Os autotestes serão solução para a pandemia?

Instrumento essencial para conter a covid, a testagem em massa patina no Brasil. A disseminação dos testes em casa pode melhorar a situação. Mas é preciso criar sistema de notificação robusto – e governo não tem planos para isso

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Nos países que procuram combater mais seriamente a pandemia, é consenso que, para melhor monitorar a difusão do vírus no território, fazer o rastreamento de focos de infecções e prevenir novos casos, a testagem em massa da população é essencial. Mas desde o início da pandemia, o governo Bolsonaro patina na política de testagens. O ministério da Saúde chegou a negligenciar compras de insumos e deixar vencer exames do “padrão-ouro”, o RT-PCR. Também  cancelou a compra de 14 milhões de testes rápidos e prometeu entregar 60 milhões de unidades até setembro do ano passado – mas só foram liberados 45 milhões até agora.

“Nessa proporção, só um terço dos brasileiros  foram testados, apenas uma vez”, critica o médico e sanitarista da Fiocruz e especialista em medicina preventiva Cláudio Maierovitch. “Na Europa, testa quem quer e de graça: [ou] faz com o autoteste ou em postos de testagem. (…) No Brasil, essa, efetivamente, não foi uma estratégia adotada pelo governo, e não existe plano para isso”, diz ele. 

Na última quarta-feira (19), em uma nova queda de braço entre o governo e a Anvisa, a diretoria colegiada da agência reprovou, por 4 votos a 1, o uso de autotestes de covid-19 no Brasil. A leitura foi de que a nota técnica do ministério da Saúde apresentava lacunas, por exemplo, sobre como notificar a infecção, e de que forma orientar os pacientes. Pelas regras, o governo precisa propor uma política pública antes que o teste possa chegar ao público leigo. O ministério não propôs plano de distribuição nem como compilar os resultados negativos e positivos e enviar para o banco de estatísticas do SUS.

Maierovitch acha inconcebível a liberação dos testes sem que estejam garantidas estas condições. A parcela da  população que pode comprar até tem algum refresco (diante da escassez de testagem nos serviços públicos), mas ganham mais as farmácias e laboratórios. “Os autotestes, eu vejo como uma estratégia complementar. O governo tem que oferecer testes rápidos de forma ampla nas unidades de saúde ou em postos de testagem, de forma que quem está com sintomas possa procurar, possa ser testado e ser orientado, tratado de forma adequada.”

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