Coronavírus: Brasil chega a meio milhão de casos conhecidos

Dados do próprio governo indicam que número de mortes pode ser 140% maior que o oficial

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Ontem, o Brasil alcançou oficialmente a marca do meio milhão de infecções pelo novo coronavírus, somando 514.849. Sabe quando havíamos ultrapassado a marca dos 400 mil? Quarta-feira passada… A velocidade com que os casos se empilham, até na nossa muitíssimo subnotificada realidade, assusta. No domingo, registramos 29.314 novos casos. No sábado, foram 33.274 – recorde absoluto. Com isso, já estamos muito à frente da Rússia, terceiro país em número de infecções (405 mil), no tétrico ranking da covid-19. 

Em número de mortes, durante o fim de semana ultrapassamos a França e passamos a ocupar a quarta posição mundial, com 29.314 óbitos registrados oficialmente. Uma reportagem da Folha, contudo, revela com dados do próprio Ministério da Saúde como esses números divulgados podem estar distantes da verdade. 

Os repórteres revisaram os registros de mortes por síndrome respiratória aguda grave já consolidados, o que colocou como linha de corte a data de 2 de maio. A partir daí, aplicaram a metodologia do CDC, o centro de controle de doenças dos Estados Unidos, e olharam para as médias históricas de mortes por essa causa nos anos anteriores. Tudo o que extrapolou essa média foi incluído como óbitos de covid. Além disso, de lá para cá, 3.081 mortes antigas foram confirmadas. Somando os três fatores, teríamos até 2 de maio não 6.724 mortes, conforme o anúncio oficial naquela data, mas 16.144 óbitos – 140% a mais.  A contagem foi detalhada estado por estado. Minas Gerais seria a unidade da federação com maior subnotificação de óbitos. Ao invés de 88 mortes até o dia 2 de maio, deveria ter registrado 659 – uma diferença de 649%. 

Se olhar para o retrovisor é desalentador, imaginar o que vai acontecer nas próximas semanas nos leva para um lugar sombrio. O recorde de novos casos vai nos levar a recordes de novas mortes. Mas a despeito de tantos números preocupantes, a flexibilização do isolamento social está a toda. O Rio de Janeiro hoje começa a discutir a reabertura gradual com setores econômicos. Segundo o colunista Bernardo Mello Franco, o índice de contágio está em 2,3. “Na Europa, os países que relaxaram o distanciamento social já haviam registrado quedas expressivas na taxa de contágio. Para os cientistas, o índice de transmissão deve cair abaixo de 1, o que significa que dez pessoas com o vírus podem infectar outras dez”, escreveu. 

Marco Aurélio Safadi, infectologista da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo fez um alerta parecido. “Uma das condições inequívocas para que se faça o relaxamento é que haja um cenário consistente de redução de casos e de mortes. E quando eu falo ‘consistente’, não são dois ou três dias, que podem ser fruto do feriado ou fim de semana. São pelo menos de dez a 15 dias de queda de casos. E os números não estão mostrando isso”, explicou ao Estadão.

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