PÍLULAS | Brasil admira a ciência e as universidades públicas

• Paxlovid produzido no Brasil, para exportação • Cidades que inovam na Atenção Primária • O número real de casos de covid na África • Vacina+infecção dão forte imunidade • Gado com antibiótico • Reprogramação celular • Fungos e sua conversa silenciosa •

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Brasileiras e brasileiros apoiam a ciência, e especialmente a produzida por universidades e institutos públicos. Não procede a suposta preferência “privatista” da população, mostra pesquisa do site SoU_Ciência e do Instituto Big Data. O “cientista público” é quase um novo herói nacional, escreve o site, que interpreta: “a ciência não está restrita aos laboratórios e a especialistas, e passou a ser reconhecida pela sociedade brasileira como bem público, integrante da cidadania”. A pesquisa questionou o nível de interesse das pessoas sobre política, saúde, ambiente, arte e cultura, ciência e tecnologia, esportes, economia e religião. O interesse cresceu mais, entre 2019 e 2022, em ciência e política. Caiu o interesse por religião.


Pfizer quer Brasil para produzir remédio, mas não para usufruir dele

O Outra Saúde mostrou, recentemente, que a Pfizer negou fornecimento de Paxlovid, medicamento anticovid, a pesquisadores africanos. A pílula teve eficácia comprovada em estudos e reduz risco de hospitalização e, no último dia 30 de março, a Anvisa aprovou seu uso no país em regime emergencial. A farmacêutica norte-americana anunciou, também em março, as 35 empresas licenciadas para produzir um genérico da droga, entre elas, a brasileira Nortec Química. Porém, a fabricação será restrita à exportação. Assim como a desigualdade da distribuição das vacinas, os países de baixa renda continuam prejudicados. Elize Massard, professora da Fundação Getúlio Vargas, vê o Brasil em uma armadilha, já que o mecanismo Medicine Patent Pool (MPP) assinado pelo país acaba sendo cômodo somente às corporações, uma vez que elas escolhem as licenciadas, mas não há a liberação das patentes para gerar autonomia no desenvolvimento de produtos. E mesmo os países aptos a receberem o medicamento só devem recebê-lo entre o final deste ano e início de 2023.


SUS: As iniciativas inovadoras da Atenção Primária brasileira

Ainda no Dia Mundial da Saúde, celebrado no dia 7/4, foram divulgadas as prefeituras brasileiras vencedoras do Prêmio APS Forte. Concurso, organizado pelo ministério da Saúde, premia iniciativas de equipes e gestores voltadas a fortalecer a Atenção Primária à Saúde, do SUS. Porto Alegre (RS), por exemplo, foi premiada pelo projeto Intermediadores Culturais, que convidou imigrantes para atuarem como mediadores, auxiliando não só na tradução entre equipes da saúde e estrangeiros, mas na compreensão de diferentes culturas no atendimento. Outro destaque foi em Jaboatão dos Guararapes (PE), onde uma iniciativa incluiu, no plano municipal, ações de incentivo a atividades físicas regulares em espaços públicos durante a pandemia. 


OMS: Mais de dois terços dos africanos podem ter contraído covid

Quase sem colaboração do Norte global, o combate ao vírus no continente africano ainda parece ser feito às cegas. Um estudo recente da OMS, que ainda necessita de revisão pelos pares, mostra que os números reais de infecção podem ser 97 vezes maior que as cifras oficiais de casos reportados. É algo que já havia sido aventado nesta matéria publicada por Outra Saúde. Supõe-se que, em setembro de 2021, ao invés dos 8,2 milhões de casos informados oficialmente, haveria 800 milhões – um pulo de apenas 3%, em junho de 2020, para 75%. Segundo a OMS, devido ao acesso limitado a centros de detecção da doença no continente, muitos casos entre a população africana não foram notificados. Atualmente, os testes de laboratório detectaram 11,5 milhões de casos de covid, e 252 mil mortes no continente africano.


Análise da vacina reforça sua grande proteção

Descobertas no Brasil, Suécia e Reino Unido confirmam a eficácia da imunidade “híbrida” conferida pela soma da vacinação com a infecção. A proteção persiste por pelo menos seis a oito meses após a aplicação dos imunizantes. O resultado invalida a alegação de que as pessoas que tiveram covid não se beneficiariam da vacinação. O infectologista e epidemiologista Julio Croda, da Fiocruz, e seus colegas checaram tais alegações analisando bancos de dados brasileiros de vacinação e infecção, do início de 2020 ao final de 2021. As pessoas infectadas e depois vacinadas tiveram duas vezes menos risco de reinfecção, em comparação às que não se vacinaram. Isso vale para todas as vacinas. Pessoas que foram completamente imunizadas evitaram 65% das infecções esperadas, e até 80% dos casos graves. A lição: ter um esquema completo de vacinação é essencial.


Produtores dão antibiótico aos bois – e dizem que não

A pressão pública contra ração com antibióticos para animais levou à disseminação do selo “criado sem antibióticos” (RWA na sigla inglesa) colado em produtos de carne. Mas essa alegação não pode ser facilmente verificada, diz um artigo na revista Science. Nos EUA, por exemplo, não se exigem testes de antibióticos para validar o uso do selo, e afinal, só um milésimo dos animais abatidos são testados, dizem os autores. Eles mostram evidências de antibióticos em carne bovina no mercado e propõem políticas para reformar o sistema. Como está, não faz sentido pensar em alimentação saudável ou em controle de supermicróbios, que são alguns dos motivos dos consumidores para preferir carne sem antibióticos.


Reprogramar células para conter o envelhecimento?

As pessoas poderão, eventualmente, ser capazes de reverter o processo de envelhecimento celular em 30 anos. É o que apontam cientistas do Instituto Babrahan, no Reino Unido, que têm avançado consideravelmente em experimentos que podem levar ao desenvolvimento de técnicas que evitarão doenças na velhice. Simulando feridas na pele, as células mais velhas foram expostas a uma mistura de produtos químicos que as “reprogramaram” para se comportarem mais como células jovens e removeram as alterações relacionadas à idade. Não é exatamente algo novo, mas agora foi possível ser feito em um curto espaço de tempo, tornando os organismos ainda mais jovens. Os pesquisadores também observaram que seu método teve um efeito encorajador em outros genes ligados a doenças e sintomas relacionados à idade, que incluíram o gene APBA2, que está associado à doença de Alzheimer. No entanto, o mecanismo por trás da reprogramação ainda não foi totalmente compreendido, pois pode causar câncer e deve ser mais explorado antes que as descobertas possam ser aplicadas à medicina regenerativa.


Para desvendar a “conversa” entre os fungos

Em subsolos, madeiras e materiais em decomposição, o reino fúngico se estende por enormes redes interligadas. Parecem ser organismos silenciosos – mas um novo estudo sugere que eles podem estar se comunicando. Tudo começou com uma análise matemática dos sinais elétricos que os fungos aparentemente enviam uns aos outros, que identificou padrões que apresentam uma notável semelhança estrutural com a fala humana. Um professor da Universidade do Oeste da Inglaterra, em Bristol, publicou uma pesquisa mostrando a descoberta de que os picos de impulso se agrupam de forma semelhante a vocabulários de até 50 palavras, e que a distribuição desses “comprimentos de palavras fúngicos” combinava com os idiomas humanos. Outros tipos de comportamento pulsante já foram registrados, mostrando uma intensa atividade entre os fungos. Mas muitos cientistas consideram que “a interpretação como linguagem parece um pouco entusiasmada demais e exigiria muito mais pesquisas e testes de hipóteses críticas”.

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