Esperança contra uma das doenças que mais matam no mundo

Combinação de vacina e remédio reduziu em 70% as mortes por malária em ensaio clínico. Doença mata 400 mil pessoas por ano – principais vítimas são crianças pequenas na África

Foto: Olivier Asselin / Unicef
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A malária mata 400 mil pessoas todos os anos. É uma das principais causas de morte no mundo, embora sua distribuição seja desigual: de longe, as maiores vítimas são crianças africanas com menos de cinco anos de idade. Para comparação, a covid-19 matou cerca de 200 mil africanos até agora. Mas, mesmo após 30 anos de pesquisas, só existe uma vacina contra a malária (que começou a ser usada em um projeto-piloto muito recentemente, em 2019). E ela ainda deixa a desejar, porque evita apenas 30% dos casos graves e seu desempenho cai com o tempo. 

No entanto, um novo ensaio clínico de fase 3 usou essa mesma vacina – chamada RTS,S – de formas diferentes, e obteve resultados encorajadores publicados no New England Journal of Medicine. Eles sugerem que uma nova estratégia pode reduzir nada menos que 70% das mortes pela doença. 

Como a eficácia desse imunizante é maior nos primeiros meses após a vacinação, os cientistas experimentaram aplicá-lo em crianças pequenas um pouco antes do início das chuvas, em áreas onde a malária surge na estação chuvosa. Atualmente, há uma prática de prevenção que envolve a administração mensal de medicamentos antimaláricos comuns durante as chuvas – é a quimioprevenção sazonal da malária. No novo ensaio, a equipe viu que uma dose de vacina funcionou tão bem quanto a campanha com os remédios.

Só que o melhor desfecho foi o de um braço do estudo que uniu as duas estratégias, com crianças recebendo tanto as vacinas como os remédios. Nesse caso, houve uma redução dos casos em cerca de 62%, das hospitalizações em 70% e das mortes em 73%. Além disso, combinação também se mostrou segura. “Nem em nossos sonhos teríamos imaginado essa possibilidade“, diz um dos autores,  Daniel Chandramohan, no Medscape Medical News

O estudo envolveu ao todo 6,8 mil crianças que foram acompanhadas por três anos, e foi conduzido por pesquisadores da Escola de Higiene e Medicina Tropical de Londres, do Instituto de Pesquisa em Ciências da Saúde em Burkina Faso e da Universidade de Bamako em Mali. Os resultados foram consistentes ao longo dos três anos e nos dois países (Burkina Faso e Mali).

Em outubro, os órgãos consultivos mundiais para imunização e malária vão revisar as evidências sobre a RTS, S disponíveis para considerar a possibilidade de a OMS recomendar o uso ampliado do produto em toda a África. “Vimos com a covid-19 o que a comunidade global de saúde pode realizar quando se une para lutar contra uma doença mortal. Seria uma boa reviravolta ver a África emergir da pandemia com uma nova ferramenta para enfrentar o velho inimigo da malária com vigor renovado”, escreve o ex-ministro da Saúde da Etiópia Kesete Admasu no Health Policy Watch.

Em tempo: também estão em curso pesquisas promissoras com vacinas de RNA contra a malária, mas elas não estão tão avançadas.

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