O Facebook e os antivacina

Movimento antivacinas cresce nas redes sociais e medidas são cobradas. Leia também: em Brumadinho, moradores vivem entre o luto, a raiva e o medo de que a mina feche; os riscos da mineração em águas profundas e muito mais

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O FACEBOOK E OS ANTIVACINA

Movimentos antivacinação existem há décadas, mas é claro que sua capilaridade só faz aumentar com a disseminação de informações falsas nas redes sociais e no whatsapp. Agora um representante do Facebook (que, não entendemos bem o porquê, pediu para não ser identificado) explicou à CNN que essa rede finalmente está trabalhando com especialistas em saúde para definir mudanças e uma “combinação de abordagens” para lidar com a desinformação das vacinas.  “Essas abordagens não tirariam informações errôneas do Facebook, mas as tornariam menos proeminentes”, diz a matéria. Por exemplo: grupos do tipo não apareceriam como recomendados, e o Facebook garantiria que posts com informações falsas aparecerem mais abaixo no feed dos usuários. Outra possibilidade é também deixar mais para baixo os resultados desses grupos quando os usuários pesquisam por “vacina” – parece que, hoje, eles aparecem lá no topo. Pelo menos à primeira vista, não parece muita coisa. Outras redes já começaram a lidar com o problema há muito mais tempo.

O Youtube, por exemplo, decidiu banir os anúncios publicitários de todos os vídeos que desencorajam mães e pais a vacinarem suas crianças, e fazer com que eles parem de aparecer como vídeos recomendados. Mas, em coluna na Forbes, Mason Sands diz que o tiro pode ter saído pela culatra: “Os oponentes das vacinas já se sentem isolados em suas escolas, famílias e sociedade. Esse isolamento é o que fez com que eles se unissem, compartilhando informações erradas entre eles e construindo as estruturas para se organizarem politicamente. É mais provável que a desmonetização dos vídeos confirme as crenças de que eles são perseguidos, tornando-os mais difíceis de serem alcançados”. 

E a Costa Rica está com problemas: o país não tinha nenhum caso de sarampo desde 2014 – e nenhum oriundo de sua própria população desde 2006 – mas agora tem o de um menino francês de cinco anos, que foi passar as férias lá com os pais. Não havia sido vacinado. Ele está em quarentena, e as autoridades procuram por outras pessoas que possa ter contaminado.

SEM SAÍDA

Os moradores de Brumadinho estão em luto e com raiva da Vale, mas também não sabem o que vai ser da cidade se a mina da empresa fechar. “Isso aqui vai virar uma cidade-fantasma”, diz ao Repórter Brasil um ex-funcionário que enterrou o irmão. “Morreu meu irmão. Morreram meus parentes. Mas não pode deixar a cidade morrer. Como vão viver meus filhos? Como vão viver meus netos?”, questionava. Segundo a matéria, não é o único a defender a mineração e a permanência da mesma empresa que consideram assassina. Por mais que pareça estranho, faz sentido. A Vale é a maior empregadora da cidade, e responsável por uma parte enorme da arrecadação fiscal em Brumadinho. A questão é que, com ou sem acidente, com ou sem segurança, um dia o minério acaba e a mina vai embora. E os governos nunca pensaram em uma alternativa econômica para quando esse dia chegar. 

Ontem, quando completou um mês da tragédia, o Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) publicou um dossiê sobre o crime. 

CAÇA AO TESOURO

E a mineração em águas profundas tem gerado cada vez mais interesse. A BBC fala do caso específico do Japão, que importa a maior parte dos seus minerais e vê o fundo do mar como um ambiente promissor para isso. A até três mil metros de profundidade e em meio a correntes irregulares, movimentos da água fria do mar em rachaduras na crosta do leito oceânico fazem com que vários minerais sejam liberados das rochas. Ao longo de milhares de anos, essas chamadas ‘fontes hidrotermais’  vão se tornando inativas, mas os minerais continuam por ali, e um único depósito pode conter milhões de toneladas. O país já conseguiu identificar seis, e dois anos atrás escavou um, em um teste piloto. Quer viabilizar a exploração em escala comercial.

Mas, como você já deve ter imaginado, os riscos ambientais são imensos, inclusive porque ninguém conhece direito o meio ambiente e os ecossistemas do fundo do mar, então prever as reais consequências é quase impossível. Praticamente não há estudos sobre elas. 

SEM FÔLEGO

Cientistas afirmam: está cada vez mais difícil para a vida marinha obter oxigênio. Os níveis despencaram nas últimas décadas e, em algumas regiões tropicais, a queda chegou a 40% em 50 anos. O motivo é o aquecimento das águas. Animais marinhos (tanto grandes quanto pequenos) respondem até a pequenas alterações nos níveis de oxigênio, e há vários danos em diferentes espécies, desde uma diminuição na produção de espermatozóides até perdas na visão e audição. 
deslocando-se. Em busca dos níveis ideais, esses bichos  podem se deslocar, expondo-se a novos predadores ou até sendo forçados a viver em regiões com menos alimento. 

NÃO BASTA VIVER

Uma coisa é viver muito, outra é viver bem, e essa é uma obviedade que está ficando de lado nas discussões sobre a Reforma da Previdência, como escreve Cláudia Collucci em sua coluna na Folha. Ela traz alguns dados que mostram como as pessoas estão de fato vivendo cada vez mais, só que em piores condições de saúde: “Entre 2000 e 2010, por exemplo, a população acima de 60 anos ganhou, em média, dois anos a mais de expectativa de vida, mas perdeu até três de vida saudável”, diz. A expectativa de vida cresceu, mas os anos de incapacidade cresceram mais ainda. 

EM CASA

A segunda edição da pesquisa Violência Contra as Mulheres, do Fórum Brasileiro de Segurança Pública confirma: o lugar mais inseguro para as mulheres é dentro da própria casa. E 76% das agressões são cometidas por conhecidos da vítima. Metade delas se calam depois da violência.  

O levantamento foi feito com base em entrevistas de mais de duas mil mulheres sobre situações vividas no último ano. Em 2018, pelo menos 22 milhões de brasileiras sofreram assédio e 16 milhões sofreram algum tipo de violência (incluindo ofensas verbais). As agressões físicas atingiram 4,7 milhões. São 536 casos por hora.  

TAMBÉM ESTRUTURANTES

Pensar não só na classe como determinante social da saúde, mas também no gênero e na raça, é um desafio colocado por Luis Eduardo Batista em entrevista ao Observatório de Análise Política em saúde. Ele lidera hoje dois grupos de pesquisa envolvendo a saúde da população negra na UFSCar. “Eu vejo como um estranhamento da sociedade você pensar o racismo como estruturante, consequentemente impactando o processo saúde-doença e a morte, porque a gente foi treinado para pensar classe como o único determinante social da saúde. E na hora em que vamos ampliando, principalmente no campo da Saúde Coletiva, essa discussão das desigualdades, depois discutindo equidade e, mais recentemente, iniquidade, aí não teve como não pensar como se articulam essas questões sociais para além de classe, como elas acabam impactando no processo saúde-doença e morte. Mas para o gestor, para os profissionais de saúde, isso é muito novo”, afirma. 

FURA-FILA

Foi no Rio: a sogra do vice-governador, Claudio Castro, furou fila na saúde pública para operar num hospital estadual. “Três funcionários do hospital ouvidos pelo RJ1 dizem que o mapa cirúrgico – a previsão de todas as operações que vão ser realizadas no dia – do domingo não foi divulgado. As testemunhas afirmam ainda que não houve registro de entrada da paciente no livro do setor e que o prontuário da paciente ficou dentro da sala da chefia”, explica a matéria do G1. O vice afirmou que sua sogra havia levado um tombo, estava correndo risco de vida e “a equipe do [hospital] Pedro Ernesto está disposta a agir desta forma com qualquer pessoa que esteja nessa situação”. Ela operou neste domingo. O Pedro Ernesto não faz cirurgias de emergência no domingo. 

MUITO RÁPIDO

Marcus Evans, um dos diretores da única clínica de gênero para crianças da Inglaterra – a Tavistock, ligada ao sistema público de saúde, o NHS –  renunciou ao seu cargo em meio a alegações de que os jovens estão sendo levados à transição de gênero sem receber orientação suficiente. Um relatório interno alegou que o Serviço de Desenvolvimento de Identidade de Gênero da entidade não é “adequado ao seu objetivo”, e que “as necessidades das crianças estão sendo atendidas de uma maneira lamentável e inadequada, e algumas sobreviverão com as consequências prejudiciais”. Segundo o documento, algumas crianças foram encaminhadas para o tratamento com hormônios bloqueadores da puberdade após uma única consulta. Houve também casos de pais que buscaram a transição para seus filhos apenas porque eles eram gays. Evans trabalhou na clínica Tavistock por 35 anos, mas afirmou preocupação sobre “o que está acontecendo no mundo da identidade de gênero“.

ACIMA DE TUDO

“Brasileiros! Vamos saudar o Brasil dos novos tempos e celebrar a educação responsável e de qualidade a ser desenvolvida na nossa escola pelos professores, em benefício de você, alunos, que constituem a nova geração. Brasil acima de tudo. Deus acima de todos!”. Nesta segunda, o Ministério da Educação mandou esse textinho – que termina com o slogan da campanha eleitoral de Bolsonaro – para todas as escolas públicas e privadas do país, para que fosse lido no primeiro dia de aula. Com os alunos e funcionários perfilados diante da bandeira do Brasil, também deveria ser tocado o hino nacional. A mensagem ainda pedia que alguém da escola gravasse o episódio e mandasse pro MEC e para a Secretaria Especial de Comunicação Social da Presidência da República.

GLIFOSATO

A Anvisa apresenta hoje uma proposta de consulta pública sobre o glifosato. 

NOVO PODCAST

A Fiocruz lança o Fiocruz no ar. No primeiro episódio, a resistência de bactérias a antibióticos. 

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