Cada caso é um caso

Autoridade dos EUA retira obrigatoriedade de máscaras para vacinados em quase todos os ambientes – mas segurança dessa medida não é igual em todo o mundo

Imagem: Jon Fox / Quanta Magazine
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O Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos (CDC) anunciou ontem uma recomendação polêmica: que, em todo o país, pessoas totalmente vacinadas contra a covid-19 vão poder abandonar as máscaras e o distanciamento social na maior parte dos espaços, incluindo em vários tipos de ambientes fechados. Os cuidados ainda serão necessários nos que oferecem maior risco, como unidades de saúde e transporte público.

Na teoria, a mudança faz sentido. Os imunizantes utilizados por lá se mostraram muito efetivos para reduzir doença sintomática e mesmo assintomática, hospitalizações e mortes, e um terço da população já tomou as duas doses (ou usou a vacina da Janssen, de dose única). Essas vacinas não inibem totalmente a transmissão do vírus, mas certamente promovem uma redução, embora ela ainda não tenha sido totalmente estabelecida. A curva de novas infecções diárias caiu de forma vertiginosa desde o início do ano – a queda foi de um terço nas últimas duas semanas – indicando uma circulação bem menor do vírus do que no início da vacinação. Nessas condições, uma pessoa totalmente vacinada tem um risco muito, muito baixo de adoecer gravemente ou morrer.

Agora que o ritmo da imunização no país diminuiu – em parte, por falta de interessados –, a intenção por trás da mensagem pode ser a de oferecer um incentivo para ampliar o alcance da campanha. Afinal, todos querem  voltar à vida normal. Não é simples comunicar aos hesitantes que sim, é importante eles se vacinarem mas, ao mesmo tempo, precisam continuar mantendo os mesmos cuidados em seguida. 

Mas os efeitos da notícia podem ser complicados, tanto nos EUA como fora do país. Lá, haverá um óbvio problema para garantir a execução das novas diretrizes. Como fiscalizar os ambientes para evitar que não-vacinados tirem as máscaras também? E as crianças mais novas, para as quais não há nenhum imunizante autorizado – ficarão expostas a eventuais fraudadores da recomendação? Além disso, se tratou de uma indicação para todo o país, independentemente da taxa de vacinados e da circulação do vírus em cada lugar. E os riscos não são uniformes.

Esse último ponto é o que mais interessa para quem está do lado de fora, em países com o vírus ainda em patamares elevados e com uma parcela pequena da população totalmente vacinada – como o Brasil. Será que as manchetes sobre o movimento dos Estados Unidos podem provocar uma falsa sensação de segurança em quem já tomou a injeção por aqui?

Já chamamos a atenção nesta newsletter sobre a necessidade de informar melhor quanto aos riscos pós-vacinação. Qualquer estudo sobre a eficácia das vacinas compara quem tomou com quem não tomou, em um determinado ambiente: é um risco em comparação a outro. Quando a circulação do vírus é muito baixa (o que acontece quando se vacina muita gente e/ou quando boas medidas de controle são tomadas), já cai o risco de os não-vacinados se infectarem. Assim, em comparação, o risco dos vacinados é extremamente baixo  e pode tender a zero. Já onde o vírus está descontrolado, o risco dos não-vacinados é altíssimo. Nesse caso, mesmo que o risco de os imunizados adoecerem diminua muito, ele ainda é bem diferente de zero. 

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