Vacina antimentira

Pesquisadores buscam maneiras de prevenir o espalhamento de boatos – em vez de apenas correr atrás de checá-los

Imagem: Jeremy Lishner
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A checagem dos fatos tem um papel importante para identificar e desmentir falsas notícias que correm internet afora, mas ao mesmo tempo a tarefa é um eterno enxugar gelo. E se houvesse formas de evitar que as pessoas caíssem em fake news, em vez de somente correr atrás de cada novo boato

Pois isso está sendo proposto, estudado e testado. A reportagem da Wired conta como diferentes cientistas começaram a bolar uma espécie de “imunização” contra notícias falsas relacionada a vacinas, depois de analisarem como a desinformação tem sido construída nos últimos séculos. Elas seguem uma receita básica, apoiando-se em clichês extremamente previsíveis, que só mudam de roupagem com o tempo.

Exemplo: a primeira vacina foi inventada em 1796, contra a varíola, a partir da varíola bovina. O boato na época era a de que os inoculados seriam transformados em híbridos humano-vacas. Bom, a vacinação era algo totalmente novo e o processo da descoberta tinha sido um tanto arriscado, mas até hoje ninguém virou vaca, o que poderia eliminar esse tipo de suspeita. No entanto, pulando para 2021, temos influenciadores nas mídias sociais partindo do mesmo princípio ao alegar que imunizantes podem mudar o nosso DNA. E, dependendo de onde se vive, há também o sério risco de o presidente do país sugerir que podemos virar jacarés…

Os clichês funcionam bem porque, quando já o vimos uma vez, tendemos a reconhecê-lo na próxima. “Essa familiaridade pode ajudar a criar um curto-circuito no pensamento crítico que normalmente usamos para avaliar uma nova informação. Para agravar esse problema, os clichês são ótimos para simplificar demais questões complexas, como as origens de uma vacina ou os motivos de um protesto”, explica a reportagem. No entanto, a hipótese que apoia a possibilidade de uma imunização antimentira se apoia justamente no fato de os clichês serem tão recorrentes e prevalentes: é que, com isso, eles podem ser previstos. 

A “inoculação psicológica”,que tem sido usada desde os anos 1960 para ajudar as pessoas a ganharem defesas mentais contra propagandas enganosas de fumo, por exemplo, começou a ser aplicada recentemente para combater teorias da conspiração. A ideia é fazer com que as pessoas reconheçam os fundamentos de uma mentira, expondo-as a eles. No ano passado, pesquisadores das Universidades de Bristol e Cambridge desenvolveram vídeos curtos de animação desmascarando preventivamente alguns clichês de desinformação. Em um experimento envolvendo mil pessoas, 85% das que viram esses vídeos foram capazes de depois detectar desinformação sobre vacinas, uma melhora de 8,7% em relação aos que viram um vídeo de controle. 

Psicólogos de Cambridge também desenvolveram um jogo online com essa mesma finalidade, obtendo bons resultados em cinco países. Segundo a Wired, milhões de pessoas já foram “vacinadas” com esses jogos em fóruns de discussão ou por meio de parcerias com governos e grandes organizações – incluindo a OMS – que passaram a incorporar os jogos em campanhas estratégicas de anti-desinformação. É algo bem interessante de se acompanhar. 

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