Cartelizada, insulina segue a sangrar cofres públicos

• Falta de insulina e imunoglobulina • Urge reconstruir a indústria nacional • Novos recursos para Atenção Primária • Emergência zoosanitária da gripe aviária • Superfungo em Pernambuco • Fiocruz em rede global de vigilância sanitária •

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Como publicado em recente artigo do sanitarista Reinaldo Guimarães no Outra Saúde, a insulina é um insumo cartelizado por três grandes multinacionais, que ganham rios de dinheiro com o monopólio historicamente negligenciado pelos estados nacionais. No Brasil, cerca de 14% dos adultos são diabéticos e pelo menos 1,3 milhão faz uso da substância diariamente, o que dá conta da importância em garantir seus estoques. Dessa forma, a carência de insulina gera grandes gastos ao Estado. Essa necessidade se refletiu na compra 400 milhões de reais do produto sem lote registrado, segundo matéria da Folha. A compra reforça a urgência em buscar soluções a esta dependência das farmacêuticas Novo Nordisk, Eli Lilly e Sanofi, que oligopolizam sua comercialização. Além da insulina, a imunoglobulina entrou na encomenda do governo, dois produtos altamente necessários a tratamentos cotidianos da população.

A urgência de uma indústria farmacêutica nacional

Refém de um modelo econômico que produz desindustrialização em todas as áreas, o Brasil se vê obrigado a recorrer a um poderoso cartel, que exerce esse mesmo nível de dominância mundo afora – ainda que nos EUA o presidente Biden venha tentando exercer algum controle sobre os preços da insulina. Dessa forma, ao não financiar uma indústria nacional capaz de garantir a produção de insumos básicos, o país se vê obrigado a ações de improviso, sujeitas inclusive a intempéries, como a não entrega de encomenda de medicamentos raros feita pela Saúde em 2017 e 2018, em história que envolvia a Covaxin – aquela que o ex-ministro Ricardo Barros tentou envolver em compra de vacinas de covid ao Brasil. Para Leandro Pinheiro Safatle, diretor do Departamento do Complexo Econômico Industrial no ministério da Saúde, a situação apenas reforça a necessidade de investimentos estatais na indústria farmacêutica brasileira. Já a imunoglobulina, que quase totaliza o valor da compra do ministério, será fornecida por duas empresas nacionais em parceria com laboratórios estrangeiros.

Governo lança esforço de renovação da Atenção Primária

Saem os Núcleos de Saúde da Família e entram as e-multis, codinome lançado pelo ministério da Saúde para definir as equipes multiprofissionais que trabalham na atenção básica do SUS. Em portaria publicada nesta segunda, o governo anunciou investimentos de 870 milhões de reais neste ano de 2023, que serão aplicados no fortalecimento de mais de 4 mil equipes de saúde, voltadas ao atendimento de cerca de 85 milhões de brasileiros. A iniciativa prevê a ampliação do leque de profissionais que farão parte de tais equipes e incluirá, por exemplo, cardiologistas e infectologistas. “Muitos municípios, mesmo com a desestruturação dessa estratégia no último governo, mantiveram as equipes multiprofissionais funcionando. Agora, com a retomada do investimento, essas equipes poderão ser reorganizadas”, afirmou o ministério da Saúde em nota. Trata-se de uma ambiciosa iniciativa de ampliação dos serviços de saúde à população brasileira.

Brasil decreta emergência zoossanitária por gripe aviária

Em portaria assinada por Carlos Fávaro, ministro da Agricultura e Pecuária, o Brasil oficialmente declara estado de emergência zoosanitária em função da gripe aviária. A epidemia já matou pelo menos 100 milhões de aves no inverno do Atlântico Norte e pela primeira vez se expandiu ao hemisfério sul. Por ora, são poucos casos confirmados da infecção em aves, mas a medida visa preservar a fauna e a saúde, além de evitar um alastramento que seria prejudicial ao comércio das aves. A medida também instalou um Centro de Operações de Emergência para monitorar e coordenar ações de contenção do surto. A emergência zoossanitária tem prazo inicial de 180 dias.

Superfungo suspende atendimentos no Hospital Miguel Arraes (PE)

A Candida auris, conhecida também como superfungo, começa a fazer estragos também no Brasil. Nos EUA, já causa preocupação em autoridades sanitárias do país, que o consideram uma ameaça global à saúde. Descoberto em 2009 no Japão, é imune a todos os antifúngicos já desenvolvidos e suas taxas de letalidade podem chegar a 60%. Segundo o Centro de Controle de Doenças estadunidense, foram 2.377 casos em 2021 e os estabelecimentos de saúde são o ambiente mais propício à sua disseminação. No Brasil, a C. auris já causou outros dois surtos em Pernambuco e um na Bahia, afetando principalmente imunossuprimidos ou com sistemas imunológicos já limitados por alguma pré-condição.

Fiocruz incluída em rede global de vigilância sanitária

Na véspera do início da 76ª Assembleia Mundial da Saúde, autoridades de saúde de diversos países presentes ao evento, que se realiza em Genebra até 30 de maio, lançaram a Rede Internacional de Vigilância de Patógenos, iniciativa da OMS para criar condições de reação às próximas crises sanitárias melhores que as verificadas na covid-19. “Um evento com potencial pandêmico pode surgir em áreas com menor capacidade de resposta no campo da vigilância moderna. Portanto, abordagens de vigilância multinacional integradas são centrais para minimizar o risco de disseminação de surtos. Será muito importante trabalhar em conjunto e alinhar esforços com outros atores da vigilância genômica de patógenos para acelerar o progresso e garantir que todos os países tenham sistemas de vigilância de saúde fortes e sustentáveis”, explicou Mario Moreira, presidente da Fiocruz, presente ao encontro. “Para isso, reforçamos que as estruturas e capacidades da Fiocruz estão à disposição dessa iniciativa global para promover vidas mais saudáveis e melhores em todo o mundo”, finalizou.

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