Começou o Abrascão

Hoje, conferências da ex-presidente Michele Bachelet e do sociólogo Jessé Souza serão transmitidas online. 

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Abrascão: Hoje, conferência da ex-presidente Michelle Bachelet e debate com o sociólogo Jessé Souza serão transmitidos online.  Essa e outras notícias aqui, na newsletter do dia

26 de julho de 2018

ABRASCÃO

E hoje começa o 12º Congresso da Associação Brasileira de Saúde Coletiva, a Abrasco. Criada em 1979, no bojo da luta contra a ditadura, a entidade sempre teve como objetivo combinar conhecimento científico com ação, de modo que evidências sobre a saúde da população brasileira, por exemplo, orientaram a mobilização política pelo SUS. Já se passaram quase 30 anos desde a criação do Sistema que se de um lado nunca saiu do papel completamente, por outro nunca esteve tão ameaçado. Foi justamente por aí que enveredou a conversa do Outra Saúde com o presidente da Abrasco, Gastão Wagner. Em entrevistaconcedida aos editores Antonio Martins e Maíra Mathias, o professor da Unicamp e militante histórico faz um balanço da trajetória da sua geração e projeta linhas de ação para o futuro, a começar pelas eleições em 2018. Gastão se despede da presidência da Abrasco no domingo, quando Gulnar Azevedo, professora da UERJ e candidata única à sucessão, assume o posto.

A programação do evento começa concorrida. É que a ex-presidente do Chile, Michelle Bachelet, abre o Abrascão com uma conferência sobre a ligação dos sistemas universais e públicos de saúde com direitos sociais e democracia. Já no final do dia, também a democracia e os direitos são o assunto, mas sob uma leitura de suas possibilidades no capitalismo, e o conferencista é o sociólogo Jessé Souza, autor de livros como Subcidadania brasileira (2018) e A elite do atraso (2017). Serão transmitidas ao vivo.

São mais de sete mil participantes. E, durante vários momentos, 23 mesas de debate ao mesmo tempo. Para não se perder na programação, a Abrasco preparou um guia que divide as discussões por grandes temas, como austeridade, doenças crônicas ou relação público-privada na saúde. E aqui um mapa do campus da Fiocruz em Manguinhos,no Rio, onde acontece o evento.

SOB NOVA DIREÇÃO

A Associação Brasileira de Saúde Mental (Abrasme) tem, desde ontem, novo comando. Ana Pitta, professora da USP, é a nova presidente. Substitui Walter Oliveira. Com isso e, a partir do domingo com a mudança na Abrasco, três das mais importantes entidades da Reforma Sanitária serão dirigidas por mulheres. A primeira delas foi o Centro Brasileiro de Estudos da Saúde (Cebes), com a eleição de Lucia Souto em fevereiro. A votação da Abrasme aconteceu ontem, na UERJ, no pré-Abrascão.

ZIKA, DE NOVO?

Durante o pré-congresso, quando se realizaram cursos e oficinas fechados para convidados e participantes inscritos, um dos debates foi sobre a epidemia do zika vírus no Brasil. Discutiu lições aprendidas e recomendações para o futuro. E reuniu pesquisadores com famílias de crianças afetadas pela microcefalia. Uma das conclusões do pesquisador que coordenou o encontro é que, além de para essas pessoas as repercussões da epidemia de 2015-16 não ter acabado, também não se pode descartar que o país viva tudo novamente. E, se acontecer, o Brasil de hoje (com cortes orçamentários) não estaria preparado, de acordo com Gustavo Matta, da Escola Nacional de Saúde Pública (ENSP). Ele foi entrevistado pela Isto É:

“Não temos um histórico da epidemia de zika como temos, por exemplo, da dengue. Não conhecemos a imunorresistência da população e também não sabemos se quem contrai zika uma primeira vez pode ficar doente novamente. Muitos estudos de modelos epidemiológicos apontam que, em três ou quatro anos, poderia haver uma nova epidemia, ou talvez menos. É um exercício de previsão e adivinhação. Se analisarmos o modelo da dengue, que pesquisamos há mais de 30 anos, vemos que é uma doença cíclica, temos ondas epidêmicas a cada dois, três anos. Teremos uma nova epidemia, ou não? Como será sua extensão? Vai gerar novos casos de microcefalia? Há muitas questões em aberto. (…) Com o corte de recursos para a ciência e também nas políticas públicas, e tendo em conta os problemas de saneamento, condições de vida, água tratada, controle de vetores, prevenção, monitoramento, capacitação de trabalhadores para identificação precoce, sem teste de diagnóstico confiável… Hoje, não estaríamos preparados, para isso precisamos de mais recursos.”

Outros assuntos debatidos no pré-congresso foram a economia política do setor de saúde brasileiro no século 21, o conceito de gênero e seu impacto na saúde e suicídio.

EFEITOS DELETÉRIOS

Um editorial do Guardian criticou a postura da Igreja Católica em relação à condenação do uso de métodos contraceptivos. É que hoje se completam 50 anos da edição da encíclica Humanae Vitae, quando o papa Paulo VI determinou que católicos não podem evitar ter filhos recorrendo a métodos artificiais (e eficazes), como camisinha e pílula. O resultado, diz o jornal, foi uma “crise de autoridade” que levou dezenas de milhões de fiéis e padres mais progressistas a desafiarem, pela primeira vez, a autoridade do Vaticano. E, é claro, os efeitos simbólicos e materiais dessa decisão são distribuídos de maneira desigual pelo mundo.

“Enquanto mulheres católicas de países ricos podem e, efetivamente, ignoram a encíclica, a pressão da Igreja sobre políticos de nações que doam dinheiro, e sua atuação no atendimento à saúde na África, significam que nos países em desenvolvimento, as mulheres não têm tal escolha. (…) As vítimas da encíclica são as mulheres do Sul global que a Igreja diz, em outros contextos, priorizar. Estima-se que 100 milhões de gestações indesejadas aconteçam no mundo todos os anos. A maioria esmagadora em locais onde mulheres não têm acesso à contracepção”.

REPRODUÇÃO ASSISTIDA

Este é o tema da coluna de Cláudia Collucci hoje. A jornalista da Folha argumenta que a infertilidade está na Classificação Internacional de Doenças, parâmetro que, em tese, todas as operadoras de planos no Brasil deveriam obedecer. Mas o tratamento de reprodução assistida foi excluído do rol de obrigações das empresas pela ANS em 2010. No SUS, o quadro está longe de ser animador. Embora seja uma terapia prevista desde 2005, poucos serviços a disponibilizam. E é muito caro pagar do próprio bolso: cada ciclo custa entre R$ 15 mil e R$ 20 mil, com chances girando nos 36% a cada uma das tentativas. Em outros países, porém, o Estado banca o tratamento. Na França, por exemplo. Mas também na vizinhança: caso da Argentina e do Uruguai.

VIDA EM MARTE

Cientistas detectaram a existência de um grande lago de água salgada sob o gelo no pólo sul de Marte. Se confirmado, o achado será, literalmente, um divisor de águas para buscar por vida no planeta vermelho. Como microorganismos. Os pesquisadores do Instituto Nacional de Astrofísica italiano publicaram os resultados da pesquisa ontem na revista Science.

AGROTÓXICOS E ELEIÇÕES

Um artigo do Le Monde Diplomatique Brasil traz dados interessantes (e alarmantes) sobre os agrotóxicos no país. Seríamos, segundo uma consultoria alemã, o maior mercado desses produtos no mundo, superando até os Estados Unidos (gastamos US$ 7,1 bi comprando veneno, enquanto por lá a cifra é consideravelmente menor: US$ 6,6 bi). Mesmo assim, diz Carlos Alberto Dória, há espaço para expansão. Segundo ele, países como os EUA e a Rússia estão buscando novas tecnologias para substituir agrotóxicos – e isso pode fazer de nós um bastião a ser disputado, com muito lobby, pelas empresas vendedoras desses produtos, à medida que perdem clientes lá fora. E as multinacionais enxergam no país um ambiente favorável aos negócios também como forma de recuperar investimentos.

“A Basf e a Mitsui possuem mais de 20 moléculas aguardando autorização para entrar no mercado. Elas gastaram juntas mais de 560 milhões de euros para desenvolver uma molécula chamada profelanide, ainda não autorizada em qualquer outro país. É natural que busquem um ambiente institucional que possa garantir-lhes o retorno do capital investido, e esse paraíso é no que pretendem transformar o Brasil”, escreve Dória, para quem as eleições trazem a questão central de manutenção (ou mesmo expansão) do poder da bancada ruralista no Congresso.

E PARA QUEM LUTA…

O Brasil é o país mais letal do mundo para defensores dos direitos à terra e ao meio ambiente saudável, segundo a ONG Global Witness. Segundo seu mais novo relatório, lançado na terça, foram 57 assassinatos por aqui no ano passado. Nos 22 países estudados, foram 207 mortes, 46 delas creditados às disputas com o agronegócio – que superou a mineração como o setor mais violento. A América Latina continua liderando o sangrento ranking: em 2015, foi palco de 66% das mortes registradas, enquanto que em 2017, o número ficou em 60%.

ANTES E DEPOIS

As mudanças na proposta do governo federal de distribuir medicamentos estão impactando quem mais precisa. O Brasil de Fato reporta que na Paraíba, o acesso ficou mais difícil. É que antes, o programa Farmácia Popular tinha prédios próprios localizados em regiões que não interessam muito a farmácias comerciais, no interior ou nas periferias pobres. Com a mudança feita em 2017 no governo Temer, o programa passou a se chamar Aqui tem Farmácia Popular. Mas o “aqui”, ironicamente, é “lá” para o público-alvo, que precisa se deslocar para outros bairros e cidades se quiser retirar os remédios, agora só dispensados em farmácias privadas.

POLIANISMO OU CINISMO?

Se aquela antiga personagem, Poliana, tivesse que encarnar homem e detentor de cargo público, Paulo Messina, chefe da Casa Civil do prefeito do Rio Marcelo Crivella (PRB), seria um forte candidato. Para ele, o episódio do Café da Comunhão em que o alcalde acenou com facilidades para líderes evangélicos foi uma “confusão”. Mas “foi boa por um lado para mostrar a necessidade de trazer mais transparecia para o Rio”. Ainda segundo Messina, o prefeito do Rio – e ex-senador – “não sabia o que estava fazendo”.

A “confusão” gerou uma mudança grande na organização da saúde carioca: é a Casa Civil de Messina que passará a responder pelo acompanhamento do orçamento e da execução dos serviços das Organizações Sociais, as OSs, contratadas pela prefeitura para gerir desde unidades básicas de saúde a hospitais. As empresas reclamam do atraso no repasse de recursos, como aconteceu ano passado.

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