geopolítico do sintoma ligado ao racismo e ao sexismo coloca a psicanálise em uma zona de tensão, que se torna visível a partir das linhas escritas por Gonzalez. Se, por um lado, a autora mobiliza os recursos metodológicos da psicanálise para a análise dos discursos sintomáticos brasileiros, por outro, esses mesmos artifícios psicanalíticos passam a mostrar seus limites, já que não estão, eles mesmos, inteiramente livres dos sintomas que a partir deles são detectados. Voltemos à saia justa de Caio Prado Junior, mas seguindo a letra de Lélia, que se articula muito melhor do que a minha:

Não faz muito tempo que a gente estava conversando com outras mulheres, num papo sobre a situação da mulher no Brasil. Foi aí que uma delas contou uma história muito reveladora, que complementa o que a gente já sabe sobre a vida sexual da rapaziada branca até não faz muito: iniciação e prática com as crioulas. É aí que entra a história que foi contada prá gente (brigada, Ione). Quando chegava na hora do casamento com a pura, frágil e inocente virgem branca, na hora da tal noite de núpcias, a rapaziada simplesmente brochava. Já imaginaram o vexame? E onde é que estava o remédio providencial que permitia a consumação das bodas? Bastava o nubente cheirar uma roupa de crioula que tivesse sido usada, para “logo apresentar os documentos”. E a gente ficou pensando nessa prática, tão comum nos intramuros da casa grande, da utilização desse santo remédio chamado catinga de crioula (depois deslocado para o cheiro de corpo ou simplesmente cc). E fica fácil entender quando xingam a gente de negra suja, né? Por essas e outras também, que dá vontade de rir quando a gente continua lendo o livro do “seu” Caio Prado Junior. Aquele trecho, que a gente reproduziu aqui, termina com uma nota de rodapé, onde ele reforça todas as babaquices que diz da gente, citando um autor francês em francês (só que a gente traduz): “O milagre do amor humano é que, sobre um instinto tão simples, o desejo, ele constrói os edifícios de sentimentos os mais complexos e delicados”. (André Maurois) É este milagre que o amor da senzala não realizou e não podia realizar no Brasil-colônia” (Grifos nossos). Pelo exposto, parece que nem Freud conseguiu melhor definir neurose do que André Maurois. Quando à negativa do “seu” Caio Prado Júnior, infelizmente, a gente sabe o que ele está afirmando esquecidamente: o amor da senzala só realizou o milagre da neurose brasileira, graças a essa coisa simplérrima que é o desejo. Tão simples que Freud passou a vida toda escrevendo sobre ela (talvez porque não tivesse o que fazer, né Lacan?). Definitivamente, Caio Prado Júnior “detesta” nossa gente. A única colher de chá que dá prá gente e quando fala da “figura boa da ama negra” de Gilberto Freyre, da “mãe preta”, da “bá”, que “cerca o berço da criança brasileira de uma atmosfera de bondade e ternura”. Nessa hora a gente é vista como figura boa e vira gente.

O apagamento de todas essas cenas – e Gonzalez traz inúmeras delas – acaba por moldar um edifício teórico psicanalítico que é, ele também, composição da estrutura sintomática do racismo e do sexismo de todo dia. Em Lacan, por exemplo, o objeto a, causa do desejo, é formado pelos objetos parciais não integrados à antecipação imaginária que constitui o Eu. O que mobiliza o desejo são pedaços que sobram do recorte especular imagético que molda a estrutura egóica. O Eu precipita-se a partir do desejo do Outro. Se o Outro – que é, em última instância, uma conformação linguística estabelecida simbolicamente e que articula a cultura – configura-se a partir de uma arquitetura que exclui formalmente componentes da realidade político-social, os alicerces que a sustentam serão erguidos sobre sistemas de forclusão. Deixados como restos jogados no solo sobre o qual se alça o edifício cultural, os elementos opressores e as práticas de espoliação da população negra e indígena deixarão marcas de uma instabilidade simbólica quase irreparável na própria fundação dos pilares que suportam as bases dessa construção.

Lélia em reunião no Instituto de Pesquisas das Culturas Negras (IPCN), Rio de Janeiro (Foto: Reprodução)

Daí que, como procurei salientar no início, algumas reflexões pareçam assaz perigosas. Seguir em sua direção parece implicar o desabamento de quase todas as edificações, pois o chão sobre o qual elas estão suspensas reúne restos que não deveriam ser tidos como restos, lixos ou coisas, mas deveriam integrar de maneira central o todo que foi simbólica e concretamente composto.

O fato de a psicanálise ter sido construída em torno de sua teoria edípica oriunda da instituição familiar burguesa de origem europeia faz dela não a explicação de fenômenos psíquico-sociais, mas a complexa radiografia de tais sintomas. Ou seja, os conceitos psicanalíticos estão enredados na problemática estrutural da política e da articulação social que foi estabelecida pelos moldes ocidentais da Europa. Mais uma vez: a psicanálise arma muitos de seus conceitos forcluindo as bases afetivas e intelectuais sobre as quais se estabelecem o triângulo edípico e o sujeito que dele advém – a mãe-preta, a bá, a mucama, a empregada doméstica, a mulata, a mulher escrava que dá tesão ou é tida como necessidade de instrumento sexual. Sem essas figuras, talvez não existissem famílias burguesas, casamentos preservados ao estilo convencional, sobrevivência do tesão e certos cuidados maternos.

Não seria justamente a mulher negra, ofuscada das estruturas sociais endossadas pelas construções teóricas psicanalíticas, o “obscuro objeto do desejo”, aquele objeto que Jacques Lacan denominou a, opaco à articulação da gramática do sujeito e que o convoca de maneira íntima e inquietante? Como se o desejo exigisse do sujeito um gesto de justiça em relação a certos amores não integrados no repertório imaginário egóico e no simbólico de modo mais entranhado. Como se esse amor fosse muito difícil de ser admitido no rol linguístico partilhado pela classe dominante. Amores proibidos, negados e vilipendiados por rememorarem as fraquezas, as dívidas, a dependência e a vulnerabilidade dos senhores.

O desejo e o amor pela mulher negra convertem-se em exaltação da mulata e transbordam de maneira voraz em épocas de carnaval. Toda a cultura negra aparece como uma alegre e grande festa em uma libertação momentânea. Convém ao poder dominante deixar essa e a outra parte da história da população negra adormecida no resto do ano. Para isso, nenhuma opressão e violência será evitada.

Lélia Gonzalez põe os pingos nos is sobre o amor soterrado em nossa cultura ao dizer:

O que a gente quer dizer é que ela [a mulher negra] não é esse exemplo extraordinário de amor e dedicação totais como querem os brancos e nem tampouco essa entreguista, essa traidora da raça como querem alguns negros muito apressados em seu julgamento. Ela, simplesmente, é a mãe. É isso mesmo, é a mãe. Porque a branca, na verdade, é a outra. Se assim não é, a gente pergunta: quem é que amamenta, que dá banho, que limpa cocô, que põe prá dormir, que acorda de noite prá cuidar, que ensina a falar, que conta história e por aí afora? É a mãe, não é? Pois então. Ela é a mãe nesse barato doido da cultura brasileira. Enquanto mucama, é a mulher; então “bá”, é a mãe. A branca, a chamada legítima esposa, é justamente a outra que, por impossível que pareça, só serve prá parir os filhos do senhor. Não exerce a função materna. Esta é efetuada pela negra. Por isso a “mãe preta” é a mãe. E quando a gente fala em função materna, a gente tá dizendo que a mãe preta, ao exercê-la, passou todos os valores que lhe diziam respeito prá criança brasileira, como diz Caio Prado Júnior. Essa criança, esse infans, é a dita cultura brasileira, cuja língua é o pretuguês. A função materna diz respeito à internalização de valores, ao ensino da língua materna e a uma série de outras coisas mais que vão fazer parte do imaginário da gente. Ela passa prá gente esse mundo de coisas que a gente vai chamar de linguagem.

A autora e militante dança com a língua, mostra seus molejos, sua riqueza, distante da polidez empolada à qual tentamos nos adequar. A essa língua dançante ela chama pretuguês. Ao expor suas sinuosidades amputadas das construções morfológicas e sintáticas que se consolidam de modo oficial no léxico gramatical da língua portuguesa, Lélia Gonzalez insiste na força constitutiva do pretuguês. Quando se busca amputar o pretuguês, ele retorna insistente e vivaz.

Um dos vocábulos analisados por Gonzalez é bunda, nome do “objeto parcial por excelência da cultura brasileira”. O termo, ela explica, tem sua origem no “quimbundo que, por sua vez, e juntamente com o ambundo, provém do tronco linguístico bantu que “casualmente” se chama bunda”. Ou seja, no solo sobre o qual se estrutura a língua portuguesa oficial está o pretuguês: “bunda é língua, é linguagem, é sentido é coisa”.

Na língua portuguesa, o termo “mulata” indica que a raça negra se institui enquanto objeto a. “Mulata é crioula, ou seja, negra nascida no Brasil, não importando as construções baseadas nos diferentes tons de pele”. Com essa variação, talvez o senhor pretendesse atenuar seus “pecados” da carne, seu desejo transbordante. O tesão pela mulata no carnaval – algo momentaneamente admissível por ser exótico – ou a “necessidade de um instrumento sexual” atenua as cores do desejo, da gratidão no sentido kleiniano e dos amores do senhor pela mulher negra.

Embora Lélia Gonzalez pense na vitória desse subsolo pela insistência vigorosa do pretuguês que caracteriza a cultura brasileira, resta a pergunta: por que segue sendo tão difícil a alguns reconhecer a importância dessa camada concreta e simbólica da cultura brasileira? À psicanálise, por sua vez, caberia as perturbadoras perguntas: como se formam esses objetos que causam o desejo? Qual é o arranjo estabelecido psiquicamente para que o sujeito se integre a uma sociedade que transforma suas bases amorosas em restos irreconhecíveis a serem jogados no lixo?

Alessandra Affortunati Martins é psicanalista e doutora em Psicologia Social e do Trabalho pela USP. Autora de Sublimação e Unheimliche (Pearson, 2017), O sensível e a abstração: três ensaios sobre o Moisés de Freud (E-galáxia, 2020) e organizadora de Freud e o patriarcado (Hedra, 2020).

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