Occhi escapa, por enquanto

Investigado por envolvimento em esquemas ilícitos, ministro da Saúde Gilberto Occhi consegue vitória.

Crédito: José Cruz / Agência Brasil

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Essa e outras notícias aqui, em nove minutos.

19 de setembro de 2018

OCCHI ESCAPA, POR ENQUANTO

Já sabemos que o ministro da Saúde é investigado por envolvimento em esquemas ilícitos em sua gestão na Caixa – apurações contratadas pelo banco mostram que, como dirigente, ele favoreceu o filho,o enteado e um amigo empresário em negócios com lotéricas.

Mas Occhi está processando na Justiça tanto a Caixa como a secretária-executiva do Ministério da Fazenda, Ana Paula Vescovi .Contra ela, que autorizou as investigações, ele alega que sua conduta lhe causou danos morais; contra o banco, afirma que teve seu direito ao contraditório e à ampla defesa ferido. Ele quer anular as provas de uma auditoria e impedir que a caixa remeta resultados de novas investigações a órgãos externos. E conseguiu uma vitória: uma decisão provisória na 2ª Vara Cível  impede, por enquanto, o avanço de investigações e proíbe a Caixa de compartilhar relatórios mais recentes. Mas só até nova apreciação do pedido.

BATALHA PERDIDA

Contamos aqui como o governo estava prestes a tomar uma decisão que não beneficiaria ninguém além da farmacêutica americana Gilead: o Instituto Nacional de Propriedade Industrial (Inpi) avaliava um pedido de patente para o sofosbuvir, medicamento que cura a hepatite C em mais de 95% dos casos. Só que a Fiocruz tinha não só a tecnologia como também a aprovação da Anvisa para produzir o mesmo medicamento, o que levaria a uma economia de R$ 1 bilhão nos cofres públicos. Havia uma mobilização contra a concessão da patente.

Bom, pelo título desta nota, você já imagina o que aconteceu: ontem o Inpi concedeu a patente à Gilead, e a Fiocruz fica impedida de fabricar o remédio. Segundo a matéria da Folha, países como Egito, Argentina e China não concederam a patente à Gilead e produzem os genéricos. Outros, como o Chile, estudam quebrar a patente.

SUFOCO 

Uma viagem de ônibus de mais de 20 horas no fim da gestação parece loucura, mas, segundo mostra o El País, tem sido uma aposta de venezuelanas que vêm ter seus bebês pelo SUS, fugindo da crise em seu país. “Se eu tivesse decidido ter a minha filha na Venezuela, eu teria que comprar tudo o que fosse necessário para o parto: gazes, toalhas, medicamentos e, até mesmo, a lâmpada da sala do hospital. Não está fácil achar esses insumos e, quando você encontra, estão caríssimos. Aqui eu já sabia que todo atendimento seria gratuito”, diz à reportagem uma delas. Roraima registrava 8 mil nascimentos por ano e, em 2017, o número saltou para 12 mil – um aumento de 50%. E, segundo a secretaria de saúde, o estado ainda não recebeu nenhum valor do governo federal para cobrir os custos extras.

CAMPANHA NO PARTO

Ontem Marina Silva fez campanha no Centro de Parto Humanizado Casa Ângela, em São Paulo, que é conveniado ao SUS. Anunciou o plano Vida Digna, com iniciativas em saúde, educação e cuidado com a mulher. A proposta quer aumentar em 2,5 milhões as vagas em creches e ampliar o tempo de licença paternidade. Em queda nas pesquisas, ela segue acenando ao eleitorado feminino e repudiou aquela fala de Mourão sobre famílias só com mães e avós serem fábricas de desajustados.

AMEAÇADAS DE MORTE POR DEFENSORES DA VIDA

Elas defendem a descriminalização do aborto e, por isso, sofrem ameaças de morte por grupos que se dizem pró-vida. A Agência Pública traz relatos de mulheres que têm passado por isso.

Uma delas é a professora da UFC Lola Aronovich (autora do blog Escreva Lola Escreva), que está, por assim dizer, acostumada aos ataques. Ela passa por isso desde 2011 e já fez 11 BOs desde então. Não são ameaças isoladas, mas orquestradas por grupos que se autointitulam ‘masculinistas’ que vão muito além de falas vagas na internet: em fóruns online, eles realmente incentivam que se matem feministas. A história de Lola acabou motivando a criação da lei 13.642/2018, que atribui à Policia Federal a investigação de crimes contra as mulheres na internet.

Um dos líderes foi preso em maio. Antes disso, porém, já tinha escrito um guia de como estuprar universitárias, oferecido recompensa para quem matasse Lola e Jean Willys e outras coisas do tipo. Em 2015 criou um blog falso, no nome de Lola e com suas informações pessoais (nome completo, endereço, telefone residencial, fotos) e escrevia, como se fosse ela, postagens que defendiam o aborto de fetos masculinos e infanticídio de meninos. Houve uma em que ele (fingindo ser ela) narrava que tinha feito aborto em uma aluna em plena sala de aula. Lola chegou a ser denunciada, por este conteúdo, por um outro masculinista que já tinha sido preso por intolerância. E foi chamada para depor.

“Eu saí naquele dia convicta de uma coisa muito triste: que as polícias no nosso país levam muito mais a sério, veem muito mais como crime você defender a descriminalização do aborto do que você defender estupro de mulheres. Porque foi muito rápido que me chamaram para depor sobre um site obviamente falso sobre aborto. E o tempo que eles demoraram para fazer qualquer tipo de investigação sobre as centenas de sites que o Marcelo fazia que defendiam estupro etc. foi enorme”, lamenta ela.

AGREDIDOS

Um levantamento feito do estado de São Paulo entrevistou quase 7 mil pessoas e mostrou que 70% dos profissionais de saúde já sofreram algum tipo de agressão, na maior parte das vezes vinda dos próprios pacientes. Motivações? Demora e fila para atendimento. Os dados foram compilados pelo Cremesp, pelo Coren-SP e pelo CRF-SP.

Quem mais sofre, tanto agressões verbais como físicas, é o pessoal da enfermagem. Médicos, um tanto menos. Mas em relação ao acolhimento das queixas,a coisa se inverte: entre médicos, 59% das queixas foram acolhidas pela polícia, Justiça ou instituição onde trabalham. Para  enfermagem e farmácia, só 15% e 11%, respectivamente.

CONDUTA ANTIÉTICA NA NETFLIX

A série documental da Netflix Doenças do século 21 narra a vida de sete pessoas reais com doenças crônicas e pouco conhecidas e compreendidas, que são acompanhadas à medida que procuram tratamentos e alívio. Está recebendo  várias críticas. E o mais grave: dos próprios participantes.

No mês passado, vários deles escreveram um texto conjunto com o título “A verdade por trás de Doenças do século 21 da Netflix”, com links para vários de seus depoimentos. Eles alegam que confiaram nos produtores para ajudar a difundir a compreensão de suas doenças, mas foram ridicularizados. Um artigo no Los Angeles Times alega que foram usadas práticas antiéticas na edição para sugerir que as doenças eram condições psicossomáticas.

E ontem foi publicada uma carta assinada por pesquisadores da saúde, artistas e ativistas criticando o que chamam de “retrato estigmatizante da deficiência”. Os autores afirmam que, além do mal estar pessoal dos participantes, a série pode provocar o estigma e e as barreiras aos cuidados médicos para pessoas que sofrem com tais doenças.

MISTÉRIO RESOLVIDO

Em 1606 o pintor Caravaggio cometeu um assassinato em uma briga de rua, fugiu de Roma e, após quatro anos, morreu na Toscana por causas desconhecidas. Pois ontem, quatro séculos depois, elas foram reveladas. Pesquisadores do Hospital Universitário de Marselha conseguiram, em cooperação com o pessoal da antropologia e da microbiologia, extrair dentes do esqueleto do pintor, daí extraíram sua polpa dentária, daí combinaram três métodos de detecção de DNA e, enfim, “o assassino foi identificado: umStaphylococcus aureus“, diz um comunicado os pesquisadores. É uma bactéria.

ATÉ QUE ENFIM

Um bom índice: as mortes por acidentes de trânsito no Brasil estão em queda. Ontem o Ministério da Saúde divulgou um levantamento apontando que, em seis anos, houve uma redução de 27,4% dos óbitos nas capitais do país. Em 2010 foram registrados 7.952 óbitos, contra 5.773 em 2016, o que representa uma diminuição de 2,1 mil mortes no período. A pasta informa que isso pode estar relacionado às fiscalizações da Lei Seca e a um programa chamado Vida no Trânsito, implantado em 2010.

MAIS UM

Agora foi a África do Sul: sua Suprema Corte decidiu ontem, por unanimidade,legalizar o uso de maconha em locais privados, bem como o cultivo de cannabis para uso pessoal – mas é a polícia quem vai decidir se a quantidade apreendida pode ou não ser considerada tráfico.

400%

Foi o quanto a febre amarela cresceu, este ano, no estado de São Paulo.

O QUE IRÃO DIZER?

Daqui a pouco, coordenadores de campanhas dos candidatos à presidência vão participar de um evento com entidades do setor privado da saúde, para receber suas propostas: o Instituto Coalizão Saúde  (que volta e meia aparece aqui e tem uma atuação política fortíssima em defesa de mudanças no SUS), o Comitê da Cadeia Produtiva da Saúde e Biotecnologia (ComSaúde) e o Colégio Brasileiro de Executivos da Saúde (CBEx). Estarão lá David Uip, representante da candidatura de Alckmin (PSDB); Henrique Javi, de Ciro (PDT); Arthur Chioro, Haddad (PT); Marcia Bandini, de Marina Silva (Rede); e Roberta Grabert, de João Amoedo (NOVO). Vai ser bem curtinho, de 10h a 12h.

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