No mundo pós-ômicron pode haver algum conforto?

Há sóbrios indícios científicos de que o acúmulo das imunidades já adquiridas pelas pessoas vão proporcionar proteção suficiente para tornar a covid relativamente tolerável. Essa opinião ganha força entre os especialistas, como se mostra neste texto

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Desde a virada do ano um número crescente de especialistas, e o público em geral, passou a imaginar se a pandemia não poderia, afinal, proporcionar algum sossego ao mundo. É impossível saber – é a resposta curta a esse sonho. Nem deve haver sossego real tão cedo. No entanto, há indícios científicos de calmaria mais à frente, como registrou o site Stat News em um artigo de título sedutor.

“Depois da ômicron, bem que poderíamos ter uma pausa. E podemos conseguir”, resumiu o artigo. Não se imagina que essa pausa, “se acontecer de fato”, diz a reportagem, seja o fim da pandemia, mas o ponto em que o coronavírus se torna endêmico. Mais ou menos como a gripe comum. Mas infectologistas, epidemiologistas, médicos e pesquisadores tendem a concordar que o acúmulo das imunidades adquiridas pelas populações mundiais, nesses dois anos, talvez proporcione, sim, um descanso.

Talvez provisório, mas a possibilidade está no radar. “Acho que teremos um relativo conforto”, disse, por exemplo, Michael Osterholm, diretor do Centro de Pesquisa e Política de Doenças Infecciosas da Universidade de Minnesota. Alguns acham que a ômicron pode até ser vista como o fim da pandemia, como Scott Hensley, pesquisador de vacinas do Instituto de Imunologia da Universidade da Pensilvânia. Ele raciocina nos termos do acúmulo de imunidades, como diversos especialistas.

Essa perspectiva vem se consolidando desde o início das festas de fim de ano e o aumento do número de casos. Na época, o infectologista da Fiocruz, Júlio Croda, ponderou à BBC que se devia esperar um aumento de casos e de internações. “Mas nada como aquilo que vimos num passado recente”, afirmou. Uma semana depois, a ABCnews resolveu ouvir uma série de pesquisadores tentando antecipar como ficaria a pandemia após a ômicron e concluiu mais ou menos o que ontem, 19/1, o diário New York Times publicou na forma de um ensaio assinado por William Hanage, estudioso da evolução e epidemiologia de doenças infecciosas na faculdade de Saúde Pública, em Harvard. “Devemos ter confiança que futuros surtos de infecções, pela ômicron ou qualquer outra variante, que venham a seguir, deixarão menos de nós gravemente doentes do que antes”, escreveu Hanage.

“Dias muito melhores podem estar por vir”. É pouco mais que uma expectativa feliz, insiste ele. Grande quantidade de pessoas ainda será infectada gravemente e muitas não resistirão, pelos muitos meses à frente. A novidade limita-se a esse pequeno alívio já mencionado por outros especialistas acima. E que Hanage descreve, citando dados de cientistas da Grã-Bretanha e da África do Sul que sugerem o mesmo: quanto mais experiência o sistema imunológico das pessoas tiver em lidar com o coronavírus, mais protegidos estarão.

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