Pra não dizer que não falei dos Cravos

Não foi só no Brasil: também em Portugal, a construção de um sistema público e universal de saúde veio colado ao processo de redemocratização

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PRA NÃO DIZER QUE NÃO FALEI DOS CRAVOS

, e ontem foi dia de comemorar os 44 anos da Revolução dos Cravos. Em 25 de abril de 1974, o país se levantou contra quatro décadas de ditadura – cinco anos mais tarde, era instituído o Sistema Nacional de Saúde.

Em coluna no Público, Raquel Varela resgata essa história e centra sua fala no papel dos médicos, que, apesar de muitas vezes serem vistos pejorativamente por seu caráter corporativo, tiveram papel central no desenvolvimento do Sistema e na sua gestão. Ela lembra a correria para a tomada dos serviços já nos primeiros dias de maio, assim como a estatização de instituições. E chega aos dias de hoje, defendendo a permanência da gestão médica.

A relação também foi lembrada por parlamentares como Paulo Sá, do Partido Comunista Português, e Isabel Pires, do Bloco de Esquerda. “Queremos que a sua segurança, a sua filosofia solidária e o seu indiscutível modelo de sucesso, sejam a regra nas áreas onde nos sentimos desprotegidos e desprotegidas e rejeitamos a caricatura que o transforma num alçapão para negócios privados”, disse esta última.

Para quem é mais visual, tem este vídeo da RTP. Ele não é recente (é de 2014), mas traz várias imagens de arquivo e depoimentos sobre as mudanças da época (“a Revolução que quis trazer mais saúde e mais acesso ao cuidados médicos, em liberdade, com igualdade e por causa da fraternidade”) e sobre a crise e a privatização dos últimos tempos.

BOAS IMAGENS

Outras imagens de arquivo, mas sobre a situação antes de existir o sistema público de saúde britânico (NHS), estão neste link. Mais de 4 mil fotos de 1938 a 1943 foram descobertas recentemente.

CINCO EM UM

As experiências do Brasil, da Inglaterra, do Canadá, de Portugal e de Costa Rica foram discutidas no debate do Conass sobre o futuro dos sistemas universais no mundo. Aqui tem um resumo das falas, com os links para as apresentações. Para falar sobre o Brasil, foram convidados nomes conhecidos da defesa do SUS – Gastão Wagner, Jairnilson Paim e Eugênio Vilaça – e também Edson Araújo, economista sênior do Banco Mundial responsável pela área de saúde, nutrição e população.

PÍLULAS PERIGOSAS

Um mediamento suspeito de causar centenas de mortes vai ser reavaliado pela FDA. Segundo a CNN, ele foi aprovado pela agência americana “apesar de preocupações de que não se sabia o suficiente sobre os riscos da droga”. É o Nuplazid, o único remédio aprovado para tratar alucinações e ilusões associadas com psicoses vindas da doença de Parkinson (para saber mais sobre o emaranhado de interesses envolvidos na aprovação de medicamentos, entre aqui).

E mais: um novo estudo sugere que o uso prolongado de certos remédios anticolinérgicos, especialmente alguns usados contra depressão, Mal de Parkinson e incontinência urinária, aumentam em 30% as chances de desenvolver demência. A pesquisa foi publicada no British Medical Journal e os cientistas sugerem que médicos  retirem a prescrição dessas drogas, quando possível.

ABORTO

A situação brasileira está no Guardian hoje: “Em meio ao clima político febril de um ano de eleição presidencial, o debate sobre o aborto está fervendo no Brasil, onde defensores dos direitos das mulheres se preparam para leis que poderiam reduzir ainda mais seus escassos direitos reprodutivos e empurrar ainda mais para abortos inseguros e às vezes fatais”, diz a matéria. Há menções à PEC 181 (que quer proibir o aborto em todos os casos) e à história de Rebeca Mendes (que pediu na justiça o direito ao abordo no Brasil, perdeu e abortou na Colômbia).

MAIS UM TEMPO

Foi adiada para 8 de maio a votação na Câmara do parecer sobre o PL 6299/02, que pretende acabar com a Lei de Agrotóxicos e criar a Lei de Defensivos Fitossanitários.

MALÁRIA

Ontem divulgamos aqui os números alarmantes da malária na Venezuela. É um caso marcante nas Américas mas, segundo a OMS, o resto do mundo também não tem boas notícias para contar: o progresso no controle dessa doença parou. Em 2016 foram 216 milhões de casos em 91 países, o que representa um aumento de 5 milhões em relação a 2015. O total de mortes, ao menos, baixou um pouquinho: de 446 mil para 445 mil. É no continente africano que se concentram 90% dos casos e, no Brasil, a maioria está na região amazônica.

O alerta foi feito ontem, Dia Mundial da Malária, e foi comentado na Rádio Nacional da Amazônia pelo epidemiologista Luiz Tauil. Entre outras coisas, ele abordou as pesquisas em torno de uma vacina contra a doença e a importância do controle dos mosquitos.

E por falar na Amazônia, em Roraima foram confirmados 5.750 casos no primeiro trimestre deste ano, sendo 2.040 importados de outros estados ou países – mais especificamente da Venezuela, de acordo com a pasta. Os números de 2017 foram bem maiores que os do ano anterior: 14 mil casos, contra 9 mil. O estado chegou a pedir o fechamento da fronteira com a Venezuela, o que foi reforçado ontem pela prefeitura de Pacaraima, município que é porta de entrada.

É bom dizer: “O dia de combate à malária serve para lembrar o combate à pobreza, desigualdade social e de acesso a serviços de saúde e saneamento, e para que a doença não seja mais negligenciada; que seja prioritária nos programas internacionais de combate à doença”, como reforça Rômulo de Paula Andrade, pesquisador da Casa de Oswaldo Cruz.

LULA

Segundo o Jornal GGN, a juíza Carolina Lebbos proibiu ontem que o ex-presidente, que já teve câncer, recebesse seu médico para exames de rotina. “No despacho, a juíza negou a entrada do médico na sede da PF, argumentando que ‘não há indicação de urgência’. Ela desconsiderou o pedido da defesa que argumentou que outros presos ali na sede da Polícia Federal recebem periodicamente a visita dos médicos por eles indicados”, diz o texto. Lula está preso desde o último dia 7.

SÓ COMPROVANDO

Há novas regras para quem precisa receber, via judicial, medicamentos que estão fora da lista do SUS. Elas foram definidas ontem pelo STJ: a droga deve estar registrada na Anvisa, os pacientes vão precisar ter laudo médico confirmando a necessidade daquele remédio e a ineficácia dos que são fornecidos pelo Sistema, e ainda vão ter que comprovar incapacidade financeira para arcar com os custos do remédio prescrito.

MAIS DINHEIRO

Ontem foi anunciado o lançamento do edital para a seleção de comunidades terapêuticas que vão receber recursos federais. Vão ser R$ 87 milhões para atender 20 mil dependente químicos – no edital anterior, em 2011, o valor foi de R$ 44 milhões, quase exatamente a metade (o aumento está de acordo com a  mudança na orientação a política de drogas brasileira, agora focada em abstinência e internação).

SERÁ QUE ASSIM COMOVE?

Pesquisadores da Case Western Reserve University (CWRU), nos EUA, decidiram estimar o quanto o país gasta por causa da violência doméstica: 55 bilhões de dólares por ano, incluindo custos médicos, perda de produtividade e gastos relacionados à solução de crimes violentos. A estimativa é de que, por lá, que 25% das crianças sofram ataques domésticos durante a vida.

AUTOMEDICAÇÃO… ENTRE QUATIS

Esses mamíferos sempre se esfregam com plantas e piolhos-de-cobra para repelir mosquitos e carrapatos e parece que, até aí, não tem nenhuma novidade (mas você sabia disso?!). Agora, na Ilha Campeche, em Florianópolis, os quatis têm sido flagrados passando sabonete, sabão em pó e desengordurante líquido no corpo – produtos deixados pelos turistas. Não deixa de ser fofo, mas dá pena. Um estudo sobre isso foi feito por pesquisadores da USP com a Universidad del Rosario, na Colômbia.

AGENDA

Debate sobre “Reforma trabalhista, um ajuste (in)justo”: logo mais, às 14h, na Escola Politécnica da Fiocruz, no Rio Se não estiver por lá, dá pra ver online neste link.

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