Para entender o vírus oropouche

• Vírus oropouche desponta fora da Amazônia • Aumento de casos de dengue na capital paulista e queda no estado do RJ • Médicos temem perseguição por fazer aborto legal • Dieta pobre de crianças até 5 anos • Alzheimer e genética •

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O vírus oropouche, originário da Amazônia e conhecido há seis décadas, está chamando atenção ao ser detectado nos estados do Sudeste, Sul e Nordeste do Brasil, indicando uma expansão de sua área de ocorrência tradicional. Uma entrevista publicada no Globo com o infectologista Amílcar Tanuri é de grande ajuda para começarmos a entender o problema. Esse vírus é transmitido principalmente pelo mosquito Culicoides paraenses (conhecido como borrachudo ou maruim), mas também pode ser transmitido por outras espécies como Culex quinquefasciatus e Aedes serratus – essa variedade de vetores complica seu controle. 

A febre oropouche, causada pelo vírus, geralmente não é grave, mas pode provocar dores intensas, especialmente atrás dos olhos, e em casos raros, evoluir para meningite. Não existem tratamentos específicos ou vacinas contra o oropouche, que se diferencia significativamente de outros vírus como dengue, zika e chicungunha. A expansão do oropouche é atribuída às mudanças climáticas e ao desmatamento, que facilitam o deslocamento de vírus tropicais para novas regiões. Atualmente, a ciência busca entender melhor os hospedeiros naturais do vírus e a extensão de sua disseminação, agravada pela similaridade dos sintomas com outras doenças como a dengue.

Dengue em alta em São Paulo…

A cidade de São Paulo registrou um aumento na incidência de dengue em relação à semana anterior. No boletim emitido nesta segunda-feira, 6/5, todos os distritos apresentaram crescimento na doença. A incidência na cidade saltou de 1.832,7 para 2.224,7 casos por 100 mil habitantes – todos os bairros continuam em situação de epidemia. A situação é mais grave em distritos como Jaguara e São Miguel, com incidências superiores a 7 mil casos por 100 mil habitantes. O aumento é atribuído às altas temperaturas, que persistem mesmo com a chegada do outono.

…e em queda no Rio

Já o estado do Rio de Janeiro está registrando uma tendência de queda nos casos de dengue, com cinco das nove regiões de saúde alcançando o nível mais baixo de alerta, conforme informações da Secretaria de Saúde. A secretária Claudia Mello destacou que, embora a doença esteja recuando, a vigilância deve continuar, pois o número de casos ainda está acima da média para o período. Até o momento, o estado contabilizou 233.566 casos prováveis e 139 mortes. As regiões Metropolitana 1 e Baixada Litorânea melhoraram de nível, enquanto a região Norte ainda apresenta o maior nível de alerta.

As consequências da restrição ainda maior ao aborto

A recente resolução do Conselho Federal de Medicina (CFM), que restringe a realização de abortos legais após 22 semanas de gestação em casos de estupro, provocou a suspensão de serviços essenciais e instaurou um clima de medo e insegurança entre as equipes médicas no Brasil. Este retrocesso na saúde pública tem consequências diretas, como observado em Recife, onde uma adolescente em desespero só conseguiu o procedimento legal após uma tentativa de suicídio e subsequente internação na UTI, segundo a Folha. A decisão do CFM, que agora aguarda análise do Supremo Tribunal Federal (STF), representa um ataque aos direitos reprodutivos no Brasil, que traz retrocessos perigosos. A ginecologista e obstetra Helena Paro critica a resolução, em entrevista à Folha: “a resolução do CFM acaba amedrontando os profissionais de saúde que temem não um processo criminal na Justiça comum, mas sim uma perseguição”. A própria Helena é perseguida pelo conselho regional de Minas Gerais, como registrado em reportagem do Outra Saúde

Ultraprocessados na dieta de crianças pequenas

Um estudo do Ministério da Saúde, conduzido pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), revelou que cerca de 25% das calorias consumidas por crianças brasileiras abaixo de 5 anos provêm de alimentos ultraprocessados. Esta taxa aumenta para 30% entre as crianças de 2 a 5 anos. O Estudo Nacional de Alimentação e Nutrição Infantil (ENANI), que analisou dados de 15 mil famílias entre 2019 e 2020, também mostrou que metade dessas crianças não consome frutas diariamente e 60% ingerem açúcar todos os dias. O coordenador geral do ENANI, Gilberto Kac, destacou os impactos negativos dessa alimentação na saúde infantil, como deficiências nutricionais que podem afetar o desenvolvimento cognitivo e a saúde dentária. O consumo de ultraprocessados também está associado a diversos problemas de saúde, incluindo doenças cardiovasculares e diabetes. Uma nova edição do ENANI foi iniciada para continuar avaliando e fornecendo dados essenciais para a formulação de políticas públicas na área de nutrição infantil no Brasil.

O fator genético do Alzheimer

Cientistas estão propondo uma nova maneira de entender a genética do Alzheimer, sugerindo que até um quinto dos pacientes possa ser considerado portador de uma forma geneticamente causada da doença, explica o New York Times. Atualmente, a grande maioria dos casos de Alzheimer não possui uma causa claramente identificada. A nova classificação, sugerida em um estudo publicado na Nature Medicine, analisou dados de mais de 500 pessoas com duas cópias do gene APOE4, revelando que quase todos desenvolveram a patologia biológica do Alzheimer. Essa descoberta sugere que ter duas cópias do APOE4 deve ser considerado uma causa da doença, e não apenas um fator de risco. Isso poderia ampliar os esforços para desenvolver tratamentos, incluindo terapias genéticas, e afetar o design de ensaios clínicos. Além disso, poderia permitir que centenas de milhares de pessoas recebessem um diagnóstico de Alzheimer antes mesmo do desenvolvimento de sintomas de declínio cognitivo – embora atualmente não existam tratamentos para pessoas nessa fase inicial. A nova classificação transformaria esse tipo de Alzheimer em uma das doenças genéticas mais comuns do mundo.

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