Dia do Fogo: a farsa e os reais culpados

Trabalhadores sem-terra, presos injustamente pelas queimadas, finalmente são soltos. Investigações apontam fazendeiros que fizeram “vaquinha” para comprar combustível. Leia também: Amazon entra ainda mais na saúde

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AINDA O DIA DO FOGO

Depois de 50 dias presos, acusados de participação no ‘Dia do Fogo’ – as queimadas criminosas no Pará que triplicaram os focos de incêndio entre os dias 10 e 11 de agosto –, finalmente ontem três trabalhadores rurais sem-terra foram soltos. A prisão ia na contramão da principal linha investigativa da Polícia Federal e da Polícia Civil, que aponta como principais suspeitos fazendeiros, madeireiros e empresários da região. Mas a defesa da soltura na verdade não levou isso em consideração. Segundo a Repórter Brasil, a juíza Sandra Maria Correia da Silva “argumentou que os sem-terra estavam presos sem julgamento há demasiado tempo, que tinham bons antecedentes e que dois deles sofrem com doenças crônicas”.

Na véspera da decisão, a Polícia Federal fez buscas e apreensões na casa e no escritório do presidente do Sindicato dos Produtores Rurais de Novo Progresso, Agamenon Menezes, e de outros três suspeitos. Segundo os investigadores, os responsáveis chegaram a fazer vaquinha para pagar o combustível usado nas chamas. Eles também contrataram motoqueiros para entrarem nas estradas próximas à floresta espalhando o líquido inflamável. 

Enquanto isso, grupos indígenas lutam por suas terras depois dos incêndios. Há relatos e fotos bem tocantes na Vice

DIAS DE ÓLEO

Ontem o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, anunciou que a pasta vai fazer um monitoramento de longo prazo dos impactos do derramamento de óleo no litoral do Nordeste na saúde da população, nos moldes do que será feito em Brumadinho. Ele não detalhou a metodologia que vai ser usada, mas falou que os possíveis efeitos da contaminação só são sentidos ao longo dos anos. O óleo já atingiu 81 municípios nos nove estados nordestinos, e moradores têm feito trabalho voluntário para retirá-lo das praias atingidas.

SEM DESCULPAS

As manifestações no Chile já duram uma semana e o presidente Sebastián Piñera apresentou na terça um pedido de desculpas por “falta de visão”, anunciando algumas medidas: incremento às aposentadorias, teto para os gastos com saúde pelas famílias (o que ultrapasse o teto será coberto pelo Estado), redução nas tarifas de energia elétrica e aumento dos impostos para os ricos. Não adiantou: sindicatos e movimentos sociais convocaram uma greve geral para ontem e hoje, repudiando a decisão do presidente de declarar estado de emergência e recorrer aos militares para conter os protestos. Já houve milhares de detidos, além de mais de 200 de hospitalizados. O número de mortos chegou a 18, incluindo uma criança de quatro anos.

Embora as demandas tenham começado com o aumento do preço do metrô, o protesto não era “só por 30 pesos”. A principal reclamação diz respeito às aposentadorias reduzidas do sistema de capitalização idealizado nos anos 1980. No Brasil, esse sonho de Paulo Guedes acabou não entrando no texto aprovado pelo Senado, mas ainda está na mira do ministro e pode vir a vingar por outros meios. “No Chile, os resultados desastrosos da capitalização individual começaram a ser sentidos nos últimos anos, quando a primeira geração que contribuiu integralmente no sistema adotado em 1981 começou a se aposentar (…). Muitos deles passaram boa parte da vida em empregos mal pagos ou informais, como reflexo da flexibilização das leis trabalhistas promovida pela ditadura, e hoje oito em cada dez pensionistas chilenos recebem abaixo do salário mínimo nacional”, explica Mauricio Brum, no Intercept. Bem abaixo do salário mínimo, por sinal: em média, metade dele.

Já na saúde, “apenas 20% dos chilenos têm um plano privado, mas, mesmo para a maioria da população que não pode ou não quer mantê-los, há mensalidade para se utilizar o Fonasa, o mais próximo que o país tem de um SUS, criado pelo regime Pinochet em 1979 – um desconto fixo de 7% do salário, mais um valor pago por consulta ou procedimento, de acordo com a faixa de renda do usuário. A menos que o chileno viva em estado de pobreza extrema, única situação em que a lei garante isenção (e também o atendimento mais precário, reproduzindo a desigualdade), é preciso sempre passar pelo caixa do hospital”.

Uma pesquisa divulgada nesta quarta-feira pelo instituto Ipsos mostra que 67% dos entrevistados “se cansaram de suas condições de vida nas áreas econômica, de saúde e aposentadoria, que consideram desiguais e injustas“.

VOTAÇÃO CONCLUÍDA

Como previsto, o Senado terminou ontem a votação dos destaques à reforma da Previdência. Aconteceu após um acordo entre governo e oposição sobre um destaque do PT retirando do texto o trecho que barrava a possibilidade de aposentadoria especial por periculosidade – o destaque acabou acatado, e o tema vai ser regulamentado em outro projeto. Em contrapartida, a Rede retirou o outro destaque que seria votado ontem, sobre idade mínima da aposentadoria especial. A promulgação deve ser até o dia 19 de novembro.

E a comissão especial da Câmara dos Deputados aprovou o texto-base da reformados militares, que passou a incluir também bombeiros e PMs. 

QUASE LÁ

Mais um tipo do vírus da poliomelite foi erradicado – uma notícia anunciada hoje, Dia Mundial da Pólio, pela OMS. A doença é provocada pelos tipos 1, 2 e 3; o tipo 2 foi erradicado em 2015 e, agora, foi o fim do tipo 3. Atualmente, apenas o Paquistão e o Afeganistão relatam casos: no ano passado, foram 33. É uma diminuição de 99% dos casos no mundo desde 1988, quando estima-se que houve 350 mil doentes em mais de 125 países endêmicos. 

E em 2019 faz 25 anos que a poliomelite foi considerada eliminada nas Américas. Em 1975, antes da vacinação massiva e sistemática no continente, quase seis mil pessoas ficaram paralisadas no continente como consequência da infecção. Em 1991, os últimos seis casos foram registrados e, em 1994, a região foi a primeira do mundo a ser certificada como livre da doença. 

Mas há cinco anos uma rara doença com efeitos semelhantes aos da pólio, chamada mielite flácida aguda, tem se tornado cada vez mais comum nos EUA e já atingiu 590 crianças. Os surtos acontecem a cada dois anos, no fim do verão, e ainda não se sabe bem qual é a causa. A principal suspeita é a de que sejam vírus comuns, que provocam doenças respiratórias.

ONDE MENOS SE ESPERA

Foram registrados três casos positivos de sarampo –  e mais 41 suspeitos – em funcionários do Hospital de Jaú (SP), que recebe pacientes de todo o país para tratamentos de câncer.  Os trabalhadores foram afastados; consultas e atendimentos eletivos foram suspensos, e também alguns exames, como raio-x, endoscopia, ultrassonografia e ressonância magnética.

É HOJE

O PL dos planos de saúde vem a público hoje, no evento da FenaSaúde que vai contar com a presença do ministro Mandetta. No Globo, Marilena Lazzarini e Teresa Liporace, do Idec, resumem bem a arapuca das operadoras, que no fim das contas vão afogar o SUS alegando… desafogá-lo: “Na prática, a mudança almejada pelas empresas vai empurrar os pacientes com tratamentos complexos de volta para os corredores do SUS — os mesmos corredores dos quais elas prometem tirar o consumidor com seus ‘planos acessíveis’. Em seu novo modelo, as empresas, despudoradamente, ainda querem utilizar a estrutura pública para atendimento de seus clientes, a mesma que prometem desafogar”

AMAZON NA SAÚDE

A Amazon acaba de fazer sua segunda aquisição no setor da saúde: comprou a start-up Health Navigator, que oferece verificação online de sintomas e ferramentas de triagem para empresas de saúde digital. O Health Navigator vai se juntar ao grupo Amazon Care, lançado no mês passado para servir como benefício médico aos funcionários. Por meio dele, os trabalhadores têm atendimento virtual e, eventualmente, domiciliar. 

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