O retrato e a tendência da pandemia no Brasil

Casos, internações e mortes caem na comparação com o tenebroso mês de abril, mas especialistas alertam para disparidades regionais e estabilização em patamar alto

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As mortes diárias por covid-19 no Brasil continuam diminuindo. Ontem foram 1.018, segundo o consórcio de imprensa. E, embora a média móvel esteja há 55 dias acima de dois mil, ela caiu 31% em um mês: ficou ontem em 2.087, contra 3.025 no dia 10 de abril.

O desenho da curva brasileira agora é bem diferente da do ano passado, quando houve uma estabilização em cerca de mil mortes diárias durante três meses. Após um tenebroso abril, o movimento é de inequívoca queda.

O mesmo vale para as internações em UTI. O Observatório Covid-19 da Fiocruz, que em março mostrava um mapa do Brasil quase todo vermelho, indicando alerta crítico, agora traz uma imagem menos dura, com oito estados no alerta intermediário.

Mesmo assim, ainda são nove os estados com mais de 90% das vagas de UTI para covid-19 ocupadas. E só Roraima e Paraíba estão fora da zona de alerta, com menos de 60% de ocupação. 

Mas o número de mortes e mesmo o de internações, sabemos, são um retrato tardio da incidência do coronavírus. E os especialistas estão preocupados com os locais onde os casos já pararam de cair ou mesmo voltaram a subir. Como Manaus: a ocorrência de SRAG (síndrome respiratória aguda grave) voltou a crescer.

É uma retomada ainda tênue, como nota a matéria d’O Globo – se havia por lá 67 casos por 100 mil habitantes no auge da crise, depois eles chegaram a ficar abaixo de 10 e subiram para 11 no fim de abril.

Só que a característica de toda curva exponencial é ser suave na base, e esse número pode tanto se manter estável como começar a subir rapidamente de novo. 

Para Jesem Orellana, epidemiologista da Fiocruz-Amazonas, o momento atual pode se assemelhar ao que a cidade viveu em setembro, quando o crescimento ainda era sutil e não se fez nada para contê-lo.

Na região Norte como um todo, o número de casos registrados de covid-19 vem caindo nos últimos 20 dias, mas tem havido desaceleração na queda, como observa Isaac Schrarstzhaupt, coordenador na Rede Análise Covid-19. Essa não é a região que mais o preocupa, porém. 

No Sul, essa reversão de tendência (a queda que começa a se converter em alta) desponta num momento em que a redução dos casos ainda não havia sido suficiente para acabar com a sobrecarga dos hospitais.

No Nordeste, alguns estados mostram tendência de aumento, como a Bahia. No Sudeste os novos casos praticamente deixaram de cair; a estagnação vem em patamares elevados, com muitos pacientes internados; e, ao mesmo tempo, a mobilidade da população começou a subir rapidamente.

Segundo a Fiocruz, apesar da estabilidade ou redução em muitos estados, a incidência de SRAG ainda é muito alta em todo o país. Em 16 estados, ela é maior do que 10 casos para cada 100 mil habitantes.

Em tempo: 439 dias depois da confirmação do primeiro caso no Brasil, o governo federal criou uma secretaria especial no Ministério da Saúde para lidar com a pandemia

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