Carlos Fidelis: Saúde, eixo da reconstrução democrática

Novo presidente do Cebes fala ao Pulso, programa em vídeo de Outra Saúde. Para ele, os movimentos sociais e o avanço do SUS podem ser instrumento poderoso de isolamento da extrema-direita. Mas novo governo terá enormes desafios

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A disputa pelos rumos de uma sociedade passa pela elaboração de projetos políticos e ideológicos que reúnam forças suficientes para guiá-la até um determinado destino. Partidos, movimentos sociais, sindicatos, meios de comunicação são as instituições que concretizam os espaços onde essa luta será posta em marcha. Na saúde, não foi diferente e grupos de trabalhadores e ativistas organizados estão por trás da constituição de nosso sistema público de saúde, o maior sistema universal do mundo.

A segunda edição do programa de entrevistas Pulso, exibida em nosso canal no Youtube, trouxe ao público a história de um destes grupos. Trata-se do Centro Brasileiro de Estudos de Saúde, o Cebes, entidade fundada em meio à ditadura militar, momento nascente do movimento sanitarista brasileiro moderno. Recebemos seu presidente recém-empossado, Carlos Fidelis Ponte, historiador e mestre em Saúde Coletiva.

“O Cebes é uma instituição criada com a finalidade de promover o debate sobre a saúde em seu sentido mais amplo, é um dos berços do movimento de Reforma Sanitária que alcançou o sucesso em dois grandes momentos: na 8ª Conferência Nacional de Saúde, em 1986; e na Constituição de 1988, onde foi incluída a saúde como um dever do Estado e um direito do cidadão, ‘garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação’”, contou.

Na conversa, Fidelis aborda o SUS como um instrumento decisivo para a democratização real do Brasil. Não apenas como um direito constitucional em si, o que já é fundamental, mas como um gatilho da própria organização socioeconômica de uma economia periférica e dependente que se encontra em longa estagnação, como explica Fidelis com riqueza de detalhes no vídeo.

O novo presidente do Cebes também avança na crítica ao atrelar as ameaças à democracia que cada vez mais rondam o Ocidente com os próprios movimentos do mercado, cada vez mais autoritários, corruptores e alheios às flagrantes necessidades populares.

E, se de um lado existem entidades que pensam a saúde por um prisma progressista, também há quem a veja com os olhos da direita neoliberal. É o que visam fazer entidades como os Institutos Todos Pela Saúde e de Estudos para Políticas de Saúde, que tem Armínio Fraga entre seus fundadores.

“A direita vê a saúde como mercadoria. Uma área estritamente biomédica e de atenção quase restrita aos indivíduos atomizados. O coletivo só interessa como potencial de consumo de drogas e serviços. Para a direita o campo da saúde é um imenso mercado a ser explorado. Não vejo a direita no Brasil fortalecendo verdadeiramente um sistema público de saúde como o SUS ou adotando um conceito de saúde como o nosso”, sintetizou.

Mas em meio às elaborações sobre uma democracia a ser atingida, há a vida real e imediata. Eleito sob fortes esperanças de retomada de um projeto de bem estar social, o governo Lula e seu ministério da Saúde se veem cercado de inúmeros desafios e limites políticos. E, como debatido no Pulso, o avanço do SUS é um instrumento poderoso de isolamento da extrema-direita brasileira.

“As prioridades da nossa ministra devem ser a recuperação da capacidade de ação do ministério da Saúde em áreas cruciais como a imunização, farmácia popular, entre outros. Gostaria de chamar a atenção para aquilo que considero como uma necessidade urgente e um grande desafio, que é zerar as filas e promover um acesso universal e de qualidade aos serviços de saúde nos seus vários níveis e de forma integrada”, analisa Carlos Fidelis.

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