O início da epidemia de Aids, 40 anos atrás

Em junho de 1981, primeiros casos foram captados nos EUA, em pleno governo Reagan. Estigmatização predominava até nos meios médicos


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Uma interessante reportagem da National Geographic recupera o início da epidemia de HIV-Aids. A história é contada do ponto de vista de quem estava nos Estados Unidos, pois foi lá que o vírus foi ‘enxergado’ por um sistema de vigilância de saúde pela primeira vez, num relatório de 5 de junho de 1981. O texto destacava que cinco homens em Los Angeles haviam recebido atendimento médico devido a uma pneumonia com origem em uma rara infecção fúngica causada em sistemas imunes muito debilitados. Na mês seguinte, o número de doentes já era 26. 

“Pensei comigo: ‘meu Deus, só pode ser uma doença nova’”, conta Anthony Fauci – infectologista que virou figurinha fácil nos noticiários do mundo todo na pandemia da covid-19, e participou de esforço científico para decifrar o que estava por trás desses primeiros casos. O primeiro passo era buscar pacientes que manifestassem os sintomas informados e levá-los ao hospital para observação.

“Há 40 anos, ninguém poderia imaginar estar testemunhando o início de um surto mundial que infectaria mais de 75 milhões de pessoas e mataria cerca de 35 milhões”, diz a matéria. 

A nova doença só ganhou um nome em setembro de 1982, quando o CDC a denominou síndrome da imunodeficiência adquirida (“Aids”, na sigla em inglês). Só em 1983, o vírus HIV foi identificado e um exame de identificação foi desenvolvido. Foi então que se viu que o problema tinha escala mundial.

Nos EUA, era a época do governo Ronald Reagan. E isso dificultou muito o trabalho de quem precisa pesquisar e comunicar os riscos da doença, cercada desde o início por estigmatização. “Foi um surto amplo”, afirma Fauci. “Contudo, naqueles primeiros anos, os funcionários do governo Reagan não estavam muito abertos a falar sobre o assunto. Não aproveitaram a grande visibilidade da presidência.”

O rótulo da “doença gay” prevalecia sobre as evidências científicas até no meio médico. Isso levava parte dos infectados a fugir dos consultórios e se auto-organizar – o que também envolvia o compartilhamento de tratamentos não convencionais, incluindo dietas e remédios naturais.

“As pessoas nos perguntavam: ‘para que fazer o teste?’”, lembra Gregory Ford, ator e ativista diagnosticado com HIV em 1987. “Afinal, não havia tratamento. Além disso, os infectados não podiam contar para os outros, exceto talvez aos amigos mais próximos. Ninguém podia contar no trabalho. E certamente ninguém poderia contar à seguradora. De que adiantaria? O infectado estava sozinho, não podia contar com ninguém. Essa era a parte mais difícil.”

“Em um mundo onde o vírus da covid-19 foi identificado semanas após sua descoberta e vacinas eficazes foram desenvolvidas em meses, é fácil esquecer os anos agonizantes entre o surgimento do HIV e um tratamento eficaz”, destaca a reportagem. Eles viriam só na década de 1990. No Brasil, se tornaram acessíveis graças à quebra de patentes e ao SUS.

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