O adeus ao cientista Isaías Raw

• Estatuto do Nascituro sai de pauta • Autonomia do Brasil em vacinas • Imunizante mineiro • Acervo de plantas medicinais brasileiras •

.

Morre Isaías Raw, aos 95

O Brasil perdeu, na noite de terça-feira, um dos maiores cientistas do último século. Isaías Raw faleceu com 95 anos – 70 dos quais dedicados à ciência. Foi diretor do Instituto Butantan entre 2005 e 2009, e trabalhava desde os anos 1980 no desenvolvimento de imunizantes da entidade, inclusive na produção da esperada vacina contra a dengue. Raw foi fundador do Fundação Carlos Chagas, entidade que seleciona talentos em ciências biomédicas. Era membro da Academia Brasileira de Ciências (ABC) desde 1987 e foi um dos primeiros estudantes da Faculdade de Medicina da USP, onde formou-se em 1950. Estudou bioquímica na instituição, e tornou-se livre-docente sete anos após sua formatura. Com a promulgação do AI-5, foi cassado e teve de sair do Brasil. Em nota de pesar redigida pela Abrasco, Claudio Maierovitch declarou: “Além de grande cientista e professor, Isaías Raw era um ousado e inquieto batalhador. Trabalhou muito para aproximar a ciência das pessoas e colocá-la a serviço da vida. Foi pioneiro em muitas iniciativas para que o Brasil tivesse domínio e capacidade tecnológica na área de saúde, como na produção de soros, vacinas, medicamentos biológicos e hemoderivados”.

Vitória feminista: Estatuto do Nascituro sai da pauta

Após pressão de movimentos sociais e profissionais de saúde, foi retirado da pauta desta legislatura a votação do Estatuto do Nascituro. Proposta de extrema-direita, visa radicalizar a repressão do Estado ao aborto, inclusive em casos previstos por lei, como gravidez de risco, fruto de estupro ou anencefalia do feto. “Para caracterizar a figura de direito do nascituro, o PL 478/2007 não se ancora em evidências científicas e sim em doutrina jurídica profundamente influenciada por fundamentalismos religiosos, o que contraria a laicidade do Estado Brasileiro garantida na Constituição de 1988”, protestara a Associação Brasileira de Saúde Coletiva em nota.

O caminho necessário para a autonomia do Brasil em vacinas

Cada vez mais estratégica, a capacidade brasileira em desenvolver e aprovar vacinas esbarra na falta de financiamento. Uma matéria publicada na Folha expõe o caminho e os obstáculos a serem enfrentados para que o país consiga dar conta de todas as etapas clínicas, desde a pesquisa até a distribuição das doses, passando pelos testes em humanos e na produção em larga escala. 

O caso da UFMG

Para explicar o périplo, a matéria entrevistou Ricardo Gazzinelli, coordenador do CT Vacinas, espaço novo de produção de imunobiológicos ligado à Universidade Federal de Minas Gerais. Ele fala sobre a produção da SpiN-Tec, vacina anticovid brasileira que está em fases avançadas – mas esbarra na etapa de produção. Trata-se de um desenvolvimento caro e de alto risco, pouco disponível no Brasil. Há ainda outro entrave, que é a falta de laboratórios de biossegurança de nível 3. No Brasil, o único em funcionamento pertence à USP. Manter tais laboratórios demanda investimento alto e constante – que não é justificável se não há demanda suficiente. Mas à medida que as pesquisas avançam, a tendência é que fique mais fácil garantir autonomia. Haverá incentivo para isso?

Plataforma registra o uso de plantas medicinais no Brasil

O Brasil é terra de aproximadamente 40 mil espécies vegetais, e o conhecimento tradicional registrou o uso medicinal de algumas centenas delas. Para registrar esses saberes, o Instituto de Tecnologia em Fármacos (Farmanguinhos/Fiocruz) criou uma plataforma que contém informações sobre 300 das espécies. O acervo foi elaborado a partir de um estudo realizado pelo herbário Coleção Botânica de Plantas Medicinais (CBPM), do Centro de Inovação em Biodiversidade e Saúde da unidade (Cibs). “Este banco pode subsidiar pesquisas na área farmacêutica de produtos naturais, auxiliar registros de produtos tradicionais fitoterápicos na Anvisa, fomentar questões de repartição de benefícios junto ao [Conselho de Gestão do Patrimônio Genético] CGEN, além de outros benefícios”, afirma Marcelo Galvão, curador da CBPM. Para consultar o uso de alguma planta, basta clicar aqui e buscar por seu nome popular, científico ou até pelo tratamento. Ao buscar “babosa”, por exemplo, descobre-se que seu uso é feito por comunidades da Bahia, Pará, Rio Grande do Norte, Mato Grosso, Tocantins, Paraná e Minas Gerais. É comumente usada para tratar queimaduras e inflamações, em formas de uso diversas.

Leia Também: