Quando a boiada passa

Fogo que destruiu 140 mil hectares partiu de nove fazendas. Repórteres rastreiam proprietários e chegam a pecuaristas que vendem gado para Amaggi e Bom Futuro – e, por tabela, para JBS, Marfrig e Minerva

Foto: Christiano Antonucci/Secom-MT
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Qualquer teoria que tente explicar o fogo no Pantanal sem mencionar a pecuária é falha. Já comentamos aqui que, segundo um estudo do Instituto Centro de Vida, as queimadas no Mato Grosso começaram em cinco fazendas. A partir desse trabalho, os jornalistas da Repórter Brasil foram ver quem são os donos das terras. Pelos dados de geolocalização das propriedades, do Cadastro Ambiental Rural e da Secretaria de Estado da Fazenda, chegaram a pecuaristas que vendem gado para o grupo Amaggi (do ex-ministro da Agricultura e ex-senador Blairo Maggi) e para o grupo Bom Futuro, de Eraí Maggi, o maior produtor de soja do mundo. A Amaggi e o Bom Futuro são fornecedores da JBS, Marfrig e Minerva. E não custa lembrar que Amaggi, JBS e Marfrig fazem parte da Coalizão Brasil Clima, Florestas e Agricultura, que tem um conjunto de propostas para deter o desmatamento na Amazônia…

Voltando à reportagem: o fogo que começou nessas cinco fazendas, todas em Poconé, foi responsável por destruir 116 mil hectares, ou 36% de toda a área do Pantanal mato-grossense que havia queimado até agosto. É o tamanho da cidade do Rio de Janeiro. Já no Mato Grosso do Sul, a Polícia Federal conseguiu  identificar outras quatro fazendas que levaram à queima de mais 25 mil hectares. 

Um dos pecuaristas do MT, Raimundo Cardoso Costa, disse à Repórter Brasil que o fogo em sua propriedade começou com a explosão de um carro… Só que foram registrados mais de 170 focos de incêndio em suas terras. “Estão detonando a gente. O pantaneiro sempre foi o cuidador do Pantanal (…) Tudo que acontece no Brasil é culpa do Bolsonaro. A mídia acha que quanto pior, melhor. Temos que ajudar o presidente a melhorar o Brasil”, disse ele.

Ontem o Pantanal ultrapassou 16 mil focos de incêndio em 2020, o maior número desde que o Inpe começou a fazer esse registro, no longínquo ano de 1988. 

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