Guarani Kaiowá: crianças e jovens envenenados

Há meses, comunidade indígena no MS avisa que está sendo atingida por agrotóxicos. Agora a pulverização aconteceu ao lado da escola. Leia também: o novo #MeToo, dessa vez pelo aborto; MEC vai mudar exame para médicos estrangeiros

Foto: Cimi
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GUARANI KAIOWÁ: CRIANÇAS E JOVENS ENVENENADOS

A 50 metros de uma escola na Terra Indígena Guyraroka, em Caarapó, no Mato Grosso do Sul, está a Fazenda Remanso. A escola é nova, foi inaugurada em abril. Logo em seguida, o fazendeiro decidiu transformar o pasto em plantação. No preparo da terra, aviões despejaram veneno e tratores lançaram calcário, levantando uma poeira branca que se espalhou com o vento.

Na cerquinha que separa a fazenda da escola, as crianças se amontoaram, curiosas. E, na semana passada, quatro crianças e dois adolescentes tiveram que ser levados ao hospital por intoxicação: tinham asma, tosse seca, falta de ar, vômito, dores no tórax, no estômago e na cabeça. Seis cachorros também foram envenenados, e dois morreram.

A Remanso não é a única fazenda que espreme as terras Guyraroká. E desde o ano passado, os indígenas reclamam que a comunidade, formada por 120 pessoas, é atingida por agrotóxicos. De acordo com a matéria do Cimi (Conselho Indigenista Missionário), não parece casual: trata-se de pressão para que os Guarani Kaiowá se retirem dos 55 hectares que atualmente ocupam.

A demarcação da terra foi anulada em 2014 pela segunda turma do STF após uma ação do dono da fazenda Cana Verde, uma das 26 propriedades com títulos que se sobrepõe à área demarcada. Os indígenas entraram com pedido de anulação dessa decisão e o julgamento está marcado para o dia 27 de junho. “Então eles estão pressionando de todos os jeitos”, diz Erileide, uma moradora que esteve recentemente na ONU denunciando a situação. Ela diz que até drones são usados pelos fazendeiros para monitorar a aldeia. “As ameaças são permanentes. Lançam veneno em cima da gente, nos vigiam e ameaçam, buscam várias formas de nos intimidar”.

SEGUE A DISCUSSÃO

A lei sobre drogas aprovada pelo Senado, que foi destaque na nossa newsletter de ontem, foi analisada por vários veículos, e na BBC há um bom resumo do caso. A reportagem ressalta que, embora o Senado tenha corrido com a tramitação de olho no julgamento do STF sobre a descriminalização do porte (Eduardo Bolsonaro chegou a dizer que a aprovação poderia ‘acabar com a discussão’), na verdade isso não interfere no julgamento. O Supremo vai analisar especificamente o artigo da lei 11.343/2006 que trata do porte para consumo, avaliando se a prisão de consumidores é constitucional. 

Época falou com dois professores de psiquiatria que divergem totalmenteem relação às mudanças na lei e as formas de lidar com usuários de drogas. Ronaldo Laranjeiras, da Unifesp, está de acordo com as alterações, enquanto Luís Fernando Tóffoli é contra quase tudo.  Ambos criticam, porém, o caráter religioso da maior parte das comunidades terapêuticas, que parecem estar se tornando locais de conversão de fiéis. Tóffli acrescenta que elas deveriam ser apenas para internação voluntária mas fazem internação involuntária, o que é inadequado.

E o governo quer financiar 20 mil vagas nas comunidades terapêuticas. A matéria do Estadão traz avaliações sobre a atuação dessas instituições: “Não há nenhum estudo que mostre que as comunidades são mais eficientes. Não há também nenhuma comparação sobre os custos de cada uma das estratégias”, diz uma pesquisadora do Ipea, Maria Paula Gomes Santos. Aliás, nem mesmo o diretor da Federação Brasileira de Comunidades Terapêuticas, Pabro Kurlander, confia tanto nelas quanto Osmar Terra. Ele acha que muitas não são sérias e nem deveriam ter esse nome. “Elas permitem a internação involuntária, não têm métodos terapêuticos: não tem atividades específicas, praticam maus tratos, violam direitos”.

Segundo o Intercept, nos últimos cinco anos foram destinados pelo menos R$ 17,5 milhões a 20 comunidades denunciadas pelo MPF. 

QUAL RÓTULO?

Breve e sem embasamento científico: é como Paula Filizola descreve, n’O Joio e o Trigo, a explicação dada pelo ministro Mandetta à Rádio CBN em relação à sua preferência pelo modelo italiano de rotulagem de alimentos industrializados, que noticiamos ontem por aqui. Ela esclarece que o modelo defendido pelo ministro foi criado na década passada e coloca, na frente da embalagem, informações nutricionais como calorias, sódio, açúcar e gorduras saturadas, mas sem indicação sobre se aquilo é ou não perigoso. O modelo já foi descartado até pela indústria, que prefere um esquema de semáforo, com as cores indicando o ‘grau’ de perigo. O que pesquisadores de segurança alimentar e alimentação saudável defendem – e as discussões na Anvisa também – é outro modelo, como o chileno, em que aparecem advertências em certos produtos. “Agora basta saber quem vai conseguir fazer o lobby mais forte para aprovar as mudanças da forma como deseja: Anvisa, Ministério da Saúde, sociedade civil ou a indústria?”, questiona. 

MUITO ALÉM…

Já se fala um bocado sobre como alimentos ultraprocessados fazem mal à saúde. Mas agora um estudo publicado na Cell Metabolism sugere pela primeira vez que há uma relação causal entre esse consumo e uma maior ingestão calórica, com ganho de peso. Voluntários foram divididos em dois grupos, cada grupo com uma dieta. Ambas tinham os mesmos nutrientes e menus variados, e os participantes podiam comer o quanto quisessem. As refeições dos dois grupos foram consideradas gostosas por todos os participantes. Saciedade e familiaridade com os alimentos também não tiveram diferença entre os grupos, e todos tinham que se exercitar uma hora por dia. Mas os que comeram ultraprocessados tiveram maior ingestão calórica e engordaram, enquanto o outro grupo viu melhoras em exames. 

Por aqui, a Folha procurou a Abio, que representa a indústria alimentícia, para comentar os resultados. Seu presidente, João Dornellas, afirmou que a pesquisa é falha e que a classificação de um alimento como ultraprocessado “não encontra respaldo na ciência e na tecnologia de alimentos”.

VAI MUDAR

O Ministério da Educação formou um grupo de trabalho para estudar mudanças na forma de revalidar diplomas de graduação em Medicina, segundo o Estadão. A equipe vai ter representantes da Secretaria de Educação Superior do MEC, o Inep e do Conselho Federal de Medicina (CFM). O resultado deve sair em dois meses. 

NOVO #METOO

A aprovação da lei super restritiva ao aborto no Alabama gerou uma reação em cadeia nas redes sociais. Começou quando a atriz e apresentadora Busy Phipps tuitou: “Uma em cada quatro mulheres fizeram aborto. Muitas pessoas pensam que não conhecem alguém que tenha feito, mas #VocêMeConhece. Vamos fazer o seguinte: se você também é uma dessas quatro, compartilhe e comecemos a perder a vergonha”. A hashtag #YouKnowMe chegou a quase 9 mil retuitadas em pouco mais de 24 horas. 

PRA VALER

O ministro Mandetta assinou ontem a portaria que regulamenta o programa Saúde na Hora, para ampliar o horário de atendimento das unidades básicas de saúde. A partir de agora, os municípios que aumentarem esse horário vão receber mais dinheiro do governo federal e os recursos por unidade vão mais que dobrar. Haverá formatos de 60 e 75 horas semanais. Segundo um levantamento da pasta, 336 unidades já funcionam em horário ampliado, e outras 2,2 mil estão aptas a participar do programa.

COQUELUCHE

Possível de prevenir por vacinação, a coqueluche está em alta em Pernambuco. Desde o ano passado, houve aumento de 283% no número de casos, que chegaram agora a 180. Em Igarassu, no Grande Recife, um bebê morreu.

PELO MENOS 30

O vírus mayaro, descoberto por pesquisadores da UFRJ no estado do Rio, é um dos mais de 30 que circulam na Amazônia e podem transmitir doenças para humanos. A matéria do Globo diz que, depois do mayaro, o mais provável de se alastrar pelo país é o oropuche, transmitido pelo mosquito-pólvora. Ele tem sido associado a quadros de meningite. 

SURTOS

São são dez as cidades do interior de São Paulo em estado de emergência por conta da dengue. A última foi Araras, que já soma 236 casos (44 só na última semana). 

Em Campinas há epidemia neste ano, com mais de 11 mil casos e duas mortes. E o G1 mostra que, lá, os investimentos no combate a arboviroses como a dengue caíram 18% em dois anos. Foram perdidos 34 agentes de combate a endemias no período.

AGENDA

Hoje acontecem eventos marcando a Semana da Enfermagem na Fiocruz. 

Já na semana que vem, de segunda a quarta, o Pint of Science acontece em 85 cidades.

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