OMS alerta: há 1 bilhão de pessoas com deficiências e sem equipamentos

Relatório alerta, pela primeira vez, para desigualdade no acesso a tecnologias que permitem mitigar incapacidades físicas e cognitivas. Estados precisam agir para saná-las, diz documento. Mas como, em países muito empobrecidos?

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Cadeiras de rodas, aparelhos auditivos ou aplicativos para a comunicação e cognição. Estes são alguns dos equipamentos de assistência que auxiliam pessoas com algum tipo de deficiência – 2,5 bilhões no mundo – a participar da vida em sociedade. Mas um relatório recente da Organização Mundial de Saúde (OMS) chama atenção para a desigualdade global no acesso a tais tecnologias. Quase 1 bilhão (40%) dessas pessoas estão privadas de qualquer acesso, principalmente em países de baixa e média renda. Chamado de Global Report on Assistive Technology, o relatório alerta pela primeira sobre a necessidade global de acesso a produtos assistivos e fornece uma série de recomendações para expandir a sua disponibilidade, como a implementação de políticas de inclusão. 

O documento evidencia a grande lacuna entre países de baixa e alta renda. Uma análise de 35 nações revela que o acesso às tecnologias de assistência varia de 3%, nas economicamente mais pobres, a 90%, nas ricas. Uma outra pesquisa citada no relatório – esta envolvendo 70 países – encontrou dificuldades na prestação de serviços e na força de trabalho treinada para a tecnologia assistiva, especialmente nas áreas de cognição, comunicação e autocuidado. Pesquisas anteriores publicadas pela OMS alertaram para a falta de conscientização e preços inacessíveis, poucos serviços, pouca qualidade, variedade e quantidade de tecnologias. 

A OMS pede ações concretas para garantir a disponibilidade e acessibilidade dos aparelhos assistivos. Por exemplo, envolver ativamente os usuários dessas tecnologias e suas famílias no debate e aumentar a conscientização pública para combater estigmas. O investimento em dados, políticas públicas, pesquisa, inovação e em um “ecossistema facilitador” foi colocado como ação imprescindível junto do fornecimento de assistência técnica e econômica pelos países ricos aos países em desvantagem.

No Brasil, a realidade parece confirmar os dados levantados pela OMS. No estado de São Paulo, apenas 28% dos aparelhos usados por pacientes com deficiência, como cadeiras de rodas, próteses e auxiliares auditivos, foram pagos pelo Estado. Quase metade dos pacientes pagou do próprio bolso e outros 22% recorreram à ajuda de parentes e amigos. 

As tecnologias de assistência são consideradas pela OMS o meio de participação na vida em comunidade em pé de igualdade com os demais. “Elas são uma mudança de vida – abrem as portas para a educação de crianças com deficiência, emprego e interação social para adultos que vivem com deficiência e uma vida independente e digna para os idosos”, disse o diretor-geral da OMS, Tedros Ghebreyesus. E completou: “Negar às pessoas o acesso a essas ferramentas de mudança de vida não é apenas uma violação dos direitos humanos, é economicamente míope”.

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