Idosos suicidas

Centenas de idosos tiram a própria vida todos os anos em casas de repouso dos EUA. Escolhas racionais ou abandono? Leia também: as controversas emendas parlamentares; a militar presa por querer amamentar; e muito mais

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IDOSOS SUICIDAS

Casas de repouso, centros de conveniência e lares para idosos devem ser locais seguros, supervisionados e com profissionais que prestem atenção à saúde física e mental dos residentes. Mas, após um trabalho de de seis meses, jornalistas do Kaiser Health News e da PBS NewsHour concluíram que, nos EUA, centenas de idosos se suicidam a cada ano nesses estabelecimentos. E pesquisas indicam que um terço dos residentes têm pensamentos suicidas.

Existe um o controverso debate sobre se as pessoas – em qualquer idade – não poderiam fazer uma escolha “racional” em relação à morte, o que se aplicaria eles. Mas a sensação de abandono e falhas na assistência nessas instituições parecem ter um papel importante nas estatísticas. Muitas vezes são dados sinais: moradores dizem às equipes que estão deprimidos, ou solitários, ou que se sentem abandonados pela família, ou que não têm motivos para viver. Familiares apontam que um cuidado melhor poderia evitar as mortes, o que em alguns casos chega a ser confirmado por investigações: após casos de suicídio, lares já foram penalizados por não atenderem aos requisitos das instalações financiadas pelo governo federal.

E, no outro extremo: também nos EUA, o número de crianças e adolescentes dando entrada em emergência e que tiveram diagnóstico de ideação suicida ou tentativa de suicídio dobrou entre 2007 e 2015. Mais de 40% desses diagnósticos foram em crianças de 5 a 11 anos.

SAÚDE EM SANDERS

O senador Bernie Sandres divulgou ontem a última versão de seu projeto de ‘Medicare-for-all’, para cobertura universal de saúde, reforçando o tema como central na agenda do Partido Democrata.  A proposta é eliminar em grande parte os seguros privados, transferindo as pessoas para um plano administrado pelo Medicare. Ele não expõe os custos da proposta, mas quer aumentar as receitas por meio de impostos sobre empregadores, empresas e pessoas ricas. Segundo a matéria da Reuters, pelo menos outros 10 democratas presidenciáveis apoiam projetos semelhantes. 

EMENDAR OU NÃO EMENDAR

No sempre insuficiente orçamento da Saúde, o papel das emendas parlamentares não é irrelevante. Hoje, com elas, deputados e senadores dispõem de R$ 5,3 bilhões para aplicar em saúde nos estados e municípios. Se for aprovada aquela PEC do Orçamento impositivo (que está tramitando bem rápido, num movimento contrário à ideia de desvinculação de Paulo Guedes), pode chegar a R$ 8 bi, ou 6,1% do orçamento da pasta. Na matéria do Estadão,  Arthur Chioro, ex-ministro no governo Dilma, critica o dispositivo: “As emendas servem para manter o clientelismo, agradar prefeito A ou B ou a mantenedora de hospital filantrópico X ou Y”. Já o deputado Ricardo Barros, ex-ministro de Temer, acha bom. De todo modo, às vezes os parlamentares não sabem as prioridades, e pedem recursos para coisas que nunca são usadas, como equipamentos de ultrassom e ressonância magnética para cidades muito pequenas. O Ministério da Saúde pretende lançar até agosto um manual para orientá-los. 

E o contingenciamento de recursos do governo Bolsonaro também atingiu as emendas que tinham sido liberadas para este ano. Só nove parlamentares tinham sido beneficiados, e o próprio presidente era o maior deles, com 30% do valor total. Mesmo não sendo mais deputado, ele tinha conseguido autorização para gastar este ano R$ 639,4 mil referentes a emendas feitas por ele no ano passado (eram duas, para comprar equipamentos de exames para um hospital da Marinha). O corte não atingiu as emendas indicadas pelas bancadas. 

Mesmo assim, ontem Bolsonaro andou prometendo liberar mais emendas. Quer garantir o apoio dos parlamentares para aprovar a reforma da Previdência. 

MAIS E MAIS

Ontem o Ministério da Agricultura liberou o registro de mais 31 agrotóxicos, sendo que 16 foram considerados extremamente tóxicos pela Anvisa. Ou seja, em 100 dias, o governo liberou 152 venenos.   

E o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, passou por sabatina na Câmara. Defendeu a aceleração dos processos de liberação de agrotóxicos e de licenciamento ambiental. Disse que pretende alterar o sistema de fiscalização do desmatamento na Amazônia, porque ela “não foi eficiente na forma como está sendo feita”; quer também mudar o Conama (Conselho Nacional do Meio Ambiente).

Longe daqui, o segundo homem a convencer um juri de que a Monsanto lhe causou um câncer foi entrevistado no Guardian, junto com sua esposa. “Eles deveriam estar conosco quando estávamos na enfermaria de quimioterapia … sem saber o que fazer para aliviar a dor”, disse ela. 

PUNIDA POR EXIGIR O ÓBVIO

Há dois anos e meio uma tenente paraguaia pediu para ser excluída dos seus turnos de 24 horas a cada três dias. O motivo era justo: acabava de voltar da licença-maternidade e precisava seguir amamentando.Os comandantes e a Justiça militar negaram, mas o caso acabou levando à criação de salas de amamentação nos quartéis – ela foi à Justiça comum, o problema se tornou público e chegou ao Congresso, seus superiores tentaram condená-la a dois anos de reclusão… Na semana passada, a Corte Suprema do país confirmou que ela deve cumprir 45 dias de detenção por falta disciplinar (vai poder cumprir em casa). A história está no El País. 

OUTRA VIAGEM

Não é novidade que mulheres viajam do Brasil para Portugal para abortar, e um relatório do Ministério da Saúde de lá mostra que a quantidade de brasileiras que fizeram o procedimento aumentou 18% entre 2016 e 2017: foram 447 mulheres. Naquele país, o aborto não só é legalizado (até a 10ª semana de gestação) desde 2007 como é gratuito no sistema público, inclusive para estrangeiras. Mas muitas das que viajam optam pelas clínicas particulares, onde pagam entre R$ 2 mil e R$ 2,5 mil. O crescimento do aborto feito por brasileiras contrasta com a taxa das portuguesas: entre elas, o número já cai há seis anos consecutivos, e, em 2017, a queda foi de 25%. 

Já na Espanha, onde o procedimento é legal e coberto pela saúde pública até a 14ª semana, duas ONGs pedem que sejam investigados “obstáculos e demoras” enfrentados por imigrantes para conseguirem acessar esse direito. 

E NOS EUA…

Há cada vez mais estados aprovando leis que restringem o acesso ao aborto. 

Enquanto isso, Trump planeja exibir na Casa Branca, nesta sexta, um filme que descreve abortos feitos no segundo e terceiro trimestres de gestação em detalhes gráficos. Foram enviados convites a ativistas ‘pró-vida’ de todo o país. 

MAU SINAL

tuberculose é uma doença solucionável, mas não resolvida no país: em 2017, foram mais de 200 registros por dia, com 4,5 mil mortes a cada ano. Segundo levantamento do Estadão, o que preocupa ainda mais é a incidência de infecções multirresistentes, ou seja, que não respondem aos principais tratamentos. Isso triplicou em uma década. De acordo com a coordenadora do programa de tuberculose do Ministério da Saúde, esse aumento é por conta da inclusão no SUS, em 2014, de um teste que detecta a resistência da bactéria a um dos principais antibióticos. Ela diz que, apesar do crescimento, a resistência aqui continua baixa porque o tratamento só é oferecido pelo governo, o que evita o uso indiscriminado. A doença está ligada às condições socioeconômicas da população, por isso a alta na incidência é sinal de que as coisas vão mesmo mal.  Ao mesmo tempo, o contingenciamento de recursos públicos e a deteriorização dos serviços de saúde atrapalham o diagnóstico e o tratamento. 

VAI TER

Ontem mesmo comentamos aqui sobre o risco de o superfungo Candida aurisentrar no Brasil e a gente não ver, porque não há um sistema de vigilância contra fungos no país. Pois o secretário de Vigilância em Saúde, Wanderson Kleber de Oliveira, afirma que a questão tem sido discutida há três anos  e há um modelo em elaboração

ESPÉCIE ENIGMÁTICA

Foi anunciado ontem na Nature: pesquisadores acreditam ter descoberto uma nova espécie humana que viveu nas Filipinas há mais de 50 mil anos. Eles analisaram 13 restos fósseis (dentes, falanges e fragmentos de fêmur) pertencentes a pelo menos três indivíduos. O ‘Homo luzonenzis‘, como foi batizado, não é um ancestral do Homo sapiens. Foi contemporâneo, mas com características primitivas. Segundo um dos pesquisadores, isso mostra “muito claramente que a evolução humana não é linear”.

NÃO MUITO ENIGMÁTICA

Cientistas analisaram diversas geleiras, como no Ártico e na Antártica, e encontraram resíduos radioativos nos 17 locais estudados. Segundo um deles, os resíduos estão nos “veis mais elevados medidos no meio ambiente fora das zonas de exclusão nucleares”. E podem ser liberados com o derretimento.

SURPRESA

Uma mulher de Taiwan estava capinando o túmulo de um parente quando sentiu um cisco no olho. A dor só fez piorar, e quando ela foi ao hospital, parecia ter uma grave infecção. Mas o que os médicos encontraram foi estranho: quatro abelhinhas vivendo lá atrás e bebendo suas lágrimas. 

GRIPE

Nos três primeiros meses do ao foram registrados 255 casos e 55 mortes, principalmente no Amazonas. O ministro da Saúde lançou ontem a campanha nacional de vacinação, e a pasta pretende imunizar 58,6 milhões de pessoas até o dia 31 de maio. Até o próximo dia 18, vão ser priorizadas gestantes e crianças de até seis anos. Depois, se estende aos outros públicos-alvo: trabalhadores de saúde; povos indígenas; puérperas (mulheres até 45 após o parto); idosos (a partir dos 60 anos); professores, pessoas portadoras de doenças crônicas e outras categorias de risco clínico, população privada de liberdade, incluindo adolescentes e jovens de 12 a 21 anos sob medida socioeducativa, e funcionários do sistema prisional.

RISCOS

A última edição da Reciis, publicada pelo Icict/Ficoruz, tem a cultura do risco e saúde como tema. Um dos artigos fala sobre a publicidade da Vale e seus impactos em Brumadinho.  

TRABALHO

Hoje a OIT faz 100 anos. Vai fazer uma maratona de 24 horas de apresentações e performances em diferentes países. No Brasil vai ser em Salvador, às 15h: no teatro Castro Alves, vão se apresentar Daniela Mercury e Elisa Lucinda, com transmissão via internet. 

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