Piores e mais caras

Ministério da Saúde pagou, por máscaras impróprias a profissionais de saúde, mais que o dobro do que havia pagado por respiradores PFF2, modelo que oferece a melhor proteção.

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Por Leila Leal

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Um padrão? Não foi só na compra de vacinas que o governo Bolsonaro colocou em segundo plano a negociação direta com fabricantes para priorizar intermediárias e atravessadores. Segundo apuração da Folha, o mesmo caminho foi percorrido para a compra de máscaras de proteção pelo Ministério da Saúde, ainda no começo da pandemia. O resultado: o governo pagou, por máscaras impróprias a profissionais de saúde que acabaram não sendo utilizadas, mais que o dobro do que havia pagado por respiradores PFF2, modelo que oferece a melhor proteção. Para completar, mais de uma vez omitiu essa informação do Ministério Público Federal (MPF).

Desde fevereiro, a Procuradoria da República investiga a aquisição, em 2020, de máscaras do tipo KN95, consideradas impróprias para profissionais da saúde que atuavam na linha de frente do combate à covid. Em março, a Folha revelou que a Anvisa havia elaborado parecer sobre a inadequação dos modelos e avisado a pasta sobre “riscos adicionais” aos profissionais de saúde caso as máscaras sem especificações corretas fossem utilizadas. Mesmo assim, os contratos foram mantidos. 

Quando os equipamentos chegaram, no entanto, foi confirmada a impossibilidade de uso pelos profissionais de saúde. As máscaras ficaram um tempo ociosas em galpões e foram depois distribuídas para uso fora do ambiente hospitalar. A intermediária 356 Distribuidora, Importadora e Exportadora, cujo dono atua no ramo de relógios suíços de luxo, comprou os equipamentos de uma empresa de Hong Kong. Por 40 milhões de unidades da KN95, o valor unitário ficou em R$ 8,65.

Só que que, no mesmo momento da pandemia, o Ministério havia comprado peças filtrantes do melhor modelo, PFF2, por apenas R$ 3,59 cada. O contrato para a compra das PFF2 – firmado sem intermediários, diretamente com a 3M do Brasil – acertou a compra de 500 mil máscaras. 

Quem assinou os contratos foi Roberto Dias, o ex-diretor do Departamento de Logística do ministério da Saúde afastado por suspeita de pedir propina para a compra de vacinas. O MPF solicitou que ele e Élcio Franco, então secretário-executivo da Pasta, entregassem os documentos referentes a todos os acordos para compras de máscaras feitas pelo governo durante a pandemia. Em pelo menos três ocasiões, Dias omitiu o contrato com a 3M do MPF. Somente após muita insistência dos procuradores, em maio deste ano, a tabela com os dados dessa negociação foi enviada aos responsáveis pela investigação. 

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