Após vexame, CFM recua em pesquisa que visava desmoralizar vacina

• CFM tenta desmoralizar vacina, mas vai parar na Justiça • Hospital se nega a implantar DIU; MS rebate fundamentalismo • Seca da Amazônia é fruto das mudanças climáticas • Sarampo se espalha na Europa

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O bolsonarismo instalado no Conselho Federal de Medicina tentou, mas o negacionismo científico bancado pela instituição na trágica pandemia de coronavírus sofreu mais uma derrota. Após inventar uma pesquisa de opinião que pergunta aos médicos se consideravam necessária a vacinação contra a covid entre crianças, a resposta de diversos grupos especializados da medicina e movimentos sociais levou o CFM a retirar do ar a pesquisa. Desde sexta-feira (19/1), os links que remetem ao questionário da ‘pesquisa’ estão inativos, fora do ar. “A ‘pesquisa’ conduzida pelo CFM está ferida de morte, inadequada, com desvios éticos”, afirmou o médico e infectologista Roberto da Justa, professor da Universidade Federal do Ceará (UFC) e integrante do Coletivo Rebento – Médicos em Defesa da Vida, da Ciência e do SUS ao site Viomundo.

Presidente negacionista do conselho responderá na Justiça

O movimento nada teve de ingênuo. O órgão tornou-se notório ninho de militantes de extrema-direita. Apesar de todos os crimes cometidos por Bolsonaro e Pazuello na gestão da pandemia, utilizaram do nome da instituição para colocar em xeque medidas essenciais de prevenção e mesmo de urgência das vacinas, na exata medida do interesse do ex-presidente em sabotar qualquer medida de combate ao vírus. Mas Justa não pretende deixar barato e entrou na justiça contra o atual presidente do órgão, José Hiram Gallo. Depois de 700 mil mortes por covid, fora a subnotificação e outros óbitos indiretamente associados, deixar impune o que muitos consideram genocídio é a senha para que os negacionistas continuem fustigando a ciência e, talvez o principal, busquem se inocentar. Vale lembrar que o relatório final da CPI da Pandemia tem um ex-presidente do CFM entre os indiciados, Mauro Ribeiro, que chegou a assinar parecer que liberou a receitação da cloroquina, uma das farsas empreendidas por Bolsonaro na época.

Hospital filantrópico recusa-se a implantar DIU por fundamentalismo religioso

Leonor Macedo, jornalista de 41 anos que reside em São Paulo, tinha consulta marcada no Hospital São Camilo para colocar um DIU, aparelho contraceptivo inserido no útero. Mas ao receber ligação da instituição foi surpreendida com a informação de que o procedimento não seria feito, uma vez que o hospital é de matriz católica, o que justificaria não realizar o procedimento programado por Leonor. Em suas redes sociais, a jornalista relatou a frustração e também temor em compartilhar o fato. No entanto, sentiu-se compelida a tornar a história pública em nome da luta das mulheres pelo direito ao próprio corpo.

Ministério da Saúde sustenta: negativa é ilegal

Por sua vez, o ministério da Saúde veio a público nesta quarta (24/1) e desmentiu a nota do hospital, que se apoiava em seu caráter privado para resguardar sua opção. O ministério informou que a instituição é filantrópica e, como tal, recebe verbas públicas — o que a obriga a respeitar as normativas e direitos previstos no SUS, entre eles o de planejamento familiar e reprodutivo, como é o caso de um método contraceptivo. “É um absurdo esse cerceamento que se faz a direitos de pacientes e da atuação dos profissionais de saúde”, disse Henderson Furst, da Comissão de Bioética da OAB, que também contesta a alegação do hospital em se apresentar como instituição religiosa.

O assédio conservador sobre o direito à saúde prossegue. Além da tentativa do CFM de desmoralizar a vacina em sua pretendida pesquisa de opinião, expressões políticas de direita tentam inserir sua pauta de costume no direito à saúde. Tanto em Goiás comoSão Paulo vêm criando entraves jurídicos e administrativos para dificultar o acesso ao aborto em casos previstos em lei.

Cientistas atribuem seca amazônica a mudanças climáticas

Não foi o El Niño por si só que causou a grande seca na região amazônica entre os meses de junho e novembro. O fenômeno que afetou o cotidiano e a economia da região, a ponto de algumas indústrias paralisarem atividades, é fruto direto das alterações em andamento no clima da terra. Essa é a conclusão do World Weather Attribution, grupo que reúne cientistas de diversos países. “Com cada fração de grau de aquecimento causado pela queima de combustíveis fósseis, o risco de seca na Amazônia continuará a aumentar, independentemente do El Niño”, explicou Bem Clarke, pesquisador do Imperial College de Londres. Isto é, o imenso ecossistema é mais sensível do que podemos supor, ao considerar que “apenas” o desmatamento de alta escala na região pode causar mudanças drásticas nos ciclos climáticos da Amazônia. As previsões para 2024 não são alvissareiras, uma vez que tanto o El Niño como os fenômenos climáticos adversos devem se repetir.

Epidemia de sarampo na Europa

Mais uma consequência do movimento antivacina acaba de ser constatada na Europa e gera novas preocupações sanitárias: o sarampo. Doença facilmente evitável, registrou um salto de 941 casos em 2022 para 30 mil entre janeiro e outubro de 2023. Os dados se referem a 40 dos 53 países do continente, chegando a alcançar regiões da Ásia Central. Apesar de terem sido apenas cinco mortes, o fenômeno é de escala global, com 1.600 óbitos estimados e 9 milhões de casos. “O aumento de surtos e mortes por sarampo é surpreendente, mas, infelizmente, não é inesperado, dado o declínio das taxas de vacinação que temos visto nos últimos anos”, resumiu John Vertefeuille, diretor da Divisão Global de Imunização dos Centro de Controle de Doenças (CDC), principal órgão sanitário dos EUA.

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