Tedros avalia situação da dengue no Brasil

• Brasil segue tendência global de aumento de dengue, diz Adhanom • Estamos próximos dos 400 mil casos em 2024 • Dengue e zika • Colaboração global contra superbactérias • Eutanásia no Equador • Transgênicos na Europa •

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Para o diretor-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), “este surto de dengue atual [no Brasil] faz parte de um grande aumento em escala global da dengue, com mais de 500 milhões de casos e mais de cinco mil óbitos relatados ano passado em 80 países de todas as regiões do mundo”. As cifras contidas na contextualização oferecida pelo sanitarista etíope ressaltam a gravidade da situação, claramente conectada às mudanças climáticas, e reforça a urgência de um plano mundial para o combate à dengue e outras arboviroses. O comentário foi feito por Tedros Adhanom durante sua participação no lançamento do Plano para Eliminação de Doenças Determinadas Socialmente pelo Ministério da Saúde, na quarta-feira (7/2). Antes, ele também se reuniu com autoridades do governo para debater a situação da dengue no Brasil e outros temas. 

Doença alcança novo patamar de gravidade

O cenário avaliado por Tedros é mesmo grave. De acordo com os dados oficiais, o Brasil está muito próximo dos 400 mil casos prováveis de dengue só em 2024. Os números foram publicados na Agência Brasil, mas também podem ser acompanhados por meio do Painel de Monitoramento hospedado no site do Ministério da Saúde. Também já foram confirmadas 54 óbitos decorrentes da doença, enquanto 273 outras mortes ainda estão sendo investigadas. O segmento da população que concentra o maior número de casos é a faixa entre 30 e 49 anos de idade, com 143 mil registros prováveis. Minas Gerais é o estado que concentra o maior número absoluto de casos – e já decretou uma emergência de saúde pública. Caso se considere a proporção em relação à população total dos estados, as cifras de dengue em MG estão próximas das do Acre e são ultrapassadas pelas do Distrito Federal, que também estão em estado de emergência.

Dengue pode ser pior para quem já teve zika

Um estudo conduzido por pesquisadores da Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto (Famerp) sugere que pessoas que tiveram zika desenvolvem dengue mais severa, e correm maior risco de serem hospitalizadas. Contudo, as descobertas da pesquisa também indicam que esse fenômeno ocorre através de uma dinâmica distinta da reinfecção por dengue, situação que também tende a agravar o estado de saúde do paciente. Em vez de remeter a uma maior carga viral, o agravamento se deve à produção exagerada de citocinas inflamatórias pelo corpo, que causam danos aos tecidos do organismo. “Isso cria um questionamento sobre o tipo de vacina de zika que deve ser usada e qual o melhor momento. Seria aplicada juntamente com a vacina de dengue para não criar a situação de uma depois da outra, por exemplo? São possibilidades para entender como prescrevê-las. Mas, no Brasil, ainda continua sendo mais importante vacinar primeiro para dengue pelo número de casos”, contou um dos autores do artigo à Agência Fapesp.

Esforços globais contra as superbactérias

Em uma curta mas informativa entrevista à Rádio USP, a professora Silvia Figueiredo Costa, da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, reforçou a importância da colaboração global para enfrentar a resistência microbiana. Figueiredo Costa, infectologista chefe do Laboratório de Resistência a Antibióticos, acaba de retornar do Antimicrobial Resistance Hackathon, no que foi a primeira participação brasileira em um dos principais eventos da área. De acordo com a professora, “para solucionar o problema é necessário uma rede rápida de informações sobre saúde no âmbito global”, acelerando a testagem e a notificação de casos de infecção por superbactérias. A OMS considera a resistência antimicrobiana uma das maiores ameaças à Saúde Global na atualidade, ela lembra, o que ressalta a urgência da questão.

Eutanásia avança na América Latina

O Equador descriminalizou a eutanásia após a conclusão de um julgamento da Corte Constitucional do país nesta quarta-feira (7/2). A cidadã equatoriana Paola Roldan, portadora de Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA), foi a autora da petição ao tribunal que gerou o reconhecimento do direito ao suicídio assistido, por meio da “opção de dar fim ao sofrimento intenso causado por um ferimento sério e irreversível ou uma doença grave e incurável”. Agora, o Ministério da Saúde do país deverá preparar em um prazo de dois meses orientações para a realização da eutanásia. Por sua vez, a Assembleia Nacional do país terá um ano para regulamentar os procedimentos. Na história recente, dois outros países latino-americanos descriminalizaram o suicídio assistido: a Colômbia, em 2022, e Cuba, no ano passado.

Europa se aproxima dos transgênicos

Em votação apertada, o Parlamento Europeu aprovou uma flexibilização da regulação da edição de genes, ampliando o espaço para as plantas transgênicas na agricultura do continente. Na sequência, o órgão legislativo da União Europeia deverá decidir se organismos geneticamente modificados criados por meio dessa técnica, relativamente recente, poderão ser patenteados por empresas. Críticos da decisão apontam que ela fortalece monopólios agrícolas e prejudica pequenos agricultores. A revista Science frisa também que o resultado da votação pode ter sido decidido por preocupações geopolíticas: depois dos encarecimentos e interrupções na cadeia logística causados pela Guerra da Ucrânia, as principais potências da UE procuram formas de evitar que haja uma escassez de alimentos no bloco, caso haja uma nova crise.

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