A democracia inútil

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Depois de aumentar as tarifas de ônibus muito acima da inflação, e de ser conivente com as empresas que exploram o transporte, a prefeitura de São Paulo reprime a liberdade de expressão

Por Vanessa Nicolav

Nos últimos anos, a prefeitura de São Paulo tem aumentado sistematicamente as tarifas de ônibus. No final de 2008, o paulistano pagava R$2,30 pela passagem. Hoje, os R$3 representam 30% de aumento e a condução mais cara do país. Os reajustes, além de extrapolarem em muito os índices inflacionários, atingem o direito de ir e vir e, consequentemente, o acesso a outros direitos: educação, cultura, saúde etc.

A democracia é um sistema baseado na representação popular. Não se resume ao voto. Depende da participação das pessoas nas decisões sobre o presente e o futuro coletivos. A política tem como propósito articular meios que garantam os direitos da população, visando melhorar das condições de vida da maioria. Quando a força policial do Estado reprime com violência cidadãos que estão exercendo seu direito democrático de participação – – através de passeatas reividicatórias e pacíficas — é sinal de que algo está errado com esse Estado democrático, para falar o mínimo.

O movimento heterogêneo e espontâneo, iniciado nesta quinta-feira (13/2) por ativistas em favor do direitos ao transporte, visa chamar atenção para o desrespeito a uma necessidade básica: a mobilidade urbana. O gasto diário com o transporte, duas passagens por dia, representa hoje mais de 23% do salário mínimo. Ainda que vivêssemos num Estado de bem-estar social, com serviços públicos adequados e garantia para todos de benefícios como o vale- transporte, o aumento já seria abusivo. Quando se pensa na precarização do trabalho e na tercerização corrupta dos serviços de transporte, o aumento beira a agressividade.

A realidade é que os contribuintes pagam caríssimo um serviço muito ruim, caracterizado por longos atrasos, superlotação e frota insuficiente. A prefeitura não fiscaliza as companhias concessionárias, nem as pune. Desde 2007, estão sendo afrouxados os controles sobre as empresas que deveriam servir o público. Primeiro, permitiu-se que acumulassem muitas infrações. Depois (em 2008), as sanções foram simplesmente abandonadas.

Se a manifestação política coletiva é interpretada como motivo para violência do Estado, como todos os outros direitos podem ser protegidos? Se podemos chamar nosso regime político de democracia, é pela garantia da participação e expressão popular. Se prefeito, secretário de Segurança, coronéis, cabos e soldadinhos vêem a opinião pública como alvo a ser combatido com balas de borracha, bombas de gás e spray de pimenta, que fazer? Ou, como indagava o movimento de resistência retratados nos quadrinho de Alan Moore: quem, afinal, vigia os vigiliantes?

A truculência policial expôs o conflito entre os interesses da maioria das pessoas e os de quem está no poder — político e econômico. Os próximos atos de rua serão demonstração práticas de exercício democrático. Veremos então até que ponto o poder público tem capacidade para entender tal questão.

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2 comentários para "A democracia inútil"

  1. Jota disse:

    … SE NUM FUTURO SEM POLICIA A BANDIDAGEM INVADISSE SUA CASA, FURASSE SEU OLHO, ESTUPRASSE SEUS FAMILIARES E TE LINCHASSE SEM PENA, CERTAMENTE VOCÊ IRIA PEDIR AJUDA PRA POLICA,
    …SUA IDEIA ANTIQUADA E HIPPIE É TIPICA DOS QUE CONSIDERO COMO IDIOTA UTIL

  2. raul milan disse:

    O movimento deve começar a fazer escracho em frentes às residências dos comandantes militares da PM , em frente aos clubes sociais e restaurantes que frequentam. Essa é uma forma de luta que pode ter eficiência. Sempre que polícia bate , alguém manda bater. quem mandou deve ser escrachado sistematicamente.

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