Itália: Igreja ensaia abrir-se aos gays

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Pressionados a rever condenação ao homossexualismo, bispos agora amenizam algumas das restrições ao acolhimento dos homossexuais. Por Marco Politi, Il Fatto Quotidiano, reproduzido no IHU

Os gays entram nas igrejas. Grupos de fiéis homossexuais irão se reunir neste ano em uma série de paróquias italianas para as vigílias de oração em memória das vítimas da homofobia. Com a permissão dos bispos e ou por decisão autônoma dos párocos. Da Lombardia à Sicília. Ainda são pequenos passos – as paróquias que abrirão suas portas serão mais ou menos oito entre os dias 12 e 29 de maio –, mas as reviravoltas sempre começam gradualmente.

Popoli, a revista online dos jesuítas, colocou a iniciativa na sua primeira página. Luteranos, valdenses, batistas, metodistas irão abrir seus templos em outras localidades.

Na Itália, a Igreja Católica também se dá conta de que não é mais possível demonizar os fiéis pela sua orientação sexual. Claro, continua invariável a condenação vaticana às relações homossexuais, mas muda a cabeça dos católicos do dia a dia. Innocenzo Portillo, envolvido no site Gionata, em Florença, lembra que um dia, durante o encontro em uma paróquia, a responsável pela catequese lhe disse: “Antes de falar com vocês, eu acreditava que os gays eram aqueles que andavam por aí travestidos. Entendi tudo errado, venham mais vezes”.

Nada de lantejoulas, nada de carnavais brasileiros, nada de cage aux folles caricaturais. Está chegando uma nova e muito jovem geração de gays que se sentem totalmente normais e querem poder viver suas vidas como crentes sem barreiras. No ano passado, eles se encontraram em Albano, entre os dias 26 e 28 de março, para o primeiro fórum italiano dos cristãos homossexuais. Merece destaque: em uma estrutura religiosa, um centro de retiros dos padres Somaschi.

Este ano, rezarão em Milão, com a autorização da diocese, na igreja de San Gabriele, em Mater Dei. Em Florença, na paróquia da Madonna della Tosse. Em Bolonha, na igreja de São Bartolomeo della Beverara. Em Gênova, na igreja de São João Bosco. Em Pádua, conseguiram se reunir na igreja reservada aos universitários, Santa Catarina de Alexandria. Portillo conta que, na igrejinha de Dosimo, diocese de Cremona, no ano passado, quem presidiu a oração foi o bispo Dante Lanfranconi. Finalmente, em Catânia, está a paróquia da Boa Morte, que durante muitos anos acolhe um grupo de católicos homossexuais.

São grupos que têm nomes poéticos. Elpis (esperança), Querce di Mamre (carvalhos de Mamre), Ali d’Aquila (Asas de Águia). Tenazes em abrir caminho. Em Palermo, entraram em acordo com o pároco de Santa Lúcia para manter a vigília na igreja. O cardeal Romeo disse que não. Mas chegaram tantos e-mails de protesto na diocese e na paróquia que o cardeal, por fim, decidiu se encontrar com os jovens do Ali d’Aquila. O veto continua, “mas é a primeira vez que pudemos contar as nossas vidas”, diz Fabio. Cinzia também faz parte do grupo, feliz, porque “finalmente somos olhados nos olhos”, amargurada “porque não se dão conta da dor que nos infligem.”

Cardeal e gays irão se ver novamente. A iniciativa das vigílias de oração foi estimulada por um comentário ácido de Michele Serra, que se perguntou por que a comunidade gay está tão determinada a “pedir asilo em uma comunidade (a Igreja Católica) que considera a homossexualidade não só uma culpa, mas também uma doença”.

A resposta é simples. Porque não se trata de um lobby externo que quer forçar o ingresso no templo, mas de pessoas de fé que querem ser reconhecidas na sua casa de oração. Porque Giulia, uma lésbica de Florença, não quer estar em uma reunião paroquial e ouvir o padre dizer: “Chega desses homens efeminados e dessas mulheres masculinizadas”.

O catolicismo cotidiano está mudando. Vários expoentes eclesiásticos podem dizer com o cardeal Martini: “Entre os meus conhecidos, há casais homossexuais, homens muito estimados e sociais. Jamais me foi pedido nem pensaria em condená-los”.

Nos dias da Páscoa, o jornal dos bispos italianos, Avvenire, dedicou o fascículo do seu periódico Noi Genitori à questão dos filhos homossexuais. A linha oficial do magistério ratzingeriano permanece, mas o artigo envia uma mensagem específica: “É importante pôr-se à escuta, entender, acolher”. E se os pais desorientados querem se dirigir a um especialista, deve, saber que o objetivo deve ser um: “Permitir que o jovem viva melhor, que readquira a serenidade. O que, às vezes, coincide com a mudança e o retorno a uma orientação heterossexual; outras vezes, com a aceitação da sua própria condição”.

Algumas centenas de milhares de leitores católicos puderam ler que “o recurso ao psicólogo jamais deve ser entendido como um tratamento, como um instrumento para chegar a uma improvável cura”. Pois a “homossexualidade não é uma doença”. Dez anos atrás, um artigo semelhante seria impensável. Outros textos do fascículo colocam em primeiro plano o “amor entre homem e mulher… o matrimônio, os filhos”. Mas surge o conselho de não demonizar. “Não repreenda o seu filho: ele não tem nenhuma culpa ou responsabilidade pela atração que sente”. É uma rachadura na velha doutrina da abominação sodomita.

A tradução é de Moisés Sbardelotto.

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14 comentários para "Itália: Igreja ensaia abrir-se aos gays"

  1. Abrir para o SER HUMANO caro Rogério, e suas palavras tristes e de cunho odioso não parecem ser as mesmas do papado. #MaisAmor #MenosÓdio

  2. A livre expressão sexual aqui no Brasil é combatida com VIOLÊNCIA E MORTE meu caro “catolico”. E se Deus é amor, e amor é diversidade, comecemos a refletir sobre isso. Sei que não votasse na minha PRESIDENTA, mas a mesma já deixou claro que quer a CRIMINALIZAÇÃO DA HOMOFOBIA e a CNBB apoia a Reforma Politica na sua integralidade, ou seja, até mesmo a tua igreja acredita que para o AMOR não existem barreiras.

  3. Perfeita as suas colocações Gustavo. Parabéns.

  4. Primeiro que a Igreja não manipula as diversidades humanas, segundo não somos mais tratados como doenças então reflita sobre o termo “homossexualismo” e terceiro querem fiéis dentro de seus templos religiosos? comecem por entender que existe o Livre Arbítrio, e que todos temos nossos “pecados” mas que Deus ama igualmente, diferentemente dos homens que segregam.

  5. EU não consegui nem passar do primeiro parágrafo quando li “Homossexualismo”, me perdoem mas NÃO SOMOS DOENTES. Gostaria de pedir que alterassem para HOMOSSEXUALIDADE, assim conseguiremos quebra o tabu das doenças e etc e tal. Obrigado

  6. Junior disse:

    A Igreja Catolica Apostolica Romana não rejeita o individuo e sim o homossexualismo.

  7. Catolico disse:

    A Presidente Dilma,demonstrou personalidade,tão em falta no imperio das politicas das retoricas,e tem minha simpatia e gratidão, mesmo não tendo votado na mesma.Espero que a mesma seja forte e sera apoiada pelas familias e responsaveis pelo presente e futuro de nossas crianças e que realmente o governo nãofara propaganda de opção sexual e nem deve se intometer na vida privada dos brasileiros,conforme a mesma declarou.Livre expressão deve observar a autoridade,principios e limites nas relações sociais.
    “A segurança para alguns, é insegurança para todos”.Nelson Mandela

  8. jonathas disse:

    Nao entendo muito bem, mas se tem partes na biblia que está errada como o colega disse sobre o sodomismo, para que segui la??

  9. Juliana A disse:

    A Bíblia é a palavra de Deus, o manual da vida humana. Quem a estuda vê que certas atitudes desagradam a Deus. O fato é que Deus nos ama e por isso deixa que façamos nossas escolhas. Cada um decide o que faz da sua vida, mas que esteja ciente que suas decisões terão consequências. Quem realmente procura conhecer a Deus sabe que ele criou homem e mulher e nada mais. O homossexualismo desagrada a Deus. Quem desagrada a Deus está longe Dele. Isso é fato! Ninguém é obrigado a o bedecer a Deus, só os que o amam suficientemente para isso. Todos merecem respeito, isso é lógico. Não vou humilhar, desprezar ou usar de violência a uma pessoa por suas escolhas, mas vão haver consequências. Existem pessoas e pessoas, existem cristão falsos, mas também há pessoas que buscam a Deus de verdade. Quando Deus fala sobre a porta estreita em Mateus 7 está falando de abrir mão, abrir mão de coisas que gostamos por amor a ele. E outra, por exemplo, se alguém tem muita vontade de matar outra pessoa. E se não o deixarem fazer isso. Será que alguém vai deixar que ele mate para que não fique depressivo. E outra, não há nenhuma conprovação científica a esse respeito. Mostre algum artigo científico então. Pra você pensar, mesmo que a teoria da evolução fosse verdade, ainda assim essa atitude estaria errada, pois um casal homossexual não pode reproduzir. Deus é amor sim, mas também é justo. A justiça dele já está chegando. Quem ama a Jesus obedece. Mas quem não o ama, que faça o que quizer, que desobedeça muito, pois vai ter uma eternidade de sofrimento. Curta enquanto pode, pois vai durar pouco. Alguém tem que dizer a verdade. E você vai lembrar disso no fim da sua vida. O meu desejo é que você conheça a Deus e passe sua eternidade com Ele. Mas a escolha é sua. Você foi feito para andar com Deus e enquanto não o conhecer nada estará completo.
    A igreja que acolhe a desobediência coloca-se contra Deus. E no momento certo Deus vai cuidar dos responsáveis. Sabe o que Deus diz sobre isso!
    “Mas se alguém fizer tropeçar um destes pequeninos que crêem em mim, melhor lhe seria amarrar uma pedra de moinho no pescoço e se afogar nas profundezas do mar.
    “Ai do mundo, por causa das coisas que fazem tropeçar! É inevitável que tais coisas aconteçam, mas ai daquele por meio de quem elas acontecem!(Mat.18.6-7)

  10. Rogério disse:

    Quanto fundamentalismo crente e descrente.
    Abri pra gay? Eu prefiro ficar fechado, fechadinho.

  11. Gustavo disse:

    Finalmente a “igreja” começa a comprender algo que a ciência concluiu desde a década de 90: A homossexualiDADE não é doença, não é perversão e não é escolha. Mas, ainda resta compreender melhor outras duas conclusões científicas: (1) a identidade de gênero também não é escolha, logo, ser travesti, transexual e efeminado não é escolha. É condição uma fisiológica imposta pela natureza; (2) é prejudicial querer separar o “homossexual” do “comportamento homossexual”, no que tange a plenitude do ser humano, a dignidade da pessoa humana. Uma pessoa que tem as suas emoções reprimidas, pode se tornar uma pessoa depressiva ao ponto de cometer suicídio, entrar na vida das drogas e prostituição, ou cometer atentados violentos.
    A Bíblia é apenas a palavra dos homens, impregnada de diferentes traduções e interpretações machistas. Foi escrita décadas e séculos após a morte de Jesus Cristo. A Bíblia tem sido interpretada de forma hipócrita, como por exemplo: a demonização da homossexualidade, mas a aceitação da venda de imagens, “terrenos no céu” e lucro das instituições religiosas. Com o agravante de, ao contrário da homossexualidade, a avareza ser uma escolha. Não existe ninguém igual aquele Jesus Cristo que pregava humilde, pobre, descalço, generoso e ACOLHEDOR. As mesmas religiões que interpretam a palavra de Deus, são aquelas que continham/contém padres pedófilos, venda de indulgêcias, atentados terroristas, tribunal da inquizição, escravidão, mutilação genital de mulheres, estupro corretivo de lésbicas, etc. As próprias religiões cristãs não chegam num consenso entre si., e conflitos são intermináveis. Eu prefiro um segmento da filosofia existencialista e humanista, na qual a única certeza que temos é que existimos e somos seres humanos com prazo de validade nessa vida. Podemos aceitar isso, e ser tolerântes, ou nos agredir eternamente em um debate louco e interminável em busca de uma verdade que nunca conseguiremos descobrir, pelo menos nessa vida.

  12. edson disse:

    Sr Morales, a bíblia foi escrita e reescrita (por homens) nestes milhares de anos e o mundo mudou. Não sou religioso, mas entendo que se Deus existe, ele é AMOR. Intolerancia, jamais
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  13. sergio ubirata a freitas disse:

    deus? Que deus????

  14. saulo morales disse:

    A biblia é uma lei só e será a única lei pela eternidade . O homem não tem o direito de mudar as leis de Deus, Nem mesmo o Papa.

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