PÍLULAS l Os impactos da gravidez na infância

Como são cruéis os que defendem a gravidez infantil | Maior causa de morte de mulheres entre os 15 e os 19 | Em busca das relações entre a fome e a covid | Apenas 3,7% dos casos infantis são notificados | Semana de 4 dias de trabalho: os testes no Brasil e na Inglaterra

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As consequências brutais da gravidez na infância

Em junho, a atuação da juíza catarinense Joana Zimmer — que tentou induzir uma menina de 11 anos, estuprada, a desistir do direito a um aborto legal — chocou o Brasil. Na última semana, um caso muito semelhante, nos EUA, levou o New York Times a produzir matéria investigativa sobre as consequências físicas da gravidez e do parto em crianças pré-adolescentes. O jornal ouviu cientistas, médicas e parteiras. A apuração revelou fatos chocantes. “Os corpos não estão preparados para parir, e o processo é muito traumático”, contou Marie Bass Gomez, enfermeira-chefe na clínica obstétrica e de saúde infantil do Hospital Bandung, em Gana, África Ocidental. 

A principal causa de morte de mulheres entre 15 e 19 anos
O ginecologista Ashok Dyalchand, que atuou por 30 anos com adolescentes grávidas em comunidades empobrecidas da Índia, foi mais específico: “As meninas têm longos trabalhos de parto, ou partos interrompidos. O feto sobrecarrega a bexiga e a uretra”, chegando a causar doença inflamatória pélvica e a ruptura dos tecidos entre a vagina, a bexiga e o reto”. É um problema central de saúde da mulher, prossegue o texto. Segundo a OMS, a gravidez materna é, em todo o mundo, a principal causa de morte de mulheres entre 15 e 19 anos. No Brasil, embora menos assustador, o quadro também é dramático. Só em 2021, mais de 14 mil garotas deram à luz em 2021. Todas elas teriam direito ao aborto. Muitas não puderam exercê-lo por sequer o conhecerem.

Estudo associa fome com incidência de covid em crianças da Amazônia…
Na Amazônia, as crianças que vivem em estado de insegurança alimentar são 76% mais suscetíveis de contrair covid. A maior parte dos casos não é detectada, num sinal evidente de subnotificação. Estas são as conclusões principais de estudo realizado com apoio da Fapesp no município de Cruzeiro do Sul (AC) e recém-publicado pela revista PLOS – Doenças Tropicais Negligenciadas. Conduzida pela professora Marly Augusto Cardoso, da Faculdade de Saúde Pública da USP, a pesquisa acompanha, desde 2015, as crianças nascidas naquele ano e no seguinte. 

… e aponta índice alarmante de subnotificação da doença

Em 2021, incluiu exames sorológicos para constatar presença de anticorpos contra o coronavírus. Entre os domicílios participantes, 54% foi classificado como em estado de insegurança alimentar. Nestes, o percentual de contaminação foi de 9,3% — contra 4,9% nos demais. Porém, apenas 3,7% das crianças que desenvolveram anticorpos (indicando provável contato com o vírus) haviam se submetido a teste para verificar se desenvolveram covid. “Existem estudos mostrando que o status socioeconômico e a nutrição influenciam uma maior ocorrência de doenças infecciosas. Não há dados suficientes ainda para a Covid-19, mas tanto no nosso estudo como em pesquisas realizadas em outros países há evidência de que essa correlação também existe”, afirmou a pesquisadora Marly Cardoso.

Seria a semana de quatro horas o futuro do trabalho?

Em Belo Horizonte, antes das mudanças laborais na pandemia, uma empresa de tecnologia e automação de processos adotou estratégias de reconfiguração do trabalho convencional. Entre as novidades adotadas estava a semana mais curta. Segundo Luísa Lana, gerente financeira da empresa, “Quando começou, o benefício foi dado apenas aos desenvolvedores, como forma de atraí-los diante da escassez de profissionais de tecnologia no mercado. A estratégia foi usada por outras empresas do setor”. 

Agora, Reino Unido testa a redução

A mesma proposta está em teste agora no Reino Unido. Cerca de 3,3 mil trabalhadores começaram a experimentar, em junho, a redução de jornada de trabalho para quatro dias — sem redução de salários. Eles atuam em 30 setores econômicos. Segundo os promotores do experimento, é possível oferecer vidas mais saudáveis para trabalhadores e um mundo mais sustentável, sem perda de lucratividade das empresas. A semana de 4 dias de trabalho aparenta novidade mas, já em meados da década de 1920, a montadora estadunidense Ford instituiu que seus funcionários trabalhassem 5 dias na semana. Desde então, todos os avanços tecnológicos foram apropriados pelos empregadores. Talvez falte, ao experimento atual, o caráter de luta social. E se a redução da jornada for, mais que um acordo entre classes sociais, o resultado de reivindicação das maiorias?

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