Combatemos a pandemia… como na Idade Média?

Pesquisadora da UFSC sustenta: pandemia deixou clara superioridade dos sistemas públicos de Saúde – mas também expôs descoordenação, desigualdade e ignorância, num mundo que se supõe “globalizado”

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“Estamos enfrentando a pandemia com dispositivos de biossegurança medievais.” É o que acredita a professora e pesquisadora Marcia Grisotti (UFSC), que participou recentemente de uma conferência organizada pelo Consulado da França em São Paulo, em parceria com a Unesco e a Unicamp. Ela investiga a intersecção entre assistência médica, saúde pública e meio ambiente, e avaliou, em entrevista ao Nexo, a atuação global de combate à pandemia.

Marcia explica: quarentena, fronteiras sanitárias e isolamento funcionam, mas é preciso agir em muitas outras frentes – e claramente os sistemas públicos de saúde têm funcionado melhor que os privados. Mas não bastam, em um mundo que permite a rápida circulação de pessoas, animais e mercadorias, e ainda assiste a uma veloz expansão do desflorestamento e antropização de ambientes naturais.

Não foi só o negacionismo que atrapalhou. A falta de uma visão global de saúde, que perceba o meio ambiente como um todo, foi responsável pela extrema desigualdade sanitária que testemunhamos hoje. “Se no mundo científico houve mais cooperação, no plano político, dos Estados-nações, o que prevaleceu foram interesses nacionalistas, pouco preocupados com a saúde global”, diz Márcia. A falta de uma governança internacional faz com que os interesses comerciais e políticos ponham-se na frente da saúde e do interesse comum das populações.

Há, ainda, a ser investigada a ruptura no campo da medicina no Brasil, que ficou evidente com a pandemia: como foi possível um cenário em que um amplo setor dos médicos – além do próprio Conselho Federal de Medicina – defendesse tratamentos sem comprovação científica? Para Márcia, parte da explicação está na formação dos profissionais de saúde.

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